Com as mãos ainda úmidas do álcool que foi borrifado na entrada do setor 1 da Vila Germânica, em Blumenau, Lucéa Licinio, 67, entrega o documento e a carteira de vacinação para a atendente que está sentada atrás de um dos computadores. Animada, ela garante à desconhecida que quando tomou a primeira dose da vacina contra o coronavírus, no começo do mês, foi ela também quem a recepcionou. Nesta semana, chegou a vez da segunda aplicação.

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Dois setores do Parque Vila Germânica, conhecido por sediar a Oktoberfest, tornaram-se referência em relação à Covid-19 em Blumenau. Em uma ponta, o atendimento a casos suspeitos. Em outra, a vacinação. São cerca de 40 vacinadores que trabalham de domingo a domingo na corrida contra o tempo para imunizar o maior número de pessoas possível. A capacidade é de 3,6 mil por dia, mas o ritmo depende diretamente dos frascos enviados a conta-gotas pelo Ministério da Saúde.

Lucéa garantiu o reforço porque sabe da importância de ter a imunização completa e dentro do prazo estipulado. No caso da vacina que tomou, a Coronavac, o tempo ideal é de 14 a 28 dias, conforme explica o infectologista Amaury Mielle.

— Para atingir o nível de proteção, há vacinas que precisam de duas ou até três doses. Tudo isso é estudado, incluindo o período entre as aplicações. No caso da Coronavac, de 14  a 28 dias. Da Astrazeneca, até três meses — detalha o especialista.

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Para não esquecer a data da segunda dose, Lucéa ligou no 156, número disponibilizado pela prefeitura para agendamento de horários e esclarecimentos de dúvidas. Na última terça-feira (27), o entusiasmo a tirou cedo da cama. Do Garcia, bairro onde mora, seguiu para a região central de carro. Desde a chegada da pandemia, Lucéa evita ao máximo sair de casa.

— Eu moro sozinha. Sou eu e meu cachorro, então é mais fácil (se prevenir da doença). Passei por uma internação neste ano, para retirada de um dos pulmões, então o cuidado tem que ser redobrado — disse enquanto caminhava até uma das 19 cabides de vacinação, após passar pela triagem.

No dia em que Lucéa foi, o movimento era tranquilo na Vila Germânica. Não foi preciso esperar um segundo sequer do momento da chegada à aplicação. A única pausa que fez foi para bater-papo com as atendentes. A empolgação era nítida nas palavras e gestos. Quando entrou no pequeno container que serve de sala de vacinação, ouviu as orientações da enfermeira Ocilene Monteiro.

— Manda a ver! — brincou ao ver o líquido ser retirado do frasco pela profissional.

Ocilene mostra a seringa com a substância e depois da aplicação no braço direito exibe de novo a Lucéa, para provar que a vacinação realmente aconteceu. Ela explica que a desconfiança da população gerou a orientação a todos os vacinadores da Vila Germânica, que precisam mostrar o antes e depois para evidenciar que não houve fraude.

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— Tem gente que chega filmando, fazendo sinal para o familiar olhar se a aplicação foi correta, se a seringa está vazia. É constrangedor, mas não há muito o que fazer — opina Ocilene.

Porém, há muita gratidão também.

— É um dia maravilhoso. Dá uma paz, é uma sensação única — descreveu Lucéa, depois de mais um carimbo na carteira de vacinação. Agora ela e mais de meio milhão de catarinenses fazem parte do grupo que recebeu as duas doses necessárias da imunização contra o coronavírus no Estado.

Enfermeira mostra a seringa vazia após a aplicação da vacina
Enfermeira mostra a seringa vazia após a aplicação da vacina (Foto: Patrick Rodrigues)

Mielle ressalta que há um tempo para a resposta de anticorpos. Por isso, para se considerar imunizada, a pessoa deve esperar até quatro semanas após a segunda dose. Ainda assim, a vacina não é um passaporte de imunidade, já que não bloqueia totalmente a contaminação, mas impede a piora do quadro de saúde caso a infecção ocorra. Neste sentido, os cuidados com distanciamento e uso de máscara precisam continuar, já que há risco de transmissão, mesmo imunizado.

Negligenciam a segunda dose

— Quem não quer se livrar desse mal?

Esta foi a frase que Gilberto Herkenhoff, 67, usou para resumir o que sentiu ao receber a segunda dose da vacina na Vila Germânica. No entanto, nem todos pensam como ele. Há quem falte no dia e horário marcado para a segunda aplicação. O comportamento preocupa a especialistas como o infectologista Amaury Mielle:

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— Quando você não complementa ou passa o tempo estipulado, não há garantia do quanto imunizado está — alerta o médico.

Ou seja, os estudos indicam o percentual de eficácia das vacinas dentro de determinadas janelas de tempo. Se a pessoa não procurar o reforço, haverá falha no processo vacinal. A imunização ficará incompleta.

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Em meados de abril, um levantamento do Ministério da Saúde mostrou que mais de 44 mil catarinenses perderam o prazo para tomar a segunda dose da Coronavac. Em Blumenau, foram quase 200. A Secretaria de Saúde do município faz buscas ativas para localizar os faltantes. As justificativas para as ausências, porém, são desconhecidas.

— Falta clareza. Cabe aos municípios correrem atrás dessas pessoas. O que aconteceu? Por que não voltaram para a segunda dose? Elas foram devidamente orientadas quando receberam a primeira dose? —  critica Mielle.

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Para ele, o desconhecimento e notícias falsas podem ser as maiores explicações para essa falta de interesse. Por sorte, para esses casos há remédio: doses de informações diárias resolvem o problema.

Falta segunda dose

Com cidades relatando terem zerado o estoque de vacinas para a segunda dose, a Secretaria de Saúde de Blumenau esclareceu que o problema ainda não atinge a cidade. Nesta sexta-feira (30), em nota, a prefeitura explicou que as 34 mil vacinas para segunda dose recebidas até o momento são suficientes para garantir a aplicação daquelas pessoas com agendamento até o próximo dia 7. 

São 2.199 pessoas que devem receber a segunda dose da vacina até esta data. A expectativa é de que o governo do Estado envie nova remessa até o começo da próxima semana.