O vaivém do dólar tem deixado um rastro de insegurança. Sem deixar claro que patamar pretende estabelecer o valor da moeda americana, mas tampouco disposto a permitir que a moeda flutue livremente, o governo federal causa confusão entre analistas e investidores.
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– Para entender o que o governo quer, só tendo uma bola de cristal – resume Élio Ozaki, gerente de câmbio do Banco Rendimento.
Trata-se de sensação cada vez mais comum entre profissionais do mercado financeiro, que reclamam dos cenários incertos para planejarem as operações. As intervenções do governo com mudanças na alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e os leilões do Banco Central (BC) têm elevado ou reduzido a cotação conforme as necessidades mais imediatas da economia. O problema é que essas necessidades parecem mudar de uma semana para outra, e ninguém mais sabe como o governo irá reagir.
No ano passado, o BC deixou que a moeda ultrapassasse os R$ 2,10 antes de irrigar o mercado com dólares e derrubar o valor da moeda, acenando que esta seria a banda desejada pelo governo. No entanto, nos últimos dois meses, viu a cotação cair até chegar a R$ 1,9584 na quinta-feira passada, menor nível desde 11 de maio de 2012. Quando acreditava-se que o câmbio estava livre, o Banco Central vendeu dólares em contratos futuros, para evitar uma queda mais brusca.
– O governo mostra que o câmbio acima de R$ 2 não interessa neste momento. Mas também não deixa claro qual valor mínimo – analisa João Medeiros, sócio da corretora Pionner.
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Para analistas, a mudança de postura é explicada pela preocupação com a inflação: a alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 0,86% em janeiro acendeu a luz de alerta. Para reduzir o preço de produtos importados e desencorajar reajustes da indústria nacional, o BC teria passado a desejar um dólar mais barato.
– A inflação se mostrou mais grave do que se imaginava. O governo quer que o câmbio caia para que os importados ajudem a segurar os preços – explica Ozaki.
Na semana passada, em Moscou, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se disse satisfeito com o patamar atual da moeda, abaixo de R$ 2 – ironicamente, a declaração foi dada durante a reunião do G-20, que discutiu, entre outros assuntos, os limites da intervenção governamental no câmbio.
Para diversos fins
Entenda a diferença das cotações do dólar:
Na BM&FBovespa
Conhecido como dólar pronto, é negociado no mercado à vista e geralmente tem liquidação em dois dias. A moeda também é negociada na bolsa no mercado futuro.
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Comercial
É o utilizado em operações como exportação, importação e transferências financeiras, geralmente feito por empresas.
A cotação Ptax
É uma média aritmética de consultas feitas pelo BC com base em operações realizadas das 10h às 13h, que serve de referência para liquidação de contratos que envolvem câmbio.
Turismo
É a denominação popular do câmbio flutuante, usado em viagens ao Exterior, contribuições a entidades, doações, heranças, aposentadorias e outros.
A lógica do câmbio
Para quem importa
O melhor é que o dólar se desvalorize, para que os produtos estrangeiros se tornem mais baratos.
Para quem planeja viajar ao Exterior
É a mesma situação do importador. Quanto mais barato for o dólar, mais em conta fica a compra de pacotes internacionais.
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Para quem exporta
A preferência é que o dólar seja mais caro, pois suas mercadorias ficam mais competitivas no mercado externo.
Para viajar e aplicar
Embora esteja no menor patamar dos últimos oito meses, a cotação do dólar não tem cenário claro. Uma declaração do ministro Mantega sugeriu que o novo mínimo admitido pelo governo para a cotação seria R$ 1,85, mas o BC tem intervido para evitar queda abaixo de R$ 1,95. Na dúvida, a melhor estratégia, conforme especialistas, é comprar dólares aos poucos, para diluir o risco.
Para quem prefere pagar despesas no Exterior com cartão, a dica é usar a modalidade pré-paga, que evita surpresas com o vaivém da cotação e ainda tem imposto menor. A movimentação no cartão pré-pago tem incidência de IOF de 0,38%, enquanto no cartão de crédito o imposto sobre despesas no Exterior sobe a 6,38%. Mesmo com as despesas de emissão, ainda compensa, e os pré-pagos são amplamente aceitos lá fora.
Com a possibilidade de alta do juro básico, é melhor evitar aplicações atreladas à Selic do tipo pré-fixado. Caso o juro suba, a remuneração será definida pela taxa no momento da aplicação (menor) em vez de no resgate (maior).
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