Investimentos pesados em campanha não são garantia de vitória nas urnas, mas o resultado das eleições das prefeituras mostra que candidatos com mais recursos tiveram o melhor desempenho em Santa Catarina. Em seis das 10 maiores cidades do Estado, os mais votados foram aqueles que tiveram as maiores despesas na corrida eleitoral.

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Por outro lado, teve candidato com votação muito abaixo do que poderia indicar os gastos em campanha. É o caso de Dr. Xuxo (PP) em Joinville, que investiu R$ 441,7 mil para promover sua candidatura, mas recebeu apenas 5,3 mil votos. É como se cada voto tivesse custado R$ 81,95 ao candidato.

Situação parecida teve Angela Albino (PCdoB), protagonista de uma campanha bancada por R$ 471,5 mil na Capital, mas lembrada apenas por 10,5 mil vezes nas urnas. Na comparação entre gasto e número de votos, pode-se dizer que cada voto custou R$ 44,56 à candidata.

Em valores absolutos, Gean Loureiro (PMDB) chegou ao segundo turno com a campanha mais cara em Florianópolis. O mesmo ocorreu com Udo Döhler (PMDB), em Joinville, e Napoleão Bernardes (PSDB), em Blumenau. Os três lideraram as votações locais no último dia 2 e tentam repetir o sucesso no segundo turno.

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Em Lages, Itajaí e Jaraguá do Sul, os futuros prefeitos também foram os candidatos com os maiores investimentos. Entre as dez cidades mais populosas de SC, as exceções ocorreram em Criciúma, Palhoça, Chapecó e São José, onde nomes com mais recursos investidos acabaram derrotados.

A análise considera números das contas eleitorais divulgadas e atualizadas até a última semana no Tribunal Superior Eleitoral — a prestação de contas final vai até 1º de novembro (candidaturas que participaram do primeiro turno) e 19 de novembro (segundo turno), portanto, os balanços finais podem apresentar gastos mais elevados.

Somente candidatos do PMDB tiveram despesas acima da marca de R$ 1 milhão, o que ocorreu em Joinville, Florianópolis, Itajaí e São José. Apesar do investimento milionário, José Natal Pereira (PMDB) foi derrotado por Adeliana Dal Pont (PSD), reeleita em São José.

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Faltou criatividade, diz marqueteiro

Dinheiro não é o único fator determinante para o sucesso de uma campanha, defende o jornalista e publicitário Chico Malfitani, que já trabalhou com nomes como Luiza Erundina e Eduardo Suplicy, além de ter feito a campanha vitoriosa de João Paulo Kleinubing à prefeitura de Blumenau. Na avaliação do marqueteiro, faltou criatividade e verdade às campanhas em todo o país para compensar a falta de recursos.

A maior exceção, aponta Chico, tem o rosto de Marcelo Freixo (PSOL), que avançou ao segundo turno no Rio de Janeiro com uma campanha modesta e apenas 11 segundos de TV.

—Quem tem mais dinheiro tem mais chances? Sim. Mas toda regra tem exceção. Acho que as exceções, se forem com criatividade e verdade, podem vencer o dinheiro— avalia.

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Representante da OAB vê campanhas escassas

As eleições municipais tiveram campanhas escassas financeiramente, avalia o presidente da comissão de direito eleitoral da OAB no Estado, Pierre Vanderlinde. A repercussão de investigações como a Lava-Jato, observa o advogado, contribuiu para barrar o interesse de empresas inclinadas a injetar dinheiro ilegalmente em campanhas.

Por outro lado, o representante da OAB entende que a proibição de doações empresariais acabou favorecendo os próprios empresários nas urnas.

—Isto afeta um pouco a democracia. Não tenho esse dado, mas certamente a maioria dos candidatos eleitos é empresário, pessoas que tinham recursos financeiros próprios para se financiar — critica.

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Se não impede a prática de atos ilícios, a divulgação das doações recebidas a cada 72 horas, aponta Vanderlinde, ao menos serve para o eleitor acompanhar a contabilidade dos candidatos.

—Essa divulgação em tempo real permite que alguém possa visualizar seu nome sendo usado de forma equivocada (laranja) numa prestação de contas e levar às autoridades – destaca.