Concorrendo pela primeira vez a um cargo público, Udo Döhler (PMDB) aposta na gestão para chegar à Prefeitura de Joinville. Apontando a importância de planejar uma cidade para os próximos 20 a 25 anos, Udo destaca a necessidade de grandes obras viárias, como a construção de uma ponte de quase 1 km ligando o bairro Boa Vista ao Adhemar Garcia.

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Além disso, ele quer construir um rodoanel ao redor de Joinville para desafogar o trânsito. Nesta entrevista, o empresário faz questão de apontar as semelhanças entre as gestões pública e privada e mostrar que com esse comparativo conseguirá melhorar os problemas na área da saúde.

Mesmo com metas de alto valor orçamentário para ser implantadas, como dar um tablet para cada aluno da rede municipal de ensino, o candidato peemedebista de 69 anos acredita que há tempo e recursos para fazer o prometido.

A Notícia – Preocupa a diferença entre gestão pública e privada?

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Udo Döhler – Claro que me preocupa. Porque não deveria haver nenhuma diferença entre gestão pública e gestão privada. Elas deveriam ser rigorosamente iguais. Como o setor privado, o município também busca resultados. A empresa, para atender a seus acionistas, e a Prefeitura, para atender à população. O que nos preocupa é que a gestão pública como um todo não é boa. Existe uma grande dificuldade na formação de equipes. Isso porque as equipes são formadas de modo improvisado, em geral, atendendo ao fisiologismo político. Não existe nada pior que uma equipe improvisada e que precisa ser substituída a cada momento. Na saúde, por exemplo, precisa de alguém que fique do início ao fim do governo. O São José conta com um bom quadro de funcionários, mas a gestão deixa a desejar. Faltam medicamentos, há congestionamento de médicos.

AN – O São José é o grande gargalo da saúde de Joinville ou existem outros gargalos?

Udo – São vários gargalos, mas o São José afeta o município, enquanto o Regional é de responsabilidade do Estado. O São José precisa melhorar sua parte clínica, incluindo o tratamento do alcoolismo também. Feito isso, temos que implantar um modelo que já temos em Joinville, o do Dona Helena. E isso migra para os PAs e para as unidades básicas de saúde. A nossa expectativa é de que em 380 dias isso possa estar sendo realizado. Vamos pedir a administração do Hospital Infantil, do Hospital Regional e da Maternidade Darcy Vargas. A folha de custeio continua lá (governo do Estado). Vamos melhorar a gestão. Melhorando a gestão dessas unidades, elas começam a falar entre si. Hoje, isso gera um desperdício de 25%. Alguém vai a um posto de saúde e não encontra um remédio, não acha no PA e vai ao hospital. Assim, perdeu o dia inteiro. Por isso, vamos criar uma central integrada de medicamentos: o paciente vai ao posto de saúde, recebe o medicamento e já sai com o problema resolvido. Isso vai reduzir sensivelmente a fila. Na alta complexidade, as cirurgias também não podem demorar vários meses. Essa integração do sistema irá acontecer simultaneamente no São José, nos PAs e nas unidades básicas de saúde.

AN – O senhor é favorável a uma organização social (OS) no São José ou em uma policlínica?

Udo – Não vejo necessidade disso. Hoje, o problema é apenas gestão.

AN – Como um agente municipal pode resolver o problema da mobilidade, com a necessidade de fazer desapropriações?

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Udo – Há linhas de financiamento para as desapropriações do rodoanel. O dinheiro existe. É necessário ir lá e trazer esses recursos para cá. Veja a Santos Dumont. Quem fará as desapropriações será o governo do Estado. Na Dona Francisca, será feita uma comissão para que os empresários doem as terras. Outro exemplo é a rua 15 de Novembro, no Glória. Se a desapropriação tivesse sido feita no passado, hoje teria como duplicar. Não importa quanto tempo leve para ser desapropriado, é necessário fazer em 10, 15, 20 anos. Agora, o governo do Estado conseguirá o empréstimo de R$ 3 bilhões do BNDES, em quatro parcelas. Se conseguirmos 10% desse valor, seriam R$ 300 milhões. Logo, não falta dinheiro. Faltam projetos. Porque se não cuidarmos, será feita uma quarta ou quinta ponte em outro lugar, enquanto poderia ser feito aqui. E há duas pontes muito necessárias para serem feitas. A ponte do Adhemar Garcia-Boa Vista e a do Bucarein-Boa Vista.

AN – Em questão de mobilidade, quais são as obras que precisam ser feitas em Joinville?

Udo – É necessário redesenhar o sistema viário de Joinville. É preciso duplicar a Marquês de Olinda, fazer o binário da Procópio Gomes com a Urussanga e, dali em diante, construir um rodoanel.

AN – O que seria o rodoanel?

Udo – Hoje temos trechos Norte-Sul, Leste-Oeste, nos quais os automóveis cruzam pelo Centro da cidade. Mas é preciso que a pessoa possa circular a cidade. Esse rodoanel é projeto para 20 anos. Então, o que precisa ser feito? Precisa ter o projeto. Com ele pronto, declaro as áreas de utilidade pública e já começamos a resolver a burocracia necessária. É preciso abrir muita coisa. Mas, depois disso, vamos construindo pequenos trechos que, depois de implantados, já vão aliviando bastante o tráfego. Nos próximos 20 a 25 anos, a indústria automobilística estará em alta. Logo, precisamos planejar a cidade de Joinville para as próximas duas décadas levando em conta o automóvel. Esse rodoanel é indispensável. Terminado, o transporte individual não cresce mais. Concomitantemente, cresce o transporte coletivo, e só ônibus não vai ser suficiente. É preciso construir um veículo leve sobre trilhos ou outro modelo.

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AN – Mas Joinville tem demanda?

Udo – Agora não tem demanda. Mas temos que olhar para a Joinville de amanhã, com 850 mil habitantes. Essa obra não se faz de uma hora para outra, se implanta progressivamente. Foi assim que Curitiba criou possibilidades para fazer seu metrô de superfície.

AN – A capacidade de investimento da Prefeitura é baixa, não passando dos R$ 60 milhões a R$ 70 milhões anuais. Então, como bancar todas essas obras? O governo do Estado ou o federal não irá bancar todas as obras…

Udo – Quem bancou o túnel em Florianópolis? Quem bancou as duas pontes em Florianópolis? E o novo aeroporto que vai ser feito? Foram os governos federal ou estadual. Não falta dinheiro. Existem recursos que vêm a fundo perdido (não precisa pagar). Uma coisa que precisamos entender é que Joinville é a terceira economia do Sul do País. Isso não se faz com IPTU.

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AN – Então, as outras administrações pecaram nessa busca por mais recursos?

Udo – Joinville cresceu rápido demais, e nós não conseguimos enxergar isso na velocidade necessária. Essa é a grande dificuldade dos planos de governo. Os projetos são feitos para quatro anos ou oito anos. Enquanto não planejarmos a cidade para 850 mil habitantes, não vamos conseguir as soluções necessárias.

AN – O senhor falou do transporte coletivo. Vai continuar a licitação do transporte coletivo, interromper ou modificá-la?

Udo – Queremos reexaminar esse processo, caso ele não aconteça neste ano. Não me aprofundei nos detalhes da proposta em curso. É preciso fazer um detalhamento melhor.

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AN – É favorável ao subsídio na passagem?

Udo – A passagem de ônibus tem que ter seu custo otimizado à medida que se der mais densidade ao transporte coletivo. Você anda um trecho de 500 metros e demora 15 minutos. Se conseguisse fazer esse trecho em dois minutos, poderia diminuir o preço da passagem. Se conseguirmos melhorar nossa malha viária, melhoramos o custo da passagem. Não adianta falar que vamos reduzir em 50% a passagem de ônibus porque o custo aparece em outro lugar. É preciso otimizar o custo do ônibus. E o ônibus fica caro porque fica parado muito tempo.

AN – O senhor pretende criar alguma nova contribuição ou taxa?

Udo – Não, nem pensar. Nossa carga tributária é altíssima, ninguém quer pagar mais.

AN – O senhor encara o IPTU progressivo como algo bom?

Udo – Sem dúvida. Em algum momento, teremos de otimizar a ocupação dos vazios urbanos, em que toda a infraestrutura está pronta. Então, nos resta planejar essa cidade.

AN – O senhor tem alguma meta de saneamento para cumprir durante o governo?

Udo – Acho que isso está em ordem. A obra está atrasada, mas os recursos estão assegurados. Quando ficar concluído, não nesse governo, Joinville estará com 52% de cobertura. Mas precisamos elevar isso, no mínimo, para 70%.

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AN – E a Arena, pode ter parceria?

Udo – Por que não? Toda a Europa funciona assim. Isso não é essencial para o município e, se tem alguém disposto a colocar dinheiro ali, bom.

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