Sim, é verdade, o brasileiro ainda não sabe poupar. Mas é mito a versão de que consumidores das classes sociais mais baixas são os que mais pagam as contas em dia.

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Estas são algumas constatações da primeira pesquisa nacional sobre o comportamento do brasileiro diante da expansão da oferta de empréstimos. O levantamento é da Boa Vista Serviços, administradora do SCPC.

Nos últimos cinco anos, 35 milhões de novos consumidores tiveram acesso ao crédito no país. E nos últimos 10, a oferta de crédito pulou de 24% do PIB para 51%. Enquanto isso, o Brasil vive um processo contínuo de queda nas taxas de juros, de alongamento dos prazos e de melhora considerável nas condições de emprego.

A pesquisa Mercados – Endividamento e Inadimplência entrevistou 1,3 mil pessoas em todos os estados do país, em agosto desse ano, para entender se o brasileiro aprendeu a utilizar o crédito e a se planejar.

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Entre os entrevistados, 19% disseram estar com o nome sujo no SPC. A Região Sul foi a que registrou o menor índice nesse quesito: 15%.

Derrubando lendas

1. Consumidores das classes sociais mais baixas pagam suas contas em dia

MITO

O diretor de Inovação e Sustentabilidade da Boa Vista, Fernando Consenza, lembra que muitas redes varejistas desenharam suas estratégias com base nessa afirmação e abriram lojas em bairros de classe baixa. Mas a pesquisa comprova que a máxima é um mito, mostrando uma concentração da inadimplência nas classes C, D e E. Entre os brasileiros inadimplentes, 21% estão na classe C, 23% nas classes D e E, 13% na classe B e apenas 5% na A. Consenza explica que, com a mudança do cenário econômico, o consumidor das classes mais baixas deixou de depender dos pagamentos à vista. Agora ele tem acesso ao crédito e maior possibilidade de se endividar e, então, de se tornar inadimplente.

2. A renda das famílias das classes mais baixas é volátil

MITO

Antes do aquecimento da economia, grande parte da renda das classes C, D e E vinha do trabalho informal. Agora, como explica o diretor, a taxa de desemprego abaixo dos 5% e a formalização do trabalho significaram previsibilidade na renda desses consumidores. Pelo contrário, hoje a renda é mais variável nas classes altas do que nas baixas _ 80% dos entrevistados da classe C e 90% dos da D e E responderam que a sua renda varia muito pouco.

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3. Consumidor de baixa renda não poupa

VERDADE

E o principal motivo apresentado é que não sobra dinheiro para poupar ao final do mês. Por outro lado, Consenza explica que esta apenas é a relação que o brasileiro faz, a de que poupança é aquilo que sobra. Segundo o diretor, poupar é uma intenção. Mesmo nas rendas mais baixas, é possível e necessário fazer uma pequena poupança. É na intenção de poupar que o quadro muda. Os consumidores das rendas mais baixas são os que mais poupariam, caso sobrasse dinheiro.

4. Antes de fazer um financiamento, o consumidor analisa se as parcelas cabem no bolso e não o valor dos juros

VERDADE

E a prática mais comum entre os que têm as menores rendas. O diretor da Boa Vista explica que até para economistas é difícil entender o que é juro e o que não é em uma parcela. Para ele, só com o incentivo á educação financeira é que as pessoas vão começar a fazer essa distinção e a inverter os critérios de análise.

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5. O consumidor de baixa renda não faz planejamento financeiro

VERDADE

De fato, quanto menor é a renda, maior é a afirmação para esse pergunta. Entre os entrevistados que responderam fazer algum planejamento, 50% são da classe D e 58% da classe E. Apesar de o índice não ter sido baixo, os pesquisadores decidiram classificar a afirmação como verdade, já que “algum” planejamento não indica um planejamento financeiro propriamente. Também, 90% dos entrevistados responderam que aprenderam a lidar com dinheiro sozinhos ou com os pais, que também aprenderam sozinhos. O número mostra que não há educação financeira no Brasil e que, de maneira geral, as famílias não fazem um planejamento formal, que vá além dos ganhos e gastos.

6. A mulheres estão à frente da organização do orçamento familiar

MITO

A pesquisa identificou que existe um equilíbrio entre homens e mulheres, que, segundo Consenza, é reflexo da participação da mulher no mercado de trabalho. Hoje, ela não fica mais em casa. Ela trabalha fora e divide as responsabilidades da organização da casa com o marido. Já sobre a provisão de renda para a família, o homem ainda é o maior responsável.

7. O nome é o maior patrimônio

VERDADE

96% dos consumidores consultados concordaram com a afirmação. O diretor da Boa Vista explica que os brasileiros têm a percepção de que crédito é bom, de que ele realiza sonhos. Eles, então, não querem ter o nome sujo na praça e ficar à margem da oferta de crédito. Consenza afirma, ainda, que há uma demanda grande entre os brasileiros de renegociação das dívidas e também de aprender um comportamento diferente daquele que os levaram à inadimplência.

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8. O consumidor não se protege contra fraudes

VERDADE

A afirmação é verdadeira, embora contradiga a anterior, segundo Consenza, já que a clonagem de cartões e o financiamento em nome de terceiros podem sujar o nome do consumidor. 50% dos entrevistados responderam que teriam algum serviço de proteção à sua conta, o que é considerado baixo diante do número de pessoas que consideram o nome o maior patrimônio. Nas classes D e E, 22% ainda fazem empréstimo do nome para concessão de crédito.