Durante a tensa semana que vivem os venezuelanos sob incertezas acerca da saúde do presidente Hugo Chávez e na iminência de uma posse que não se sabe se ocorrerá, o governo, na noite de quinta-feira, foi eloquente como jamais havia sido. Em cadeia de rádio e TV, relatou que o líder está acometido de insuficiência respiratória devido a “severa infecção pulmonar”.
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O recado está posto. Descortina-se um futuro sem Chávez.
E os sinais também são claros. A Venezuela se prepara para a morte do seu caudilho. O governo trocou a estratégia de dar-lhe um lustro de imortalidade messiânica. Passou a tratá-lo como um cidadão comum que atravessa as dificuldades de uma quarta cirurgia contra o câncer em um ano e meio, com as complicações próprias de um pós-operatório delicado.
Também se tornou público nos últimos dias um texto mais inquietante que as escassas informações governamentais emitidas até o boletim sobre a infecção pulmonar. O site onde o texto foi publicado e a autora que o assina revestem de credibilidade quase oficial o seu conteúdo. Na página da Telesur (a emissora de TV chavista por definição), a jornalista e professora universitária Mercedes Chacín diz: “Seja logo ou em breve, o presidente Chávez já não estará entre nós”.
Continua Mercedes, que elaborou o artigo para a virada do ano: “O pouco que sabemos é que está mal, e, se está mal, devemos ?estar preparados para o pior?, como diz o lugar comum. Nos toca trabalhar duro desde nossos espaços, que são milhares e que se multiplicaram graças ao fato de o termos eleito e o apoiado uma e outra vez.”
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Indefinições sobre a posse
A posse presidencial está marcada para a próxima quinta-feira, dia 10. Na hipótese cada vez mais real de ele estar impossibilitado de assumir o quarto mandato, a Constituição reza que deve haver nova eleição em 30 dias. Interinamente o poder deve ficar sob o comando do presidente da Assembleia Nacional Venezuelana (o parlamento local) – a tendência é de que Diosdado Cabello seja reeleito neste sábado por um legislativo de maioria chavista.
Aumenta, porém, a pressão governista para que haja um adiamento da posse, esperando-se assim que Chávez se recupere – em uma ausência provisória. Aliás, a ideia é aceita até pelo principal nome da oposição, o governador recém-reeleito do Estado de Miranda, Henrique Capriles, derrotado por Chávez no pleito presidencial de outubro (mas que angariou nada desprezíveis 45% dos votos, mesmo com pouco espaço nos meios eletrônicos) e virtual candidato em uma hipotética nova eleição. Procurando passar a ideia de ponderação e humanismo e jogando para o futuro de um país que pode vir a ter um governismo dividido, Capriles sugere a espera de 180 dias para recuperação do presidente (é o prazo legal previsto para a ausência provisória).
– Se trabalhamos juntos, é mais fácil conseguirmos, não devemos cair em rumores nem ódios, devemos amar o próximo. Gastemos energia em construir, não em destruir – disse Capriles, destoando de oposicionistas que até já cogitam de recorrer a tribunais internacionais caso a cerimônia de posse seja adiada.