A escola de samba Vai-Vai mostrou que tem a nítida noção do que é espetáculo: conseguiu levantar a platéia de aproximadamente 30 mil pessoas que se encontravam nesta madrugada de domingo no Anhembi. Todas as escolas que passaram antes tentaram e até conseguiram mexer com o público. Mas a Vai-Vai mostrou algo mais e estabeleceu uma comunicação total na passarela. O segredo pode estar no samba-enredo “Vai-Vai Acorda Brasil”, em que a escola fez uma crítica à corrupção e defendeu a educação como a chave para resolver os problemas do País.

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A Camisa Verde e Branco abriu a segunda noite de desfile do Grupo Especial, em São Paulo, com a responsabilidade de se manter no grupo principal depois de passar dois anos seguidos no Grupo de Acesso com o enredo “Da pré-história ao DNA: a história do cabelo eu vou contar!” A escola desfilou dentro do tempo e, embora tenha surpreendido pelo inusitado do tema, não fez uma passagem luxuosa pelo Sambódromo. O desfile não chegou a levantar as arquibancadas, mas também não deixou de arrancar aplausos, principalmente na passagem da bateria.

A Mancha Verde homenageou o escritor Ariano Suassuna, que desfilou com a escola. O escritor foi aplaudido durante todo trajeto na passarela e cantou o samba-enredo de ponta a ponta da avenida. Durante pouco mais de uma hora, a Mancha Verde mostrou a trajetória de Suassuna e de sua obra em 25 alas e cinco carros alegóricos. “Maravilhoso!”, foi como definiu o presidente da escola, Paulo Serdan. Para o carnavalesco Eduardo Caetano, a animação do público correspondeu à animação da escola, que, na avaliação dele, teve um desempenho “ótimo”. Após dois anos longe do Grupo Especial, a Mancha Verde entrou com 3.600 participantes na avenida confiante na conquista do título. “Pelos ensaios técnicos, acho que temos grandes chances de brigar pelo título.”

A X9, que entrou na avenida para alertar sobre o meio ambiente, teve problemas durante o desfile. O carro alegórico “Aquário”, representado por uma grande tartaruga marinha, teve dificuldades na passagem da concentração para a avenida por causa do tamanho das duas nadadeiras. Para evitar um eventual atraso, a ala dos peixes, que desfilava atrás do carro alegórico, teve que passar à frente, o que causou uma desorganização momentânea no desfile.

Com isso, a escola conseguiu entrar na avenida no tempo previsto e ainda foi fortemente aplaudida pelo público. Quando perceberam a dificuldade, as pessoas que assistiam ao desfile perto do local foi de solidariedade e apoio aos carnavalescos, que recebiam aplausos enquanto tentavam resolver o problema. O que poderia ter se tornado um grande problema, pelo menos para o público foi encarado como uma grande demonstração de superação. A X9 conseguiu também transpor a barreira que separa emocionalmente as torcidas e levantou a platéia, que cantou junto com os 3.800 integrantes da escola o samba “O Povo da Terra Está Abusando. O Aquecimento Global Vem Aí… A Vida Boa Sustentável Pede Passagem.”

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Com um samba que exaltava a cidade de São Paulo, a Mocidade não chegou a contagiar as arquibancadas. A escola da zona norte da capital paulista mostrou da gastronomia à noite paulistana e fez homenagens a artistas e à diversidade sexual de São Paulo. O carro abre-alas da escola já dava o recado da imagem de grandeza da cidade que a Mocidade Alegre quis passar, com uma enorme locomotiva que trazia alusões a marcos paulistanos como o Monumento aos Bandeirantes e a Torre do Banespa. A alegria dos componentes da escola se mostrava a cada nova ala, que destacava tribos paulistanas como a dos metaleiros, do hip-hop e até a de motoboys.