A mineradora Vale registrou no quarto trimestre do ano passado prejuízo de R$ 5,628 bilhões, o primeiro resultado negativo trimestral desde 2002. Com isso, o lucro líquido de 2012 foi de R$ 9,734 bilhões, queda de 74,3% em relação a 2011. O prejuízo no último trimestre do ano passado se deveu a baixas contábeis e era esperado pelo mercado.

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O último prejuízo da mineradora foi no segundo trimestre de 2002, de US$ 150 milhões. Ao divulgar os dados na noite desta quarta-feira, a companhia informou que o lucro líquido básico – excluindo o efeito de itens não recorrentes, como as baixas contábeis – foi de R$ 22,2 bilhões ano passado, contra R$ 39,2 bilhões em 2011, queda de 43,4%.

A empresa afirma ter sofrido impacto pelo menor crescimento da economia global. “Uma das consequências do cenário macroeconômico adverso foi a queda generalizada dos preços de minérios e metais”, diz a empresa no balanço.

O presidente da Vale, Murilo Ferreira, procurou sinalizar uma melhora de preços neste ano.

– Acredito que o mercado será menos volátil e com demanda maior por matéria-prima – declarou Ferreira, em teleconferência com a imprensa.

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O executivo reforçou o compromisso da mineradora com corte de custos e eficiência. A estratégia, segundo Ferreira, será a companhia manter uma carteira de projetos menor, mas com potencial para remunerar de forma “extraordinária” o acionista. Ferreira reiterou o foco no desenvolvimento do projeto Serra Sul, orçado em quase US$ 20 bilhões. Em 2012, os investimentos da Vale foram de US$ 17,7 bilhões, abaixo dos US$ 21,4 bilhões previstos inicialmente.

As baixas contábeis com ativos somaram R$ 8,211 bilhões. Estão incluídas operações de níquel de Onça Puma (R$ 5,770 bilhões), no Pará, e minas de carvão na Austrália (R$ 2,139 bilhões). Outra parte das baixas, de R$ 4,002 bilhões, refere-se a investimentos, incluindo a siderúrgica CSA, parceria com a alemã Thyssenkrupp, localizada no Rio.

A CSA custou uma baixa de R$ 1,8 bilhão à Vale. De acordo com Ferreira, a baixa não teve relação com o processo de venda da siderúrgica, que está sendo negociada pela Thyssenkrupp. O executivo sustentou que, devido a problemas no início da operação da CSA, a Vale teve de fazer ajustes.

O prejuízo da Vale no quarto trimestre era dado como certo, lembrou o estrategista-chefe da corretora SLW, Pedro Galdi, porque as baixas contábeis eram esperadas pelo mercado. Segundo Galdi, foi melhor para a empresa “limpar” logo o balanço, para poder “fazer bonito” neste ano.

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– O resultado de 2012 já estava contaminado – disse Galdi, em entrevista antes do anúncio do balanço.

A receita operacional nos últimos quatro meses de 2012 totalizou R$ 24,707 bilhões, subindo 11,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior. Segundo a Vale, o aumento ocorreu principalmente devido à elevação preços na passagem do terceiro para o quarto trimestre.

No quarto trimestre, o preço médio do minério de ferro foi de US$ 93,66 por tonelada, contra US$ 83,69 no período imediatamente anterior. Na média anual, porém, o preço de 2012 ficou em US$ 96,77 por tonelada, contra US$ 136,07 em 2011.

Galdi destacou ainda que as baixas contábeis com desvalorização de ativos estão afetando os resultados de 2012 de todas as grandes mineradoras globais – BHP Billiton, Anglo American e Rio Tinto. As três mudaram seus presidentes nos últimos meses.

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– A crise trouxe isso. Quando as empresas compraram ou investiram nesses ativos valiam 100, agora valem 20 – exemplificou Galdi, mencionando que as baixas contábeis fazem parte de um processo de adaptação das companhias a um novo cenário internacional após 2008.