O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, será o anfitrião da Cúpula do Movimento dos Países Não-alinhados (NOAL) em plena ofensiva da oposição para tirá-lo do poder e uma crescente pressão internacional ante a crise política e econômica do país.

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Na XVII Cúpula do NOAL, que acontece no sábado e domingo na turística Isla de Margarita, Maduro receberá o presidente iraniano Hassan Rohani, cujo país preside o turno de três anos deste movimento que reúne 120 Estados, criado há mais de meio século durante a Guerra Fria.

A reunião em Porlamar, principal cidade de Margarita, é marcada pela forte polarização do país petroleiro, onde a oposição urge que o referendo ocorra ainda este ano, apesar de o governo acusá-la de planejar um golpe com a ajuda dos Estados Unidos.

“Vou aproveitar a presidência do Movimento para continuar denunciando essa direita pró-imperialista, inclinada aos interesses imperialistas”, assegurou Maduro, ao chamar a reunião de “histórica”, que nesta quinta e na sexta-feira reunirá os chanceleres.

Durante a reunião de chanceleres da NOAL, nesta quinta,

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a chanceler venezuelana Delcy Rodríguez classificou como “infame” um decreto dos Estados Unidos, emitido em 2015 e renovado este ano, que considera seu país como “uma ameaça incomum e extraordinárias para a segurança de Washington”.

O Irã denunciou também que a discriminação e as invasões incentivam o extremismo.

“As ditaduras, a corrupção, a pobreza, a discriminação e a falta de oportunidade são o terreno propício para o extremismo”, declarou o chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif, cujo país cederá a presidência pro tempore do grupo à Venezuela.

O ministro acrescentou, segundo a tradução de uma intérprete, que esses fatores se somam “à intervenção, invasão e ocupação”, e citou exemplos como o Iraque, a Síria e a Palestina.

A cúpula de chefes da NOAL – que reúne 120 países – acontecerá no sábado e domingo.

A cúpula acontece sob tensão diante do esperado anúncio que deverá ser feito na sexta-feira pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) sobre a data de recolhimento das quatro milhões de assinaturas necessárias para pedir o referendo, e uma manifestação convocada para o mesmo dia pela opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) em apoio à consulta, que é vista como única saída da crise.

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“O que Maduro quer? Ele faz acreditar que aqui não está acontecendo nada. Não quer perder mais sua legitimidade internacional porque a nacional já perdeu faz tempo. O país não está em condições de fazer esta cúpula. O tema de insegurança e a escassez fazem com que ela seja de baixo nível”, assegurou à AFP a analista Milagros Betancourt.

O governo ainda não confirmou quem irá participar, mas assegurou que a Cúpula reafirma a “liderança internacional” da Venezuela. Entretanto, na véspera da reunião, recebeu um duro golpe.

Os fundadores do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) rejeitaram que a Venezuela comande o bloco – como deveria ser feito na presidência rotativa – e decidiram assumir de maneira conjunta. O grupo alega que o país não ratificou normas econômicas e políticas do bloco, incluindo as relacionadas aos direitos humanos.

“Uma foto muito cara”

O governo, que não sabia da decisão do Mercosul, sustenta que a prova do reconhecimento internacional é que a Venezuela preside quatro organismos internacionais, entre eles a União das Nações Sul-americanas (Unasul), que se juntará ao NOAL.

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“Maduro busca criar a falsa impressão de que a Venezuela ainda conta com o apoio internacional e que é um ator influente nestes fóruns, quando não é desde a morte de Hugo Chávez (2013) e da queda do preço do petróleo”, afirmou à AFP Diego Moya-Ocampos, analista do IHS Markit Country Risk, com sede em Londres.

O governo pretende que a Cúpula rejeite ações “intervencionistas” dos Estados Unidos na América Latina, sem descartar um impulso a sua gestão através de um acordo entre os países petroleiros para estabilizar os preços do petróleo.

“O que ele está realmente buscando é uma foto muito cara que tenta ocultar a grave crise interna e o isolamento internacional”, assegurou o analista Kenneth Ramírez, da Universidade Central da Venezuela.

Atingido pela forte queda do preço do petróleo, o país com as maiores reservas petroleiras do mundo sofre uma severa crise econômica que disparou a impopularidade de Maduro: a falta de alimentos e remédios é de 80% e a inflação chegará aos 720% este ano, segundo o FMI.

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Dirigentes opositores acusam o governo de gastar 120 milhões de dólares em uma cúpula para “livrar a cara” e “maquiar” a realidade. “Eles estão montando um show que é uma piada com os venezuelanos que passam fome”, afirmou o ex-candidato à Presidência Henrique Capriles.

Henry Ramos Allup, presidente do Parlamento de maioria opositora, denunciou que o governo proibiu a venda de entradas aos deputados opositores que pretendiam participar nesta quinta-feira em Margarita.

Vozes e panelaços

Nesse contexto, Isla de Margarita se tornou o foco do conflito. Cerca de 30 pessoas foram detidas há duas semanas nos arredores de Porlamar, após vizinhos protestarem em um panelaço enquanto Maduro percorria a comunidade de Villa Rosa.

Todos foram liberadas pouco depois, excetuando-se o jornalista chileno-venezuelano Braulio Jatar, o que desatou uma forte troca de acusações entre a Venezuela e o Chile. A MUD assegura que o governo ordenou a prisão de líderes vizinhos à ilha.

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Há uma semana, Capriles denunciou que foi “cercado” durante quatro horas por “grupos armados” vinculados ao governo no aeroporto de Margarita, feito que o chavismo negou.

Para preservar a segurança, o governo disponibilizou no estado Nueva Esparta, onde se localiza a ilha, 14.000 efetivos policiais e militares, e proibiu os voos particulares.

* AFP