Se em 2017 o JEC/Krona ganhou tudo o que disputou, em 2018 não houve festa. Vice-campeão da Libertadores e da Copa do Brasil e eliminado precocemente da Liga Futsal, da Taça Brasil e do Catarinense, o Tricolor das quadras sabe que deixou a desejar nesta temporada.
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Mas, na opinião do mandatário do clube, o saldo não é ruim. Para Valdicir Kortmann, diretor de futsal do JEC, 2018 foi um ano de grandes mudanças no elenco. Coadjuvantes passaram a ser protagonistas, os campeões deixaram o clube e o calendário exigiu mais nesta temporada.
Por tudo isso, Kortmann aposta na mesma receita de 2016, quando não ganhou nada, manteve o time e foi campeão de tudo no ciclo seguinte.
A reportagem de "A Notícia" conversou sobre este tema e outros, como o orçamento para 2019, a sustentabilidade da equipe e a formação de novas lideranças. Confira abaixo o bate-papo.
Entrevista
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Qual é a sua avaliação da temporada? Valdicir Kortmann – Talvez o que foi mais frustrante foi o fim do ano. Nós ficarmos fora da final do Estadual não era algo que a gente esperava, até pela superioridade que a equipe demonstrou durante o ano nas competições que disputou. Mas o plantel era praticamente novo, com poucos atletas remanescentes. Tivemos ainda vários problemas de lesão durante o ano. E aí quem era coadjuvante teve de protagonizar. Não dá para jogar pela janela tudo o que foi feito. Creio que houve um pouco de instabilidade emocional que nos atrapalhou nos momentos decisivos, como na reta final da Liga (Futsal), na final da Copa do Brasil e nas semifinais do Estadual.
Por que esta instabilidade aconteceu? Valdicir Kortmann – Difícil diagnosticar o que aconteceu. O fator psicológico emocional do grupo do ano passado estava mais forte. E estava leve. Por exemplo, no Estadual do ano passado estave leve porque havia ganhado recentemente a Liga Futsal. Talvez pelo São Lourenço não ter exigido tanto neste ano, a equipe não sentiu tanto a eliminação do Magnus. Já contra o Tubarão fomos mais exigidos e não respondemos.
A equipe teve 14 renovações de contrato, algo parecido com o que houve em 2016. Mas além deles, não é necessário trazer alguns atletas "cascudos" para dar suporte ao time? Valdicir Kortmann – Vejo que a continuidade nos ajudará a sermos diferentes para o ano que vem em razão da união e da dedicação do grupo. Acho que alguns atletas “cascudos” também podem fazem diferença neste momento. E nós estamos em busca de atletas com este perfil. É um objetivo nosso contratar pelo menos um ala e um pivô. E não estamos nos apressando. Não queremos contratar por contratar. Queremos atletas que venham fazer a diferença.
Seriam só dois atletas? Do mercado interno ou externo? Valdicir Kortmann – Pode acontecer um terceiro, mas dependemos da renovação dos patrocinadores. Não queremos dar um passo maior do que a perna. Até o dia 15, no máximo 18, teremos a definição do nosso orçamento. Sobre o mercado, internamente está difícil. Não deixamos de analisar, mas estamos pesquisando. De fora, se não acharmos no nível que a gente queira, podemos avaliar fazer até um pré-contrato para encontrar alguém em julho. Já tivemos experiência positivas com o Fernandinho e o Jé no ano passado. Se tiver alguém da qualidade do Fernandinho no meio do ano, por exemplo, por quê não?
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E qual é a projeção de investimento? Maior ou menor do que este ano? Valdicir Kortmann – O investimento ficou maior esse ano em razão das despesas pelo maior número de competições (foram seis em 2018 e três em 2017). O investimento na equipe, comparando com o ano passado, é praticamente o mesmo. Talvez, um pouco menor. Acredito que teremos a mesma linha de investimento em 2019.
Neste ano, o JEC/Krona sofreu muito com o assédio do exterior. Não há como competir com as equipes de fora? Valdicir Kortmann – Competir com equipes da Espanha (Barcelona, Interviu e El Pozo) é muito difícil. É difícil competir também com o desejo do atleta. Vou citar o Xuxa e o Fernando, por exemplo. Na idade do Xuxa e do Fernando, pinta uma chance como essa, com todos benefícios, é realmente difícil dizer não. O que a gente vem construindo é um bom sentimento para eventual retorno. Tem alguns que vivem aventura. Mas a melhor forma de segurar o atleta é o que temos feito: reconhecimento, respeito e forma de trabalho.
Quais são os planos para o técnico Vander Iacovino? Valdicir Kortmann – Eu posso dizer que não é uma preocupação minha a continuidade do Vander em 2020. Não gosto de trabalhar com um tempo tão distante. Ele está no topo dos melhores técnicos do País. Isso está claro por tudo que ele já fez pela gente. A questão muito é a confiança. E vejo nele um sentimento muito grande de querer ganhar por nós, pela cidade, pela torcida. Isso gera confiança. Enquanto ele tiver essa confiança, acho difícil pensarmos em troca. A gente percebe também pelos atletas que ficam e que chegam que há um respeito muito grande por ele.
A Krona completará em 2019 o seu 15º ano de investimento no futsal. Está mais próximo do fim a continuidade do investimento? Se a Krona sair, você acredita na continuidade do futsal? Valdicir Kortmann – Quando nós decidimos voltar ao Joinville Esporte Clube, nosso principal objetivo era dar sustentabilidade ao projeto para que ele não se sustentasse apenas com a Krona. A Krona permanecer é algo que está ligado ao retorno de visibilidade do projeto. Enquanto isso for perceptível, como é hoje, não vejo nos meus sócios um motivo que nos leve a sair. Nós estamos trabalhando na gestão do JEC Futsal para ele ficar cada vez menos dependente de todos os parceiros. Inclusive, mostramos para outras empresas que vale a pena estar conosco. Para os atuais, mostramos que mesmo não ganhando títulos, o retorno de imagem é muito grande. Apresentamos estes levantamentos e nunca houve nenhuma empresa que não gostou do retorno que houve.
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A liderança de gestão é sua. Você já pensou em preparar um sucessor? Valdicir Kortmann – Eu procurei trazer modelo de gestão empresarial para o esporte. Acredito que as decisões precisam ser compartilhadas. Não gosto de tomar decisões sozinho. No momento, não estou fazendo um processo preocupado em ter um sucessor. O Vitor (Kortmann, filho e assessor de planejamento e gestão) pode ser, mas não estou preocupado em prepará-lo…
O Vitor seria esse sucessor? Valdicir Kortmann – Estou muito mais motivado em vê-lo participar do projeto. A vontade que ele tem de ver o projeto andar, ver o projeto grande, é algo muito dele. Ele fica até fazendo contas até para saber quanto custaria um ginásio. Isso é só um exemplo do quanto ele quer ver o projeto grande. Mas a minha preocupação é a sustentabilidade.
É muito comum os torcedores pedirem seu nome na administração do futebol do JEC. Você já foi questionado muitas vezes a respeito disso. Você enxerga isso algum dia? Vislumbrou isso na sua vida? Valdicir Kortmann – Já me passou pela cabeça…
Hoje, passa mais ou menos? Valdicir Kortmann – Hoje, menos. Já foi mais. Recuei um pouco quando passei a entender um pouco mais do mundo do futebol. É um mundo muito difícil. Por exemplo: no futsal, num clube campeão de tudo, dependemos de patrocinadores e é difícil passar credibilidade. No futebol, mais ainda. No JEC, vi muito o modelo do empresário colocar dinheiro. Esse não é um modelo correto. Vejo que o futebol cria desgaste grande baseado nisso. E me afastei dessa ideia porque não tenho prazo para deixar a Krona. Não é um projeto como projeto pessoal, não vejo como projeto de vida, não é algo que penso como "eu quero ser presidente do JEC". Não tenho essa ambição. Isso é o tempo que vai dizer.
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Mas você pode avaliar assumir o clube se ele estiver menos dependente de dinheiro de seus próprios diretores? Valdicir Kortmann – Não é isso. Não é que o Valdicir só quer pegar o JEC quando ele estiver bonitinho. Na verdade, não vejo facilidade para tirar o Joinville desta situação. Várias pessoas com credibilidade já tentaram isso e nem sempre tiveram resultado. O Joinville deveria ter se preocupado com a sua estrutura interna quando atingiu o ápice ao invés de apenas pensar na montagem do elenco. Não fez e agora as coisas estão mais difíceis.