Prestes a completar sete meses, o duplo homicídio de Inês do Amaral, 57 anos, e a filha Franciele Will, 30 anos, ainda não foi solucionado. As duas foram assassinadas dentro de casa, na Rua Marquês Santo Amaro, no bairro Tribess, em Blumenau. Elas fazem parte de um dado estatístico alarmante: o Vale do Itajaí lidera o número de casos de mulheres mortas de forma violenta no Estado.

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Segundo dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP-SC), de janeiro a agosto, foram 18 vítimas. O número é maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 15 casos. Somente em Blumenau são quatro mortes e, em Itajaí, outras três.

Em todo o Estado, até agosto, o número de ocorrências chegou a 66. De acordo com a delegada Patrícia Zimmermann D’Ávila, coordenadora das Delegacias de Polícia de Atendimento à Mulher, na metade desses crimes o autor era alguém próximo da vítima. São casos como o registrado no fim do mês passado em Camboriú, quando o cabo da Polícia Militar Delmar Camargo, 45 anos, matou a ex-esposa e o filho e depois tirou a própria vida. Em Navegantes, Mariana Cristina dos Santos, 23 anos, foi assassinada com um tiro enquanto estava no quarto do casal. De acordo com a Polícia Civil, foi morta pelo companheiro Jhon Lenon Hipólito de Oliveira, 20 anos, que também se suicidou.

– Até o dia de hoje (terça-feira, dia 23) temos 35 feminicídios. Desses, em 12 casos, os autores se suicidaram. Outros 23 estão presos – afirma a delegada.

Conforme a delegada, as ocorrências são estudadas por município e região para que possa ser identificado algum fator gerador. Segundo ela, o que se percebe também é o crescimento de mulheres mortas por envolvimento com o tráfico. Para tentar reduzir os índices, a polícia está empenhada em um trabalho minucioso. O trabalho, no entanto, é desafiador, porque exige uma mudança cultural de respeito à vida.

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– Estamos focando no trabalho junto às escolas. Temos o programa “Polícia Civil Por Elas”, que está em fase de implantação para a rede de ensino. Acredito que a partir do ano que vem possamos debater o tema da violência contra a mulher em sala de aula com a atuação de nossos psicólogos policiais – adianta Patrícia.

Para o doutorando, mestre em Ciências Criminais e professor de Direito Penal e de Direitos Humanos, Marcelo Pertille, é preciso analisar mais do que números. É fundamental compreender de que modo a emancipação das mulheres vem se estruturando nessas cidades para que seja possível tratar do tema com mais propriedade do ponto de vista regional.

– Muitos teóricos afirmam que em cidades mais populosas e de vida pública mais intensa, onde as mulheres já transcenderam o âmbito privado para galgar seus direitos, elas acabam se deparando com o machismo enraizado, que ocasiona mais violência, já que nesse sentido estariam “desobedecendo” o imposto pela cultura dominante de que o espaço da rua, público, deve ser ocupado pelo ideal masculino ou por mulheres com autorização dos homens com quem convivem – afirma o especialista.

Polícia e Justiça atuam em conjunto para prevenção

Nesta semana, polícia e Judiciário prenderam dois homens com histórico de violência doméstica. Um caso foi no bairro Pomeranos, em Timbó, na quinta-feira pela manhã. O homem de 43 anos foi detido em casa após o cumprimento de um mandado de busca e apreensão na residência dele. No imóvel foi localizado um revólver calibre 38 com a numeração raspada, além de várias munições. Segundo o delegado Raphael Souza Werling, contra o homem há registrados oito boletins de ocorrência pelo crime de agressão à companheira. Após ser detido por posse ilegal de arma, ele passou por audiência de custódia, teve a prisão preventiva decretada e foi levado ao Presídio Regional de Blumenau.

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– Havia histórico de ameaça à mulher com arma de fogo. Então, quando soubemos disso representamos junto à Justiça para pedir um mandado de busca e apreensão para desarmá-lo e evitar um possível feminicídio – explica o delegado.

Em Pomerode, novamente em ação conjunta da polícia e do Poder Judiciário, um homem de 54 anos foi retirado de casa também na quinta-feira. Atendendo a uma determinação de afastamento do lar em decorrência de violência doméstica, ele precisou deixar o imóvel situado no bairro Testo Central.

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública de Santa Catarina, ao menos 3.337 mulheres foram vítimas de agressão física no Vale do Itajaí de janeiro a agosto deste ano. Desse total, 2.192 foram agredidas pelos próprios companheiros. As vítimas de qualquer tipo de violência podem buscar ajuda na Central de Atendimento à Mulher pelo telefone 180 e também junto à Polícia Militar no telefone 190.

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