Sem R$ 5 para comprar remédio, homem encontra R$ 20 mil e devolve”. Manchetes assim, embora esporádicas, suavizam a pesada rotina de notícias ruins que o Brasil vem produzindo nos últimos tempos. “Ainda existe gente honesta nesse mundo”, dizem os leitores, sem se dar conta de que a regra virou exceção. Nisto é que dá conviver com tanta corrupção que, embora tenha se agigantado nos anos recentes (nunca antes nesse país), é coisa antiga.
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“Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública”, discursou Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição de 1988.”Este governo não rouba nem deixa roubar”, disse José Dirceu em 2004, quando era o todo poderoso ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula.”Para mim, governo ético não é não roubar e não deixar roubar, isso é obrigação, é ridículo. Para mim, governo ético é eficiente”, disse Geraldo Alckmin em 2012.
Os políticos se servem da corrupção também nos discursos, cunham belas frases, mentem de cara lavada, posam de paladinos da moral enquanto a pátria mãe é subtraída em tenebrosas transações, como disse Chico no tempo em que se indignava com a roubalheira. Se achassem na calçada R$ 20 mil, devolveriam? Se você respondeu apressadamente que não, enganou-se, meu caro. Devolveriam, sim, pois virariam manchete, enterneceriam o eleitor e sairiam no lucro. Não se esqueça de que vivemos um tempo de moral invertida.
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Passando o tempo
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Foto: Valther Ostermann, Agência RBS
Caminhar pela Beira-Rio de Blumenau aos sábados de manhã é programa muito curtido pelo pessoal que queima calorias apreciando o belo visual. Os papos, com um pouquinho de ironia e uma pitadinha de veneno, acabam sendo sobre o que está à vista: “O que fica pronto primeiro, o espigão ou a margem esquerda?”, atiçam, misturando obra pública com privada. Não faz mal, é só conversa pra se jogar fora. Mesmo assim um dos participantes foi definitivo:
– Só há uma certeza: ambos ficarão prontos antes da novela do Edifício América acabar.
São espertos
O político viajava pela rodovia com um tatu no porta-malas quando teve que parar numa blitz da federal.
– Documentos, por favor, queira abrir o porta-malas… O senhor é louco? Capturar animal silvestre é crime ambiental, terei que notificar a Polícia Ambiental, o senhor será detido… – disse o oficial.
– Calma, oficial. O tatu é de estimação, criado desde pequeno. Se eu o colocar aqui no acostamento e assobiar ele virá correndo para mim, subirá pelas minhas roupas e se aninhará em meu ombro.
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O policial mandou fazer, o político botou o tatu no acostamento, o bicho se mandou mato adentro.
– Assobia, quero ver o tatu sair do mato e lhe obedecer – disse o policial.
O político, com ar espantado:
– Perdão… que tatu?
Um dia…
O ideal para a saúde do planeta e das pessoas é que a bicicleta, perdão, bike, fosse o veículo preferencial para deslocamentos urbanos e constasse como prioridade das administrações públicas. Para chegar lá tem que haver uma mudança cultural da pesada, pois desde sempre e ainda hoje a bicicleta é considerada transporte de pobre. Mesmo tendo virado bike. Operário usa bicicleta. O conceito continua igual. O bom senso coletivo deve mudar essa realidade, mas é uma expectativa e não uma certeza. Até lá fica sendo opção de risco, o que é de chorar. Muita lágrima já correu, outras correrão.
Na pontinha dos pés
Foto: André Schroeder, arquivo pessoal
Nessa época de praias lotadas e relatórios de balneabilidade assustadores o melhor mesmo é caminhar sobre as águas. Mergulhar é arriscado.