As eleições presidenciais na Venezuela serão realizadas em 20 de maio, e não mais em 22 de abril, em busca de legitimar um questionado processo no qual o presidente Nicolás Maduro tentará a reeleição.
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O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela oposição de servir a Maduro, anunciou a nova data pouco depois da assinatura de um “acordo sobre garantias eleitorais” entre o governo e o opositor Henri Falcón, dissidente chavista.
Durante entrevista coletiva, a presidente do CNE, Tibisay Lucena, detalhou que a data foi definida “em cumprimento” do acordo, depois que a governista Assembleia Constituinte aprovou o adiamento por decreto.
Falcón, um militar reformado de 56 anos, se inscreveu na terça-feira, contrariando a decisão da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), da qual faz parte, de boicotar as eleições.
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Pouco antes do anúncio do acordo, a MUD, que sofre o pior racha desde a sua criação, em 2008, pediu a Falcón para retirar sua candidatura, ao acusá-lo de fazer o “jogo” de Maduro em sua “aspiração totalitária”.
Até o momento a MUD não reagiu à nova data.
Apoiando a MUD, governos de América Latina, União Europeia e Estados Unidos rechaçaram as eleições de abril e exigiam seu adiamento e garantias para reconhecê-las.
“Querem dar uma aparência de legitimidade a esta votação, especialmente ante a comunidade internacional”, declarou à AFP a cientista política Francine Jácome.
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– ‘Eleições portáteis’ –
Falcón havia revelado anteriormente negociações privadas entre o governo e alguns opositores sobre a data e as condições das eleições.
“Estão avalizando uma eleição feita sob medida para Maduro. Continuam sendo eleições sem a oposição competitiva, isso não muda. É uma montagem para que pareçam eleições democráticas”, assegurou à AFP o cientista político Luis Salamanca.
As presidenciais serão realizadas simultaneamente com as votações de conselhos legislativos locais. As eleições do Parlamento nacional, único poder controlado pela MUD, serão adiantadas – deveriam ocorrer em 2020 -, mas ainda não têm data.
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“É como se as eleições fossem portáteis, coloco-as onde eu quero, quando e como eu quero, segundo convém ao governo”, acrescentou Salamanca.
Segundo o acordo, será pedido ao secretário-geral da ONU, António Guterres, uma missão de observação eleitoral, assim como de outras instâncias internacionais.
Também pactaram realizar auditorias, ampliar até 10 de março o prazo de registro para os migrantes venezuelanos e “equidade no acesso aos meios públicos e privados” durante a campanha. “Tratam-se de elementos para maquiar”, acrescentou Félix Seijas, diretor da pesquisadora Delphos.
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“Estamos em um ato de ratificação do espírito democrático (…) assinando com a oposição que decidiu participar, como corresponde em uma democracia”, disse o chefe de campanha de Maduro, Jorge Rodríguez.
Para Jácome, o “acordo complica ainda mais a estratégia (de boicote) da oposição”.
– Candidato ‘sob medida’ –
Falcón não conseguiu dissipar as dúvidas de muitos opositores. Sua candidatura desatou fortes críticas dos que afirmam que colabora com o governo para legitimar uma reeleição quase certa de Maduro.
“Fica comprovado que fabricaram o candidato da oposição sob medida”, opinou Jácome.
Henri Falcón, que segundo o privado Instituto de Análise de Dados tem 24% dos votos contra 18% de Maduro, assegura que pode vencer, pois o governo tem 75% de rejeição pela crise econômica.
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Mas os analistas assinalam que é quase impossível que derrote o maquinário e o controle social e institucional do governo, além de estar brigado com a MUD.
“Para Falcón representa uma tentativa de mostrar para a população que conseguiu uma melhoria das garantias eleitorais, e preparar o terreno para convencer uma parte dos que hoje se negam a votar”, estimou Seijas.
O CNE postergou desta quinta para sexta-feira o encerramento da inscrição das candidaturas. Até agora se inscreveram Maduro, Falcón e outros quatro candidatos praticamente desconhecidos.
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* AFP