Pelo menos 163 policiais militares assinaram termos de recusa de vacinação da Covid-19 em Santa Catarina. Os documentos, obtidos pela reportagem da NSC, foram assinados em unidades da Polícia Militar em 36 cidades catarinenses — algumas patrulham também municípios vizinhos. Veja abaixo a lista das cidades.
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Os termos têm sido assinados desde o início da vacinação das forças de segurança no Estado, em 9 de abril. Nesta segunda-feira (31), foram mais sete declarações. A vacinação não é obrigatória na PM.
O professor titular da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani, diz que a resistência à imunização tem acontecido em polícias do país inteiro — principalmente nas militares. É o que o pesquisador chama de “ideologização” da PM:
— Ela (a PM) possui várias praças, vários oficiais, que são seguidores cegos do presidente da República. Toda a ideologia bolsonarista se coloca contra a vacinação, isto acaba fazendo com que estas pessoas acabem adotando uma postura política de recusar a vacinação.
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A Covid-19 contaminou 2.426 policiais militares catarinenses, segundo os últimos números divulgados pelo Estado. Com um efetivo de aproximadamente 10 mil agentes, é como se um em cada quatro tivesse pegado a doença. Três PMs morreram pelo coronavírus. Os afastamentos pela Covid impactaram na rotina de tropas inteiras. É o caso da companhia que faz o policiamento rodoviário na Grande Florianópolis.
— Tivemos guarnições inteiras contaminadas, tivemos afastamentos, teve situações, em semanas, que tivemos 5, 6 policiais afastados em razão da Covid em momentos mais críticos — diz o tenente Eduardo Sérgio Nunes, que comanda os 60 policiais da unidade.
Em toda a PMSC, os afastamentos chegaram a 4,8 mil policiais. O tenente Nunes explica que todos sob seu comando entenderam o risco à saúde e a importância de se vacinar. Nenhum assinou o termo de recusa.
— Nossa atividade é em contato direto com o público, um serviço 24 horas, sete dias por semana — explica.
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A maior parte do público-alvo, na PM, é o efetivo da chamada “rádio-patrulha”. São as viaturas que fazem rondas e atendem ocorrências de todo tipo. O cabo Thiago Ribeiro, que atua em Palhoça, lembra de uma situação extrema:
— Tivemos que tirar algumas pessoas de um apartamento que sentiam alguns sintomas e não queriam ir para o hospital, para não perder o emprego. Tivemos que intervir e conduzir uma pessoa para o hospital, porque ela podia propagar para outras pessoas.
A ação dos policiais contou com o auxílio da vigilância em saúde do município.
O cabo teve Covid no fim de 2020, mas com sintomas leves. Nesse ano, Ribeiro tomou a vacina. Ele conta que teve um colega, no 16º batalhão, que precisou ser intubado.
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Nos termos de recusa, os praças e oficiais da PM podem escrever o fabicante da vacina que não querem tomar. Alguns especificaram “Coronavac” e outros “Asteazeneca”, porém outros escreveram apenas “Vacinação Covid-19”. Um tenente foi além: “Qualquer uma”.
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Joinville é a cidade com o maior número de declarações obtidas pela NSC. Entre 14 e 16 de abril, 42 policiais dos dois batalhões da cidade manifestaram a recusa. Em vez de detalhar o fabricante, um deles escreveu: “tenho dúvidas em relação a eficácia devido instabilidade política do Brasil (sic)”.
Algumas declarações também alertam sobre implicações jurídicas — sem especificar quais — e sobre a possibilidade de afastamento do policial.
O professor da FGV, Rafael Alcadipani, defende que eles não entram em contato com a população.
— A função do Estado é zelar pela saúde das pessoas, o Estado não pode mandar um agente que pode estar com Covid. É muito importante lembrar que muitos policiais passaram na frente de outros grupos prioritários — explica.
Na maior polícia militar brasileira, a paulista, pelo menos 96% do efetivo já foi imunizado. Em nota à NSC, a PMSP disse que houve queda de 71% nas internações em UTI e de 34% em enfermarias, entre o efetivo paulista. Os afastamentos, que chegaram a 1,7 mil em uma semana, agora giram em torno de 300.
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A PM catarinense não quis se manifestar sobre o assunto. No Estado, 42% do efetivo já recebeu pelo menos uma das doses, o que demonstra que a resistência vem de uma pequena parte. Se existe a recusa, por um lado, também há quem defenda a imunização nos batalhões.
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— Conversei com pesoas, tentando incentivar e mostrar para eles que é uma situação extrema e que a gente tem que ajudar tomando a vacina. Tem pessoas que se espelham na gente, temos que ser o exemplo — finaliza o cabo Thiago Ribeiro.
Cidades com casos de dispensa de vacina na PM
Lages
Curitibanos
Itapoá
São José
Schroeder
Corupá
Sombrio
Joinville
Barra Velha
Canoinhas
Ibirama
Santo Amaro da Imperatriz
Governador Celso Ramos
Rio do Sul
Florianópolis
Guaramirim
Botuverá
Navegantes
Praia Grande
Garopaba
Balneário Camboriú
Maracajá
Nova Veneza
Chapecó
Ituporanga
Petrolândia
Itapema
Cocal do Sul
Dionísio Cerqueira
Capinzal
Anchieta
Rio das Antas
Caçador
Fraiburgo
Içara
Imbituba
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