Otávio Zanella
Professor aposentado, morador de Araranguá
Sou Neto de Vitório Zanella, que aparece sombreado na primeira foto e foi um dos cinco pioneiros a se instalarem no Ribeirão da Vargem, em Taió, e que foi o maior comerciante de farináceos, vendidos a uma região, que hoje corresponde a cinco municípios.
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Ousei por uma segunda e terceira fotos, porque as fotos ajudam a entender os momentos que a história se fez conosco.
Impossível caminhar na vida sem redirecionar-se sempre. A vida tem um princípio, um meio e um fim. Cada um de nós nasceu, foi cuidado, protegido, amparado pelos pais, em relacionamentos culturais e sociais em família, na escola e vida afora. A História se faz e se desfaz, para ser contada. Ela prediz continuidade, pelo princípio, pelo meio e fica pronta para que alguém lhe dê continuidade. Na casa de meu nono existem até hoje, pés de uva, quase centenárias, cuidadas pela sua sobrinha Olívia Valentini Berri. A tafona que alimentava toda a região com as farinhas de milho se desfez. A casa está lá imponente, bela, um paraíso singular-múltiplo. Houve momentos de lazer, na singela vida em pobreza marcante. Espinhos perfuraram os pés e sentimentos. Houve perdas da irmã, Melânia, assassinada pelo namorado e do mano Vitor, de câncer aos 25 anos. Do nosso genitor e da mãe amada. Mesmo órfãos, a vida seguiu, com afrontes de obstáculos, com pedras interpostas em nosso caminho.
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Há o momento vivenciado na foto em que aparecem o pai, a mãe e os primeiros filhos, sentados nos fundos do casarão, em Ribeirão da Vargem, Taió, SC. Em segundo plano aparecem o Nono Vitório Zanella, sombreado e sua filha caçula Hélia. Moramos na casa no nono, na segunda viuvez. Era preciso empreender a casa e a tafona, suporte em instante doloroso. Havia a fé. A casa antiga ficara para depósito, pegou fogo, quando eu, criança, galeguinho da foto, pus fogo em palhas de milho, felizmente controlado.
Num segundo momento, vemos uma foto, arquivada há 35 anos em que aparecem ao centro o Pai, a Mãe, e todos os filhos. Bela e saudável lembrança.
Semana passada nos reunimos, os irmãos. Não somos mais os mesmos. Corpos atléticos já não existem. Cabelos, ninguém sabe em que parte do mundo se perderam, nem suas tonalidades das cores originais. Os olhos verteram lágrimas. Saudade forte.
As mentes são de alegria interposta pela oportunidade de juntos estarmos. A casa guarda as lembranças tão marcantes de uma história real, feita na roça, com rústicas ferramentas, deixando rudes as mãos, marcadas a calos sangrantes do tempo em que do internato em férias íamos às lavouras. Lembranças das manhãs frias e gélidas, que sem calçados, íamos para a escola, pés descalços, tremendo de frio, dedos empedrados dos pés. Lembranças dos banhos no rio, frutas colhidas em abundância direto dos pés. Lembranças fortes, doloridas das ausências que se fizeram, marcando nossos momentos.
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Para participar
O espaço O passado valeu a pena é publicado todos os domingos, com a colaboração de leitores. Para participar, basta enviar uma foto antiga que marcou a sua vida e contar em até 20 linhas sobre as lembranças que aquela imagem lhe traz. O telefone para contato é (48) 3216-3943 e o e-mail é diariodoleitor@diario.com.br. As colaborações podem ser enviadas também por carta, para o endereço SC-401, nº 4.190, torre A, Bairro Saco Grande, Florianópolis. O CEP é o 88032-005. A participação é gratuita.