Moradores das áreas próximas ao reservatório de água que se rompeu e deixou um rastro de destruição na madrugada desta quarta-feira (6), em Florianópolis, temiam o colapso da estrutura há pelo menos cinco meses. Na época, vazamentos e pequenos reparos feitos na área externa, por funcionários da Casan, foram flagrados pela comunidade. A área que cedeu, segundo engenheiro sanitarista ouvido pela NSC, deveria ser projetada para não romper. Ele também afirmou que falha foi “totalmente estrutural”.

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Em um vídeo ao qual a NSC TV teve acesso é possível ver funcionários da companhia fechando um buraco na parede com rejunte. Na gravação, de abril deste ano, é possível ouvir um morador falar sobre o reparo improvisado: “Começaram a esvaziar a caixa porque não deram jeito”.

Assista abaixo:

Segundo Bianca Souza, há pelo menos três meses moradores alertavam sobre os riscos de um possível colapso na estrutura.

— A gente sabia que ia estourar, mas eles não davam bola. Meus amigos perderam carro, casa. A gente ia ali, reclamava e eles não davam bola. Vazavam gotas, eles iam lá e passavam uma massinha, uma tinta. Tá aí a massinha e a tinta. o povo perdeu tudo — ela diz.

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A força da água que saiu do reservatório fez com que casas e carros fossem destruídos. Duas pessoas tiveram ferimentos leves. A Polícia Civil e o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) investigam as causas.

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Reservatório tinha menos de 2 anos

O reservatório foi entregue em março do ano passado (as obras começaram em 2017). Segundo a Casan, o Reservatório de Água Tratada do Monte Cristo triplicaria a capacidade de armazenamento de água tratada na região, beneficiando bairros continentais de Florianópolis e bairros de São José. O valor do investimento foi de R$ 6,6 milhões, em parceria com a Caixa Econômica Federal.

Também moradora da região, Fernanda Vieira diz que, apesar da obra recente, vários vizinhos comentavam sobre possíveis rachaduras no local.

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— A estrutura não ficou como imaginava. Faltou cuidado com as pessoas — acrescenta ela.

Em 3 de agosto, o local passou por uma manutenção. Segundo a Casan, foi realizado o trabalho de higienização dos reservatórios. A respeito das imagens, o presidente da companhia, Edson Moritz Martins da Silva informou que conversou com moradores e vai averiguar a situação.

— Este é um outro assunto que torna a situação mais complexa e ainda mais responsável: quem recebeu, quando recebeu, o que fez e o que deixou de fazer. Esse é outro assunto que vamos ter que fazer uma investigação muito rápida e com o devido cuidado.

Vídeo chocante mostra momento em que reservatório se rompe

Engenheiro afirma que fato “não é isolado”

Esta não é a primeira vez que um reservatório da Casan rompe em Florianópolis. Em janeiro de 2021, uma lagoa de tratamento de esgoto colapsou na região da Lagoa da Conceição e atingiu 35 imóveis, além de inundar a Avenida das Rendeiras, umas das principais vias da capital catarinense. Já no ano passado, situações semelhantes ocorreram nos bairros Trindade e Santa Mônica.

— O problema que acontece em uma adutora na região da Trindade é diferente do que acontece na região do Itacorubi, por conta de solos e topografias diferentes. […] O problema do rompimento de hoje é totalmente estrutural, rompeu a parede de um reservatório que é projetado para não romper em hipótese alguma, principalmente em condições normais de operação — diz Vinícius Ragghianti, engenheiro sanitarista.

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FOTOS: Carros ficam empilhados e cenário é devastador após rompimento

O professor de governança pública da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Danilo Melo, também explica que é importante entender que fatos como o que ocorreu em Florianópolis, nesta quarta-feira, não são isolados. Por conta disso, é necessário que os órgãos públicos façam o mapeamento das áreas de risco para que isso não volte a ocorrer.

— É muito importante que a gente reflita sobre esses fenômenos não os isolando e nem isolando as populações atingidas. As cenas são muito críticas. Isso precisa nesse primeiro momento de uma ação de resposta para restabelecimento e recuperação para essas comunidades. Mas não pode parar para por aí, tem que seguir para um processo de preparação para que isso não volte a acontecer — diz ele.

Danilo Melo afirma que, para a construção de estruturas como a do reservatório, é fundamental que ocorra uma conversa conjunta com os órgãos públicos, principalmente para garantir a segurança dos moradores na região.

— Construção de medidas e preparação de mitigação de redução e prevenção são extremamente importantes. A amenização do risco é outro elemento que precisa ser tomado como estudo justamente para não para que isso não venha a ocorrer. Então é engajar a inclusão de uma pluralidade de atores, de diversas áreas de conhecimento, da Justiça, do poder público e atores da sociedade civil — diz ele.

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Casan tornou-se uma ameaça para Florianópolis

MP vai acompanhar rompimento

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) informou que vai instaurar um inquérito para apurar as responsabilidades do rompimento. A ação é da 29ª Promotoria de Justiça da Comarca da Capital, com atribuição na área do direito do consumidor.

Segundo o promotor Wilson Paulo Mendonça Neto, serão requisitadas à Defesa Civil, ao Corpo de Bombeiros Militar e a Polícia Militar informações sobre o atendimento prestado durante o incidente. Já à Casan será solicitado o relatório explicando o que causou o rompimento, medidas adotadas, extensão dos danos, imóveis atingidos e levantamento de pessoas prejudicadas.

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Um inquérito também foi aberto pela Polícia Civil de Santa Catarina. Segundo a diretora de polícia da Grande Florianópolis, Michele Alves Rebello, o objetivo é apurar as causas e as responsabilidades pelo rompimento.

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— Algumas pessoas já serão ouvidas nesta tarde. A perícia e a Polícia Civil já estão em conversa em relação ao laudo, e pretendemos em breve apresentar os resultados. É uma investigação complexa que vai demandar tanto de laudos e vistorias prévias tanto de quem executou, quanto a quem devia fiscalizar — explica.

O prazo é para que o inquérito seja finalizado em até 30 dias. Segundo a delegada, será averiguado, principalmente, se houve omissão, além dos danos ao patrimônio público.

Governador ordena vistoria de reservatórios

Em coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira, o governador Jorginho Mello (PL) informou que vai solicitar que todos os reservatórios de água em Florianópolis sejam vistoriados pela Casan. O objetivo é evitar que novos acidentes ocorram.

— Um inquérito será feito para saber porque aconteceu, se foi uma estrutura mal feita. Alguém tem que respaldar para tomar a providência. Já pedi para o presidente da Casan para revisar todos os reservatórios para não ser pego de surpresa em outras regiões — disse o governador.

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Entenda o caso

O rompimento ocorreu às 2h na rua Luís Carlos Prestes, no bairro Monte Cristo após uma das paredes se deslocar. A via ficou alagada por cerca de 2 mil metros cúbicos e destruiu muro de casas e carros. A área foi evacuada e isolada. A Defesa Civil faz na manhã desta quarta-feira o levantamento do número de pessoas impactadas com o incidente.

Duas pessoas receberam atendimento do Corpo de Bombeiros Militar e foram encaminhadas para um hospital da região com ferimentos leves.

Já a Casan fez o fechamento das entradas do reservatório para evitar o escoamento de água. Atuam no atendimento equipes da companhia, da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar.

— As pessoas estão sendo alocadas para uma igreja para dar o primeiro suporte para eles e fazer o levantamento do prejuízo, para posteriormente fazer a indenização dessas pessoas — explica Joel Horstmann, diretor de operações da companhia.

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De acordo com o secretário de assistência social de Florianópolis, Leandro Lima, 150 famílias foram cadastradas para acolhimento até o momento. Ao menos, 250 pessoas vão receber refeições fornecidas pela prefeitura.

Veja imagens:

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