A vacinação de crianças contra a Covid-19 começou nesta sexta-feira (14) no Brasil. Em SC, a imunização inicia neste sábado (15). Com a demora no início da campanha, muitas dúvidas surgiram sobre a segurança dos imunizantes e as diferenças da vacinação dos outros grupos e das crianças entre cinco e 11 anos.

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Depois da aprovação da Anvisa, que ocorreu ainda em dezembro, o imunizante pediátrico da Pfizer será aplicado primeiramente nos grupos prioritários — ou seja, crianças com deficiência permanente, com comorbidades, indígenas, quilombolas e crianças vivendo em abrigos e em lares com pessoas do grupo de risco para a Covid.

Só depois é que vem o público geral.

Para tirar todas as dúvidas sobre a vacinação de crianças contra a Covid, o Diário Catarinense pediu aos leitores que enviassem questões por meio das redes sociais do jornal e esclareceu as dúvidas com a epidemiologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do Observatório Covid-19 BR, Alexandra Boing. Confira trechos da entrevista com a especialista:

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A vacina da Covid para crianças é segura?

Alexandra Boing — Os pais e responsáveis podem ficar tranquilos, porque a vacina é segura e eficaz. Todos os testes foram realizados, o rigor científico foi mantido, nenhuma etapa foi pulada e os resultados foram analisados por inúmeras agências [de regulação] no mundo inteiro. O estudo [com crianças] indicou que além da eficácia do imunizante, também temos segurança.

E um resultado extremamente importante além do estudo, é que nós já temos milhões de crianças vacinadas no mundo e sem eventos adversos significativos até o momento. Existe toda uma preocupação com relação à questão da miocardite, que vem sendo colocada muito nos grupos de WhatsApp, mas o risco de se ter uma miocardite — que é um evento raro por vacinação — é muito menor do que o risco de miocardite, por exemplo, pela Covid-19.

Enfermeira aplica dose de vacina da covid em menina, que usa máscara cirúrgica
Vacinação contra Covid para crianças já começou em diversos países. Na imagem, menina recebe dose da vacina pediátrica da Pfizer na Costa Rica (Foto: Ezequiel Becerra/AFP)

Por que estamos vacinando crianças agora, sendo que não falávamos sobre isso no ano passado?

As vacinas foram primeiramente desenvolvidas para os adultos idosos, pois esse grupo era o que tinha o maior risco para o agravamento e para o óbito, mas conforme a pandemia foi avançando já se observou a necessidade do desenvolvimento de vacinas para os adolescentes e crianças. Então, já se tinha uma necessidade para o desenvolvimento de vacinas para este grupo e isso é importante para poder aumentar a imunidade coletiva e proteger essas crianças.

Para se ter uma ideia, os estudos com voluntários já iniciaram no primeiro semestre de 2021. Ou seja, em 2021 vários países já vacinavam crianças, inclusive a partir de três anos de idade, dois anos de idade. E algumas farmacêuticas já estão desenvolvendo vacinas para as crianças ainda menores, a partir de seis meses de idade.

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Se temos poucos casos, por que devemos vacinar crianças contra a Covid?

Isso acontece quando as crianças são comparadas aos adultos, mas essa carga da Covid em crianças no Brasil é alta. Não podemos continuar negligenciando, precisamos parar um pouco com esse mito que a criança não adoece, que a criança não morre de Covid. Temos muitos casos de crianças [com Covid], temos mortes de crianças por Covid-19.

Para se ter uma dimensão, o Brasil é o segundo país com o maior número de mortes de crianças e adolescentes [por Covid]. Em 2021, a Covid-19 matou quase duas vezes mais do que todas as doenças que são preveníveis, todas essas doenças somadas. Também não podemos esquecer que a Covid-19 não é uma questão binária: você ter ou não ter, você viver, sobreviver. Há uma carga envolvida, o risco da síndrome inflamatória multissistêmica, a questão da Covid longa, são repercussões para a vida da criança que podem trazer um impacto importante.

Precisamos parar um pouco com esse mito que a criança não adoece, que a criança não morre de Covid.”

Além disso, ao aumentar o número de vacinados, além dessa proteção direta da vacina para as crianças, temos um aumento na redução da taxa de transmissão do vírus, o que diminui a oportunidade de surgimento de novas variantes, aumentando a imunidade coletiva. Dessa forma, a vacinação nessa faixa-etária acaba tendo um efeito de proteção em toda a população.

Qual é a diferença da vacina dada para adultos e adolescentes (maiores de 12 anos) para a vacina das crianças (entre 5 e 11 anos)?

No caso da vacina da Pfizer para as crianças, a dosagem e a composição são diferentes da utilizada para os maiores de 12 anos. Essa diferença também está na quantidade de doses por frasco de vacina, no tempo de armazenamento desse imunizante e também em relação ao próprio frasco.

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Em relação à dosagem, as crianças de cinco a 11 anos vão receber 0,2 ml, o que acaba equivalendo a 10 microgramas, um terço da dose que hoje é administrada na população de 12 anos ou mais. Outra diferença é que o frasco da vacina das crianças comporta dez doses, mais do que as doses que tem no outro frasco. O tempo de armazenamento também muda. Enquanto para os mais velhos o imunizante pode ficar na geladeira entre 2 a 8º C durante um mês, para os menores é permitido que fique até 10 semanas.

Dois frascos de vacina da Pfizer, uma com embalagem laranja (tamanho menor) e outra com embalagem em roxo
Frascos de vacina pediátrica da Pfizer têm cor laranja para facilitar a identificação pelas equipes de vacinação (Foto: Tobias Schwarz/AFP)

E existe também uma diferença na cor da tampa, que é laranja. Mesmo que pareça só uma mudança simples, ela é importante para facilitar a identificação pelas equipes de vacinação e também pelos responsáveis que vão acompanhar essas crianças, para que não tenhamos erros de dosagem.

Existe a possibilidade de vacinarmos menores de cinco anos contra a Covid?

Vários países já vacinam crianças a partir de dois ou três anos de idade. Temos a vacina da Sinopharma, da Sinovac, que já é utilizada a partir de três anos. Essas vacinas são utilizadas no Chile e na Argentina. Em Cuba, já se vacina crianças a partir de dois anos de idade com a vacina Soberana. E os laboratórios estão desenvolvendo vacinas para as faixas etárias ainda menores.

A Pfizer iniciou estudo ano passado com bebês a partir de seis meses e existe uma previsão de resultados para as crianças a partir de dois a quatro anos, uma divulgação desses resultados, até abril deste ano. A Moderna também iniciou estudos com bebês a partir de seis meses. Isso vamos acompanhando nos próximos meses, a incorporação dessas outras faixas-etárias, que não estão cobertas atualmente, o que é muito importante, porque é mais uma ferramenta para o enfrentamento da pandemia.

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