Cinco clínicas de estética e duas farmácias de manipulação foram interditadas durante a primeira fase da Operação Venefica, que investiga crimes envolvendo a receita de medicamentos com prescrição falsa, criação e manipulação de fórmulas adulteradas e até a aplicação de anabolizantes e emagrecedores de forma irregular. Os nomes dos estabelecimentos foram citados pelo Ministério Público e a reportagem do A Notícia visitou os endereços em Joinville e confirmou que os locais estão interditados.

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Duas filiais da F Coaching, do coach Felipe Francisco, estão fechadas temporariamente. A empresa localizada em Joinville é a unidade principal, que tem uma fachada de luxo e ocupa uma esquina no bairro América. Em Balneário Camboriú, a unidade funcionava em salas alugadas no Centro da cidade.

A promotora explica que alguns desses estabelecimentos foram impedidos de atuar por decisão judicial e outros administrativamente, já que a Vigilância Sanitária participou de todas as buscas e apreensões e fez as interdições por “irregularidades graves” encontradas nesses espaços.

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Em Joinville, também foram interditadas a MVB Body Clinic, no bairro América, que pertence a duas nutricionistas que já trabalharam na F Coaching e abriram o próprio esquema após saíram do local; a Vittalité, no bairro Boa Vista, uma sociedade entre uma médica e uma nutricionista que estão presas; e a clínica Dr. Julian Rodrigues Medicina Personalizada, localizada no Centro.

Em Balneário Camboriú, a Clínica La Vie, que pertence a ex-esposa de Felipe Francisco também foi fechada temporariamente pela Vigilância Sanitária estadual. Já as farmácias de manipulação impedidas de atuar são a Biovita, também de Balneário Camboriú, e a Hiperfórmulas, de Itapema.

Sem funcionar há cerca de duas semanas após os mandados cumpridos na Operação Venefica, esses locais estão proibidos, portanto, de vender, produzir ou movimentar qualquer tipo de valor. Mesmo assim, conforme a promotora de Justiça, há relatos de pacientes que estavam sendo contatados para continuar os atendimentos, sem receber aviso das interdições.

— O que eu tive conhecimento é que, mesmo com a interdição da Vigilância Sanitária e a suspensão da atividade pelo juiz, não sei se é a equipe de atendentes ou não, estavam reagendando pacientes. Clientes estão sendo reagendados tanto para atendimento quanto para aplicações, então as pessoas precisam saber e procurar seus direitos, porque às vezes ela fez o pagamento de algum medicamento, de algum tratamento, e não tem mais previsão do serviço ser prestado — destaca a promotora de Justiça Elaine Rita Auerbach, em entrevista exclusiva ao AN.

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A orientação é de que as pessoas que foram lesadas denunciem a situação. Caso não queira comparecer presencialmente na delegacia ou na promotoria, há a opção de registrar um boletim de ocorrência pela internet para que se tenha o relato policial do caso e, posteriormente, possa buscar ressarcimento, já que há casos em que os serviços custavam “valores expressivos”. Também há a alternativa de procurar o Procon.

Veja fotos dos locais interditados

Mais de R$ 2 milhões em bens bloqueados

Nesta primeira fase da operação, 14 pessoas foram presas preventivamente, sendo que cinco dessas prisões foram convertidas em domiciliares, com uso de tornozeleira eletrônica. Entre os detidos estão a mãe de Felipe Francisco e a ex-esposa dele, além de outros profissionais como médicos, nutricionistas e biomédicos que faziam parte da organização criminosa do coach ou que já trabalharam com ele no passado e abriram os próprios esquemas com o mesmo modus operandi.

Durante as buscas no dia 15 de agosto, foram apreendidos cerca de R$ 68 mil em espécie e 200 dólares no total e foi feito o bloqueio de quase R$ 2 milhões dos investigados. Entre os itens estão relógios de luxo, casas, apartamentos, terrenos e carros como Audi, Porsche e Mercedes. Os valores presentes nas contas bancárias não podem ser movimentados, assim como os veículos que não podem ser usados e nem vendidos.

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Outro ponto que chama bastante a atenção, conforme a promotora, é que a maioria dos envolvidos no esquema possui um alto padrão de vida. O maior destaque, no entanto, é para a F Coaching, de propriedade de Felipe Francisco, pivô da investigação. Segundo Elaine, além das duas filiais, o empresário também tinha aberto duas holdings (sociedade de empresas) em que tinha carros vinculados a esses CNPJs.

— Apuramos, recentemente, que ele costumeiramente fazia o uso de veículos que estão em nome de terceiros, que não eram dessas empresas, ou de revenda de veículos que ele fazia contrato de gaveta. Também se utilizava de possível empréstimo ou locação [dos carros] quando a gente sabe que, na verdade, era dele, mas pra que não passasse pelo nome — explica.

Caso se comprove essas situações, Felipe pode responder por falsificação de documento e lavagem de dinheiro, já que os bens eram colocados em nomes de laranja. Além da mãe, ele colocou o próprio filho no esquema.

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Além de dinheiro e bloqueio de bens, também foram apreendidos 81 computadores nas clínicas e farmácias interditadas, 55 mídias eletrônicas, entre HDs e pendrives, e 55 celulares. Esses aparelhos estão sendo periciados pela Polícia Científica que, posteriormente, enviará os laudos para serem analisados pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).

Neste primeiro momento, o foco principal do Ministério Público é oferecer a denúncia contra os investigados já presos. Os interrogatórios por parte da Polícia Civil devem ser finalizados e o inquérito concluído nesta semana, para que assim os envolvidos sejam denunciados e se inicie o processo criminal.

Nas próximas fases, a operação visa prender outros envolvidos na organização criminosa, que vão desde profissionais da saúde, fornecedores de remédios a contrabandistas que transportavam o medicamento ilegal.

Os suspeitos podem ser indiciados por integrar organização criminosa, lavagem de dinheiro, adulteração de medicamentos e crimes contra o consumidor, por enganar e colocar a saúde de pacientes em risco.

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A reportagem do A Notícia busca contato com a defesa de Felipe Francisco e dos outros investigados na operação. O espaço está aberto para possíveis posicionamentos.

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