Com uma folha salarial de R$ 130 mil para o Gauchão 2010, o maior desafio do Caxias é superar o orçamento baixo com um time competitivo. E para isso há uma estratégia em andamento no Centenário: apostar no talento de jovens jogadores que ainda buscam um lugar ao sol. Uma tarefa para Julinho Camargo, 38 anos, técnico com forte identificação com categorias de base e multicampeão com a dupla Gre-Nal nesse segmento.
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Julinho tem o Caxias como o seu maior desafio na carreira. Na entrevista a seguir, o treinador grená revela suas ideias sobre montagem de grupo, formações táticas, aproveitamento de atletas da base, perfil de profissionais e outras questões.
Pioneiro: Quais são as tuas principais ideias sobre a montagem da equipe do Caxias para 2010? De onde tu partes?
Julinho Camargo: Parto, primeiro, de uma coluna forte. Acredito muito em ter um bom goleiro, um bom zagueiro, um bom meio-campista e um bom centroavante. Acho importante ter essa espinha dorsal. Gosto de ter bons jogadores, uma equipe que saiba jogar e que seja competitiva. É isso que faz um time forte.
Pioneiro: Qual é o esquema de jogo que tu costumas usar? Há variações de esquemas conforme os adversários?
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Julinho: Acho importante que a nossa equipe tenha uma forma de jogar e que ela se sobreponha ao adversário. Mas não tanto ao céu e nem tanto à terra. Eu me preocupo muito com o adversário, levo muito em conta o que ele propõe, mas tenho uma forma de jogar e tenho de respeitar isso. Posso trabalhar com pequenas alterações, mas não vou mudar tudo o que eu penso porque a outra equipe joga de uma forma diferente.
Pioneiro: Essa definição de esquema depende do material humano que tu tens ou já é uma linha predeterminada que vai direcionar a contratação de jogadores?
Julinho: A gente tem de buscar dentro do material humano que se tem a melhor forma de jogar. Quem pode idealizar uma formação tática é o treinador da Seleção Brasileira, que tem à disposição os melhores jogadores do mundo, e os de clubes como Real Madrid e Barcelona, que contratam quem eles querem porque têm poder aquisitivo. A gente aqui não. Aqui, temos de fazer uma análise fria e real e a partir disso buscar a melhor formatação.
Pioneiro: Há uma preferência por jogadores jovens porque tu tens uma forte identificação com a base ou o ideal é uma mescla com atletas mais experientes?
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Julinho: Na verdade, acredito muito na mescla. O jogador jovem te dá umas virtudes, torna a equipe mais veloz, com mais pressão dentro de campo. Mas o jogador mais experiente traz o equilíbrio das ações, dá o tempo do jogo. Acho que a mescla é o grande segredo, ainda mais no Caxias, que tem uma torcida forte e exigente.
Pioneiro: Qual foi a tua primeira impressão sobre as categorias de base do Caxias? Há bons valores em casa?
Julinho: Vejo o Caxias num caminho bom. Acho que existem pequenas evoluções a se fazer. É importante ampliar o departamento de captação, buscar novos valores em outros lugares. Dentro de um clube formador, esse departamento é essencial. Pela experiência que eu tenho na base de Grêmio e Inter, quero agregar algumas coisas ao bom trabalho que está sendo feito pelo Edinho (Edson Machado, diretor da base grená).
Pioneiro: Tem o momento certo para colocar os garotos no time? Há uma política no clube para propiciar isso?
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Julinho: Quando o ambiente do clube é propício, isso ajuda muito. É uma coisa que eu tenho conversado com o presidente Osvaldo Voges. É uma surpresa muito agradável ver o que ele tem feito por esse clube, saber que existem pessoas com essa ideia. Se a gente propiciar esse ambiente com uma equipe competitiva e os resultados ajudarem, os jovens jogadores vão adquirir esses espaços naturalmente.
Pioneiro: Como está sendo conduzida a contratação de jogadores? Os reforços são indicações tuas?
Julinho: É bom deixar claro que não são jogadores meus. Em algum momento da carreira eles passaram por mim, só isso. Mas aqui tem, por exemplo, o Anderson Bill, o Cristian Borja, o Ricardo, o Edenilson, jogadores que não passaram por mim. Só que eu não vejo distinção, não vejo rosto, vejo só trabalho.
Pioneiro: O que tu buscas quando contrata um jogador?
Julinho: O jogador tem algumas características que são importantes relevar: qualidade técnica, física, tática, intelectual e também o perfil, tanto de ordem psicológica como de entendimento de profissão. Quando a gente analisa o jogador, não é o Julinho ou o Tato (diretor de futebol) que contrata. É um grupo. O Caxias não é personalista. É assim que a gente vai minimizar os erros.
Pioneiro: O orçamento vai definir até onde o Caxias vai chegar?
Julinho: A gente não pode trazer grandes jogadores, mas a torcida precisa saber que o futebol é feito de trabalho. E muitas vezes um time com uma folha três vezes maior do que a gente não dá certo. Com trabalho, bom ambiente, uma ideia séria, podemos colher muitos frutos. Eu acredito no trabalho.
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