Neymar mexe no nariz, incomodado por uma mosca intrometida. Tac! Tac! Tac! Tac – o som metralhado das máquinas dos fotógrafos chega a doer nos ouvidos. Silêncio. Neymar permanece imóvel. Parece que está fazendo pegadinha.

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De repente…arruma o boné! Tac! Tac! Tac! Tac! Rói a unha do dedo mínimo da mão esquerda. Tac! Tac! Coça a sobrancelha. Tac! Tac!

Encarregado do credenciamento para a CBF desde 1998, J.B. Telles nunca tinha visto nada igual. De uma hora para outra, começaram a chegar, além dos japoneses, italianos e mexicanos, cujas seleções são adversárias na primeira fase da Copa das Confederações, também alemães, franceses, espanhóis.

– Terei de negar acesso ao local. Não cabe mais ninguém quase. Paciência. Já fiz mais de 50 jogos, mas esta entrevista do Neymar está impressionante – lamenta o experiente jornalista, já prevendo a cara feia dos repórteres estrangeiros.

Ainda bem que fui cedo ao local da entrevista, a primeira oficial de Neymar na Seleção como jogador do Barcelona. A estrutura montada ao lado do Brasília Palace, hotel afastado escolhido pela Seleção para se concentrar até sábado, só tinha 86 lugares. Entraram cerca de 100. Bela Rethy foi um deles. Ele é narrador da ZDF TV, que está para os alemães assim como a BBC para os britânicos.

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O atacante fala, mas não diz muito

Há semanas, Bela e sua equipe seguem os passos de Neymar, que talvez nem saiba disso. Foram a Santos. Conversaram com os primeiros técnicos, seus descobridores, amigos. Um documentário sobre o camisa 10 irá ao ar neste domingo para toda a Alemanha, esta mesma Alemanha que já ganhou a Copa de 2014, conforme a histeria provocada pela final entre Bayern e Borussia na Liga dos Campeões. É, mas os alemães querem saber de Neymar.

– Ele representa o novo, um projeto de algo diferente na Europa. A curiosidade é imensa – explica Bela, que narrou a final da Copa de 2002, já que a ZDF paga caro para transmitir torneios da Fifa.

Durante uma hora, Neymar respondeu mais de 20 perguntas, a maioria versões diferentes sobre o mesmo tema. Por que ele não é na Seleção como era no Santos – atrevido, sem medo de errar, quase genial? As respostas vieram evasivas, politicamente corretas, sem se comprometer e com enfaro.

Deve ser o inferno do media training, que ensina jogadores a falar sobre bananas quando o assunto é maçã. De qualquer maneira, a entrevista de Neymar deixou claro que não somos apenas nós, brasileiros, a tratá-lo como candidato a melhor do mundo, quem sabe quando voltar mais evoluído da Catalunha, em 2014.

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Na Copa das Confederações, ele já será visto como da Seleção e do Barcelona. É a celebridade do torneio, e por isso a TV alemã faz documentário e os fotógrafos buscam o flagrante da aba do boné e da unha roída.