Instituída em 16 de maio de 2012 para apurar violações de direitos humanos ocorridas no Brasil entre 1946 e 1988, com foco no período em que o país esteve sob a ditadura militar (1964 – 1985), a Comissão Nacional da Verdade (CNV) apresenta em seu canal do YouTube 504 vídeos. São registros de audiências públicas e depoimentos realizados nos últimos dois anos em diferentes Estados, que apresentam casos de perseguições, torturas, desaparecimentos e assassinatos patrocinados por agentes à serviço da repressão.

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Confira alguns dos depoimentos marcantes que constituem o acervo da CNV:

Suzana Lisboa

Em Porto Alegre, a CNV realizou audiência pública com Suzana Lisboa, mulher de Luiz Eurico Tejera Lisboa, militante preso em São Paulo em 1972 e dado como desaparecido. Irmão do músico Nei Lisboa, Luiz Eurico teve seus restos mortais encontrado em 1979 em um cemitério paulistano, sob outra identidade.

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Baixe o relatório na íntegra do site da Comissão da Verdade

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Lilian Celiberti

Em audiência também realizada em Porto Alegre, a uruguaia Lilian Celiberti relembra o sequestro dela e do compatriota Universindo Dias na capital gaúcha, em 1978, por policiais gaúchos. O episódio foi flagrado por jornalistas da revista Veja e teve grande repercussão, comprovando a existência da Operação Condor, ação de colaboração entre agentes da repressão dos países do Cone Sul sob ditadura militar.

Andrés Habegger

Filho do jornalista argentino Norberto Armando Habegger, desaparecido no Rio de Janeiro 1978, Andrés Habegger prestou depoimento sobre o caso do seu pai. O episódio ilustra a Operação Condor, aliança formado pelos governos militares da América do Sul para perseguir e eliminar opositores em diferentes países.

Operação Condor

Janaína Teles, pesquisadora da USP com atuação no Grupo de Trabalho Operação Condor da CNV, fala sobre os desaparecimentos, no Rio de Janeiro, do argentino Antonio Pregoni, do francês Jean Henri Raya e do brasileiro Caiupy de Castro, e, em Buenos Aires, do ex-major do Exército Joaquim Pires Cerveira.

Rui Moreira Lima

Piloto condecorado por sua ação com Força Aérea Brasileira na II Guerra, o brigadeiro falou sobre a perseguição da qual foi vítima por ter se negado a apoiar o golpe de 1964. Ele morreu em 13 agosto de 2013, aos 94 anos.

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Luiz Inácio Lula da Silva

Em um dos últimos depoimentos prestados à CNV, o ex-presidente Lula fala de sua trajetória como líder sindical em meio à repressão nos 1970 e 1980.

Fernando Henrique Cardoso

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou sobre a perseguição política decorrente do golpe militar, as prisões, o exílio e sua atuação no processo de redemocratização do Brasil.

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Carta-bomba na OAB

Audiência em homenagem a Lyda Monteiro, secretária da OAB do Rio de Janeiro que foi vítima da explosão de uma carta-bomba endereçada ao presidente da entidade, Eduardo Seabra Fagundes, em 21 de agosto de 1980. O crime foi atribuído a grupos de direita contrários ao processo de abertura política.

Vladimir Herzog

Cerimônia que entregou à família do jornalista Vladimir Herzog um novo atestado de óbito, alterando a causa da morte de “asfixia mecânica” para “lesões e maus tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2º Exército (DOI-Codi)”. A simulação do suicídio de Herzog, em 1975, foi uma das mais grosseiras farsas armadas pela ditadura.

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Elizabeth Teixeira

Personagem do clássico documentário Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho, Elizabeth Teixeira, 88 anos, contou sua história à CNV. No depoimento registrado em Sapé (PB), ela fala do assassinato de seu marido, o líder camponês João Pedro Teixeira, a mando de latifundiários, em 1962, e da perseguição às ligas camponesas no regime militar.

Stuart Angel

Audiência sobre o caso Stuart Angel, militante assassinado pelo serviço secreto da Aeronáutica na Base Aérea do Galeão, no Rio, em 1971, e dado como “desaparecido” _ o crime foi confirmado por documentos que vieram a publico em 2013. O caso se tornou conhecido em razão da luta da estilista Zuzu Angel para descobrir o paradeiro do filho _ ela própria morreu em 1976, em um nebuloso acidente de carro.

Guerrilha do Araguaia

Audiência sobre violações de direitos humanos cometidas na repressão à guerrilha do Araguaia, um dos episódios mais violentos da ditadura militar. Registros apontam que, no começo dos anos 1970, ocorreram na região da divisa entre Goiás, Pará e Maranhão prisões ilegais, torturas, desaparecimentos e execuções.

DOI-Codi

A Comissão Nacional da Verdade visitou na cidade de São Paulo um local que, entre 1970 e 1977, abrigou um centro de tortura do DOI-Codi, temido braço da repressão. Testemunhas e registros apontam que nesse lugar 52 pessoas foram assassinadas, muitas delas ainda desaparecidas.

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Epaminondas Gomes de Oliveira

Os procedimentos de exumação e reconhecimento dos restos mortais de Epaminondas Gomes de Oliveira, sapateiro maranhense que foi o primeiro desaparecido político a ter o corpo localizado pelos trabalhos da CNV. Ele foi assassinado em 1971, aos 68 anos, sob a custódia do Exército, em Brasília.

* Zero Hora