O Diário Catarinense entrevistou cinco candidatos à prefeitura de Florianópolis. Confira abaixo a entrevista com a candidata Angela Amin (PP):
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Uma coisa que se tem percebido nessa campanha é que os temas em debate são muito parecidos com os de quatro anos atrás, inclusive muitos candidatos se repetem. Há essa repetição de temas, como se eles não tivessem evoluído ou evoluído pouco, especialmente questão da mobilidade urbana. Como a senhora avalia isso?
Eu entendo que a mobilidade urbana é uma questão que tem alguns anos. É a questão da cidade de Florianópolis e de várias cidades. Tanto que todo investimento e todo foco da nossa administração já a partir de 1997 foi exatamente esse, com relação ao sistema de transporte e integração. Fizemos um trabalho conjunto e todo o trabalho do processo de integração do sistema da Grande Florianópolis foi focado com a região do aglomerado urbano de Florianópolis, com Biguaçu, Palhoça, São José e Santo Amaro. Todas as reuniões para discutir o sistema integrado tiveram participação de técnicos do Deter, pra fazer com que todo o desenho de Florianópolis viesse a congregar esses municípios. Na região metropolitana foi trabalhado o sistema desses quatro municípios. A gente sempre dizia quando da instalação do sistema integrado que ele só funcionaria se fosse nesse conglomerado regional. E esse desenho ficou pronto.
A implantação do sistema foi um momento muito forte.
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Traumático. Não forte, traumático. Porque foi um processo eminentemente político, ou politiqueiro, para que o sistema não desse certo. E isso nós comunicamos naquela oportunidade aos setores da imprensa, entidades de classe, o governador do Estado na época acompanhado com as entidades de classe mais significativas de Florianópolis. E eles nos procuraram, a CDL, Acif, ABIH e Guarda Municipal, nos colocando a preocupação com o que ocorria no município e o que podia ocorrer naquela quinta-feira que seria o grande quebra-quebra. Colocamos a preocupação ao governador na época que corria o risco do patrimônio dos lojistas do Centro da cidade, que já tinha sido depredado boa parte, ia ser bem mais depredado, e o risco principalmente aos alunos da rede pública.
Havia muito questionamento em relação aos preços da tarifa.
Não era só o preço das tarifas. Porque tínhamos projeto de lei na Câmara de Vereadores já autorizando o subsídio, que não tinha sido aprovado. Então o preço da taria ia ser minimizado. O problema todo era o movimento político para que não desse certo. Isso era muito claro.
O que não funcionou daquilo que vocês planejaram para o sistema integrado?
Eu entendo que perdemos a guerra da comunicação. E por quê perdemos? Porque ficamos apagando incêndio. Não conseguimos fazer com que o entendimento do sistema com toda aquela modificação, que foi radical, pudesse ser comunicada ao usuário, porque houve toda aquela manifestação e ficamos única e exclusivamente apagando incêndio. Então nós perdemos a guerra da comunicação e não conseguimos aprovar na Câmara o subsídio que iria minimizar o custo do sistema.
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O custo ficou alto para o passageiro sem o subsídio.
Claro, porque ele só reduziu quando houve o subsídio.
Aquele modelo com quatro patamares de tarifas, a senhora acha que ele era o mais correto ou o modelo de tarifa única que foi implantado depois?
Acho que tudo bem, a tarifa única é uma alternativa. Mas única e exclusivamente a minimização para o usuário foi com o subsídio. Por uma movimentação política já objetivando a eleição municipal, se inviabilizou que os aperfeiçoamentos que se faziam necessários naquele momento ocorressem. E não ocorreram até hoje. Quero saber qual foi, tirando a questão da tarifa e subsídio, outra melhoria para o usuário. Só piorou. Reduziu número de linhas, o conforto que era o grande objetivo para que a classe média deixasse o carro em casa e passasse a usar ônibus com segurança não aconteceu. Perdemos a oportunidade de fazer os ajustes necessários para que chegasse ao grande objetivo da mudança cultural. Quero te dizer que vou fazer tudo que for necessário para fazer a melhoria do sistema. Hoje temos através do governo do Estado o maior e melhor estudo já feito para a Grande Florianópolis, que é o Plamus.
A senhora vai abraçar o Plamus?
Vou abraçar. Já tenho esse trabalho. Já sentei com o Cássio Taniguchi (engenheiro e ex-prefeito de Curitiba, uma das referências do Plamus) e ele colocava claramente que levaram 20 anos pra acomodar o sistema de Curitiba. Você não faz em seis meses. Nós tivemos seis meses, em meio aquele tumulto, pra tentar acomodar e foi muito pouco tempo. E a partir dali nada de fundamental foi feito em 12 anos.
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O modelo que a senhora implantou em 2004 tem três grandes símbolos do que não funcionou bem, que são os três terminais desativados. A senhora pretende reativá-los?
Totalmente. O Plamus prevê. O Plamus prevê! Essa é minha grande vitória. O Plamus, com todo o estudo aprofundado que fez, prevê os terminais. Essa é a grande vitória do nosso trabalho.
Incluindo o terminal do Saco dos Limões?
Claro. Então esse é meu grande discurso nesse momento. Isso é a integração. Porque os terminais do Continente preveem integração da Grande Florianópolis, que é fundamental para o sistema da região metropolitana. Vou te citar um exemplo: um cidadão que vem da Palhoça vai parar em Capoeiras ao invés de vir pro Centro e voltar para Coqueiros e aquela região. Quem vem do sul da Ilha e quer ir pra universidade, não vem pro Centro da cidade e volta.
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O Plamus prevê cerca de 100 quilômetros de corredores de ônibus, que custariam cerca de R$ 3 bilhões. Tem dinheiro pra isso? Quanto dá de fazer em um mandato?
Tem. No Plamus está muito claro. Tem ações previstas de imediato, a médio prazo e a longo prazo. Algumas já têm previstos contrato com Ministério das Cidades, no chamado PAC 50 da Mobilidade e outras cabe ao município buscar junto ao governo federal, a órgãos financiadores. Inclusive o BNDES se propõe a fazer esse financiamento, tanto que fez esse estudo e o município já previu e até está aprovado pelo BID um empréstimo, aí é questão de trabalhar a recuperação financeira do município. É um empréstimo que visa não só mobilidade, mas também macrodrenagem, que é uma das grandes dificuldades do município, que interfere em saneamento e meio ambiente. Então é um grande pacote de infraestrutura para Florianópolis. Então, o caminho existe.
A senhora não disputa eleições desde 2010, quando ficou em segundo lugar para o governo do Estado. Por quê decidiu voltar?
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Entendo que dei minha contribuição para o município de Florianópolis e não me acomodei. Entre o mandato de prefeita e deputada federal fiz meu mestrado na área de engenharia e gestão do conhecimento. Essa área tem três focos: gestão, mídia e engenharia. Eu fiquei na gestão, minha pesquisa foi na área pública. Entre o mandato de deputada federal e o presente momento, fiz doutorado. Minha pesquisa foi em 12 organizações estaduais e nacionais, dois anos de pesquisa no governo de Minas Gerais exatamente com foco na melhoria da administração pública. Acho que procurei aprender um pouquinho mais, pra poder fazer melhor. Esse é o grande desafio: poder voltar e fazer melhor.
A senhora foi reeleita em 2000 e de lá para cá Florianópolis mudou bastante. São mais ou menos 60 mil novos eleitores em relação àquela cidade que reelegeu a senhora. Como se apresentar para essas pessoas que não eram eleitoras da Capital na época em que foi prefeita?
Exatamente mostrando que eu não me acomodei. Que pra poder fazer melhor eu fui para os braços da universidade. Pra poder fazer mais e melhor e recuperar naquilo que errei.
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Como a senhora vê o crescimento de Florianópolis. É normal?
Qualquer cidade cresce e vai crescer. E ela pode crescer melhor se participarmos.
Teve uma polêmica no seu governo que foi a questão de ligação de água e luz pra imóveis que não eram de escritura pública. Aquilo foi um desgaste grande?
Aquilo foi uma determinação judicial que nas áreas de preservação permanente e nas de risco, a prefeitura não poderia ligar ou oficializar esses imoveis por questão de risco. Eu cumpri, eu sou legalista. E o prefeito que nos sucedeu venceu a eleição em cima disso. Mandou entregar a ligação de água e luz na sua residencia. Eu sou legalista. O que nós fizemos quando fui prefeita, e ninguém fez mais do que eu nessa área, foi fazer com que o cidadão de Florianópolis tivesse seu endereço, mas seu endereço com dignidade. Mais de mil famílias, com toda infraestrutura legal e social. Todos os conjuntos habitacionais tiveram a casa, a creche, posto de saúde, escola, ambiente de convivência social e pra geração de renda. E é dessa forma que quero continuar fazendo, e não na demagogia de ligação de água e luz para prejuízo social.
Reportagem da Hora de SC mostra que cerca de 50 mil pessoas vivem em moradias irregulares em 64 comunidades.
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Vamos fazer o que for possível. Já fomos na OAB e na universidade federal, para buscar o endereço de maneira correta.
Tem um tema muito latente na campanha que é o futuro da Comcap, que vive momento de dificuldade financeira, o que pesa na prefeitura, na companhia, no serviço oferecido. Há quem fale em privatização. Qual sua solução para a Comcap?
Quando nós assumimos a prefeitura em 1997 pegamos montes de lixo na rua, a Avenida Beira-Mar Norte era mato no joelho e tinha problemas inclusive na questão da previdência. Nós recuperamos a companhia e a deixamos redondinha. Esse é nosso objetivo. Ela é eficiente, competente, mas temos que dar a ela seriedade na gestão.
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Só gestão é suficiente ou precisa de investimento?
Sim, investimento também. Tem que ter condições de trabalho e seriedade. Não vai ter na Comcap desvio de função como hoje existe. Não vamos ter guarda municipal em gabinete de deputado.
A senhora pretende remodelar as funções da guarda?
Vamos fazer com que ela cumpra seu papel real, dentro da legislação.
Armada?
Está lá hoje, a legislação prevê, mas tem que ser dentro do que é legal.
A senhora tem um legado próprio para defender e justificar. Dois mandatos não são pouca coisa. Mas também tem o apoio do atual prefeito. Como a senhora avalia a gestão do Cesar Souza Junior?
Entendo que como eu, ele teve erros e acertos. Vamos valorizar o que foi feito e fazer acertos que se fazem necessários. A defesa do trabalho dele, cabe a ele. Eu vou fazer a defesa do meu.
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O grande momento de inflexão da popularidade dele talvez tenha sido o reajuste do IPTU. A senhora tinha sido a última a fazer…
Eu fiz e fiz conversando com as entidades, fizemos de forma parcelada e cabe ao município a responsabilidade de fazer a atualização. Mas respeitando a capacidade e principalmente o momento de crise. Tanto que naquela época as entidades fizeram a solicitação que fosse de forma parcelada, e fizemos.
Se compromete a não reajustar o IPTU acima da inflação?
Sem dúvida, assim como fizemos nos oito anos do meu mandato.
Há quatro anos se vivia a discussão do Plano Diretor que não saía. O Cesar Junior se comprometeu a fazer no primeiro ano de mandato, chegou a aprovar mas foi judicializado e continuamos nessa questão. O Plano Diretor em vigor ainda é o da senhora, de 1997. Acha que herdará um novo plano aprovado ou terá que concluir esse processo?
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O que ele não conseguiu é exatamente o que foi judicializado. O que precisamos é analisar a forma que está sendo feita, o mecanismo para garantir o processo democrático que se faz necessário, mas com resolutividade. Fazendo com que o processo democrático exista, mas que desse processo até o projeto de lei tenhamos a capacidade técnica de viabilizar o plano.
A senhora acha que a atual gestão consegue concluir o plano esse ano?
Não consigo avaliar, mas se não acontecer, nós vamos fazer.
Do que a senhora acompanhou, do plano que está saindo, como avalia depois de tantos anos de discussão. Esse é o mais adequado para Florianópolis?
Acho que tem que fazer ajustes. Pelo menos essa é toda a avaliação que se ouve dos organismos que consultamos até agora.
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O seu plano fala em geração de riqueza e incremento orgânico e sustentável da arrecadação sem aumento de tributos. Qual a mágica?
A mágica é fazer com que Florianópolis venha a ser grande parceira principalmente no facilitar a vida do empreendedor. Não justifica que o empreendedor que queira investir, principalmente o jovem, levar 180 dias para ter seu alvará. O Pró Cidadão vai ser pró cidadão, a favor dele. E não aquilo que foi desmontado, vendendo sua sede logo que saímos da prefeitura, ser amontoado no antigo tesouro do Estado. Nós compramos uma sede, analisamos os processos, treinamos as pessoas alocadas naquele prédio, levamos pra lá todos os sistemas mais modernos possíveis para que o cidadão fosse respeitado quando buscasse atendimento para qualquer assunto necessário. E isso tudo foi desmontado.
O Pró Cidadão virou símbolo de burocracia. Como mudar isso?
Refazendo todo o processo que foi construído naquele momento, claro que com atualização dos sistemas, trabalhando o profissional que atenderá o cidadão e dando local digno de atendimento.
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Outra questão polêmica da sua gestão foi sobre o dinheiro aplicado no Banco Santos. O que aconteceu?
A aplicação do Banco Santos aconteceu em Florianópolis como aconteceu em mais de 22 prefeituras de SC. E inclusive no fundo de pensão do Banco Central, porque naquela oportunidade era o fundo com melhor rentabilidade. Ninguém sabia que o Banco Santos estava quebrado. Nem o Banco Central, tanto que seus funcionários aplicaram. Houve processo contra mim, totalmente resolvido, não tem nenhum problema judicial. A prefeitura já recuperou mais de 50% do montante aplicado, tem recuperado sistematicamente e chegará aos 100%. Não tenho nenhuma preocupação. A fiscalização dos bancos não é da prefeitura. Isso diz o parecer que me inocentou.
Outra coisa na agenda da campanha, especialmente pelo que aconteceu nesse último verão, é a relação com a Casan. A senhora pretende rever isso?
O que há necessidade hoje, analisando todo o processo, é trabalhar claramente o papel da Casan e o papel da prefeitura. Qual a responsabilidade de cada um. Ver o convênio assinado e fiscalizar. O Se Liga na Rede é um instrumento muito importante, fazer com que onde tem rede a prefeitura cobre do morador a ligação. Analisar todas as estações de tratamento, fazer com que tenha análise bem clara do funcionamento dessas estações e acompanhamento de onde tem a rede e não teve capacidade de implantação. Cito Santo Antônio de Lisboa, Cacupé e Sambaqui. Não houve capacidade de instalação por reação da comunidade. Ninguém quer estação de tratamento perto de si. O pior é que não deixam instalar a estação mas muitos ligaram na rede. Então tem rede com ligação de esgoto levando Deus sabe pra onde.
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O caminho é com a Casan? Não vê um rompimento ou municipalização no horizonte?
Não. O caminho é cobrar a eficiência da Casan.