Vitorioso no primeiro turno das eleições deste domingo, Vladimir Putin voltará a ser presidente da Rússia após um “afastamento” de quatro anos, período em que ocupou o cargo de primeiro-ministro, mas desta vez terá que fazer frente a uma contestação política sem precedentes e ao estancamento econômico que ameaça o país, afirmam especialistas.
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A priori, tudo vai bem para o homem forte da Rússia: eleito no primeiro turno com mais de 60% dos votos – segundo resultados parciais com mais de 80% das urnas apuradas – para um mandato de seis anos, que poderá renovar uma segunda vez, caso vença as próximas eleições, teoricamente ele poderá se manter no Kremlin até 2024, tornando-se o político russo com mais tempo no poder desde de Stalin (ditador que governou a União Soviética de 1924 a 1953.
No entanto, segundo analistas, a permanência de Putin no poder desta vez é ameaçada pela estagnação da economia, como a que a União Soviética sofreu na época de Leonid Brejnev.
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– Não é rumo à estabilidade para onde nos dirigimos, mas para o estancamento: a economia não se desenvolve e o sistema não é eficaz – avalia o cientista político Alexander Konovalov, do Instituto de Estudos Estratégicos de Moscou.
A opinião é compartilhada por Mark Urnov, da Escola Superior de Economia.
– O sistema precisa de reformas profundas, políticas e econômicas, mas não há nem os recursos financeiros, nem os recursos políticos para fazê-lo – afirma.
Urnov dá como exemplo a luta contra a corrupção, uma praga denunciada tanto por Putin quanto pela oposição, mas, segundo o analista, o futuro presidente não pode lutar contra a corrupção.
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– Isto o obrigaria a agir contra seu entorno. E como sua popularidade cai, não pode fazer guerra em seu próprio grupo – argumenta Urnov.
Konovalov assegura que um dos principais desafios que Putin enfrenta é que tudo está relacionado com o preço do petróleo. Para o cientista político, se o preço do barril for inferior a US$ 130, será impossível para o presidente cumprir suas promessas e equilibrar o orçamento. Em caso de queda do preço do petróleo, não se pode excluir que haja agitação política e violência.
Em várias ocasiões nos últimos três meses, dezenas de milhares de pessoas se manifestaram em Moscou e em outras cidades do país para protestar contra a fraude registrada nas legislativas de dezembro, nas quais venceu o partido no poder. Estas manifestações sempre foram pacíficas até o momento e não foram constatados atos de violência por parte dos opositores. A decepção do povo russo aumentará após o pleito presidencial e a contestação crescerá, segundo Konovalov, que adverte para o risco de radicalização da situação.
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– Pode-se temer uma radicalização, não de parte da oposição, mas de parte da elite que rodeia Putin, que está nervosa – assegura Urnov.
Nas últimas semanas, os cientistas políticos têm aumentado as análises sobre a possível evolução do regime, após o retorno de Putin ao Kremlin, sem chegar a entrar em acordo: alguns preveem uma certa abertura para a oposição, outros um endurecimento do poder frente aos opositores.