DOMINGOS DE ABREU MIRANDA
Jornalista, morador de Joinville
Quase todo jovem imagina fazer uma grande viagem em terras distantes. Em 1971, assim que completei 19 anos, tive esta oportunidade. Primeiro saí de Alfenas (MG), onde morava, e fui para Caxias do Sul, na serra gaúcha. No cursinho, meu colega Arno Argenta fez um convite irresistível para mim, um jovem à procura de aventuras: ir trabalhar no Amazonas. Conseguimos passagens de graça pela Força Aérea Brasileira (FAB).
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No início de agosto daquele ano aterrissamos no aeroporto de Manaus depois de oito horas de viagem em um quadrimotor turboélice, em voo direto desde o Rio de Janeiro, lotado com estudantes do Projeto Rondon.
O primeiro choque foi a temperatura de 40ºC, já que saímos do Sul com um frio abaixo de zero. Nós dois não tínhamos uma profissão. Estávamos desempregados e sem dinheiro. Fomos até o Comando Militar da Amazônia e explicamos nossa situação a um tenente-coronel que se compadeceu daqueles aventureiros, permitindo que ficássemos alojados durante 20 dias no quartel da 1ª Companhia Especial de Transportes. Depois fomos morar no porão de uma casa que ficava ao lado de um igarapé (braço de rio) e de uma ponte de ferro da Avenida Sete de Setembro.
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Naquela época, a capital amazonense, depois de 50 anos de estagnação econômica, voltou a ter um grande crescimento por causa da Zona Franca. Milhares de turistas iam até lá atrás de produtos importados baratos; por outro lado, tínhamos que enfrentar o custo de vida mais alto do Brasil.
Trabalhei como vendedor de mapas e como operador de teletipo na Varig até que decidi ir para a Construtora Andrade Gutierrez, que abria a rodovia BR-319, entre Porto Velho e Manaus. Meu acampamento ficava no meio da selva, a 200 quilômetros da capital. Convivia com cobras imensas no alojamento; encontrava onças a caminho do trabalho; fui mordido por tartaruga; e nadei em rio infestado de piranhas.
Depois de três meses trabalhando como apontador, recebi a notícia de que minha mãe passaria por uma cirurgia de alto risco e resolvi voltar para casa. Enchi a mochila com alguns produtos importados e embarquei num barco pelo rio Amazonas com destino a Belém, numa viagem de seis dias.
Na Amazônia, os rios são o meio de sobrevivência e de transporte da maioria das pessoas. No Pará, peguei carona com um caminhoneiro da minha região e 11 dias depois estava em casa.
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Após esta aventura a minha visão de Brasil era outra. Viajando de norte a sul, descobri a grandeza de um país com muita diversidade mas unido por um povo acolhedor. Separatismo jamais.
Para participar
O espaço O passado valeu a pena é publicado todos os domingos, com a colaboração de leitores. Para participar, basta enviar uma foto antiga que marcou a sua vida e contar em até 20 linhas sobre as lembranças que aquela imagem lhe traz. O telefone para contato é (48) 3216-3943 e o e-mail é diariodoleitor@diario.com.br. As colaborações podem ser enviadas também por carta, para o endereço SC-401, nº 4.190, torre A, Bairro Saco Grande, Florianópolis. O CEP é o 88032-005. A participação é gratuita.