Apenas um ano e meio após saborear a consagração, o vereador mais votado de todos os tempos em Lages, na Serra Catarinense, amarga a decepção. Marcius Machado, 35, teve o mandato cassado quarta-feira à noite pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por infidelidade partidária. Ele alega perseguição política, anuncia que vai recorrer e mantém a esperança de reverter a situação, mas admite que sua história no Legislativo lageano pode estar perto do fim.
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Com uma carreira construída na militância do movimento estudantil, Marcius vinha numa crescente política nos últimos anos. Em 2004, na primeira campanha que disputou para vereador, pelo PPS, foi o 29º mais votado entre 117 candidatos, obteve 1.033 votos e ficou como primeiro suplente. Naquela eleição, Arnaldo Moraes (PFL) havia se consagrado como o campeão das urnas em toda a história de Lages, com 3.526 votos.
Em 2008, também pelo PPS, Marcius se candidatou pela segunda vez, foi o sétimo mais votado e eleito com 2.057 votos, praticamente o dobro em relação a 2004. Já em 2012, superou com folga não só a ele próprio, mas a todos os outros, e foi reeleito ao receber a maior votação da história de Lages, com 3.808 votos, quase duas vezes o total obtido em 2008.
Em setembro do ano passado, alegando perseguição política e falta de espaço para concorrer a deputado estadual pelo PPS, Marcius solicitou sua desfiliação ao vice-prefeito Toni Duarte, presidente municipal do partido, a fim de ingressar no PR, sigla com a qual diz ter se identificado ideologicamente e na qual teria mais oportunidades.
Ministério Público não vê grave discriminação pessoal contra Marcius
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Mesmo não concordando com as teses de perseguição política e falta de espaço no PPS, Toni Duarte aceitou o pedido, mas o Ministério Público não acatou os argumentos de Marcius e recomendou a sua cassação.
Em parecer emitido no dia 11 de novembro, o procurador regional eleitoral André Stefani Bertuol considerou improcedente a justificativa de Marcius Machado de que sofria grave discriminação pessoal dentro do PPS. Para o promotor, o fato de Marcius ter sido eleito pelo PPS e, inclusive, ter conquistado renome político enquanto membro do partido, mostra que ele tinha, sim, prestígio dentro da sigla.
André Bertuol entendeu que também não caracteriza discriminação o fato de o PPS não ter garantido a Marcius que ele seria o candidato do partido à Assembleia Legislativa na eleição deste ano, uma vez que essa decisão não depende apenas do diretório municipal e, além disso, aquela época – setembro de 2013 – ainda não era o momento próprio para tanto.
E como Marcius ingressou no PR tão logo obteve as garantias de que seria o candidato desta sigla a deputado, o procurador eleitoral entendeu não haver justa causa para a troca de partido e pediu à Justiça eleitoral a cassação do mandato de vereador por infidelidade partidária. A ação foi julgada quarta-feira à noite no TRE, em Florianópolis, e o vereador perdeu o mandato de forma unânime, por 7 votos a 0.
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– A verdade foi ofuscada aos desembargadores. Foi um golpe para deslegitimar uma liderança em ascensão. É a força oculta dos partidos, mas meu eleitorado é consciente, e a massa crítica reconhece que fui vítima -, diz Marcius.
Vereador recorrerá para não perder cargo e quer ser deputado ou prefeito
Marcius recorrerá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília, onde espera obter um efeito suspensivo da decisão tomada em Florianópolis para continuar no cargo. Também ingressará com um recurso na própria Câmara de Vereadores de Lages alegando que a mesa diretora é quem deve declarar a sua cassação ou não, mesmo com o caso já julgado pelo TRE.
Caso não consiga o efeito suspensivo no TSE e o recurso na Câmara não seja aceito, Marcius deve perder o mandato em até 10 dias, sendo substituído pelo suplente Rodrigo Silva (DEM). Marcius garante que, independente do que acontecer, jamais voltará a concorrer ao cargo de vereador em Lages, até porque sua intenção era exercer apenas dois mandatos, e ele já está no segundo.
Marcius Machado deve disputar a eleição de outubro como candidato a deputado estadual pelo PR e, caso não seja eleito, já adianta que tentará ser prefeito de Lages no pleito de 2016.
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