Quem assiste aos jogos do Shakhtar Donetsk estranha ver Fred, que faz falta ao Inter; Fernando, que faz falta ao Grêmio; e Bernard, idem em relação ao Atlético-MG, pacientes no banco de reservas. Mas é assim no clube da Ucrânia que pertence a um bilionário da indústria do aço e do carvão e cujo técnico consegue a façanha de transformar jogadores brasileiros em seres com disciplina tática. São 12 brazucas no grupo e justamente no meio do Leste Europeu, a caminho do próximo inverno e seus 10ºC negativos no gramado tomado por neve.

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É quase um consulado brasileiro na antiga terra dos cossacos. Na cidade de Donetsk, a oeste da Ucrânia, de 10ºC negativos no inverno ameno, mas de ares mediterrâneos pela vizinhança com o Mar Azov, 12 brazucas do Shakhtar vivem no clube mais verde-amarelo além Brasil.

É curioso que um dos assuntos mais falados no centro técnico de um clube da Europa Oriental seja o churrasco do fim de semana e o estoque de feijão.

Outra curiosidade: quem contratou Fred, Fernando, Douglas Costa, Taison, Luiz Adriano, Bernard, Alex Teixeira, Ilsinho, Wellington Nem, Eduardo Silva, Maicon e Ismaily é um dirigente que desfruta a 47ª posição entre os homens mais ricos do mundo, segundo avaliação da Revista Forbes. Empresário do aço e carvão, dono de uma fortuna de US$ 15,4 bilhões, Rinat Akhmetov, 46 anos, transformou o Shakhtar nos moldes de suas empresas lucrativas e colocou o clube no convívio dos grandes da Liga dos Campeões.

O estádio de elite Donbass Arena, de 53 mil lugares, é considerado o melhor do Leste Europeu, o centro técnico lembra os do Barcelona, Real Madrid e Manchester United e o clube é hoje símbolo de prosperidade da Ucrânia pós dissolução da União Soviética.

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– É estrutura de cinema – contou o volante Fernando.

Não à toa o dinheiro de Akhmetov tem conquistado brasileiros, uma porta ao mercado europeu. Os pioneiros Fernandinho e Willian hoje estão no Manchester City e Chelsea. Luiz Adriano também abriu caminho em 2007, vendido pelo Inter por US$ 3 milhões.

Mas como os brazucas chegam ao clube? Por intermédio de uma rede de empresários e olheiros ardilmente montada pelo presidente rico. As seleções sub-20 são a base de tudo. No Brasil, redes de observadores remetem a Donetsk relatórios frequentes de jovens destaques, desde o percentual de gordura até a vida fora de campo. As propostas são encaminhadas de acordo com as necessidades do técnico Mircea Lucescu.

– O representante no Brasil é o Frank Henouda. Ele indica nomes diretamente ao presidente – explicou o ex-gremista Fernando.

É claro que o bilionário da Forbes, hoje 15 vezes mais rico do que o brasileiro Eike Batista, só abre os cofres após a opinião de Lucescu, que, parece, gostaria ter nascido brasileiro.

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