A Universidade Federal do Paraná (UFPR) anunciou nesta segunda-feira (26) que deve iniciar em seis meses os testes em humanos de sua vacina contra a Covid-19.
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Segundo os pesquisadores, a vacina, ainda em fase pré-clínica, ou seja, de testes em animais, já produziu resposta imunizante semelhante e até superior à demonstrada na mesma etapa pela AstraZeneca, da Universidade de Oxford, produzida no Brasil em parceria com a Fiocruz.
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O mecanismo de proteção desenvolvido pela UFPR é parecido com o da Novavax e da Versamune, vacinas que também ainda estão em fase de estudos. Ele envolve a produção de partículas de um polímero biodegradável revestidas com partes da proteína spike, que é responsável pela entrada do coronavírus Sars-CoV-2 nas células. Essa proteína é produzida com o auxílio da bactéria Escherichia coli.
O material utilizado para produzir o polímero, segundo os cientistas, já é encontrado no Brasil ou poderá ser produzido com tecnologia 100% nacional. Assim, a vacina terá um custo de produção abaixo de R$ 5 por unidade e pode chegar ao mercado custando até R$ 10, valor bem inferior ao de outros imunizantes que estão sendo aplicados ao redor do mundo.
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— É difícil comparar esse custo com o de outras vacinas, já que as empresas que as vendem nem sempre usam seu preço real. Outros fatores entram na negociação, mas, como outros imunizantes custam entre US$ 25 e US$ 40, este valor fica muito abaixo, de fato — afirma o professor Emanuel Maltempi de Souza, um dos pesquisadores envolvidos no projeto.
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As características do imunizante facilitam a estabilidade da vacina em temperatura ambiente e sua produção em outras formas, como em pó, o que facilitaria o transporte e armazenamento de doses. Além da forma injetável, os cientistas estão testando a aplicação com spray nasal.
— A administração via spray nasal tem bastante impacto sobre a funcionalidade da vacina, não só por questão de praticidade na aplicação mas por causa da redução significativa da transmissão do vírus — diz o professor Breno Castello Branco Beirão.
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Os estudos foram iniciados em junho do ano passado com o financiamento de R$ 230 mil do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e estão adiantados, de acordo com o cronograma inicial do projeto. Ainda são necessários três ensaios antes de submeter os estudos à Anvisa. O primeiro é o de neutralização, no qual se verifica por quanto tempo o nível de anticorpos permanece alto no organismo dos animais. Depois, é preciso comprovar se os anticorpos são capazes de bloquear a infecção e, por fim, realizar o teste toxicológico, que detalha os efeitos colaterais da solução.
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Os pesquisadores estimam que a vacina poderá ser disponibilizada ao público a partir de 2022. O governo do Paraná anunciou um aporte de R$ 995 mil ao projeto – R$ 700 mil para compra de equipamentos e custeio da pesquisa e R$ 295 mil para pagamento de bolsas para pesquisadores em pós-doutorado. Em contrapartida, a UFPR investirá R$ 35 mil.
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Testes da vacina em humanos
A UFPR informou que, para a fase de testes em humanos, prevista para o final de ano, devem ser firmadas novas parcerias, como com o Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná). Como até lá se espera que uma parcela considerável de brasileiros esteja imunizada, a fase clínica pode envolver também o comparativo de eficácia entre os imunizantes já aplicados e o que está sendo desenvolvido pela UFPR.
— Esse pode ser um fator que leve a um atraso na liberação de qualquer uma das vacinas que estão em fase similar à nossa, inclusive nas chamadas 100% nacionais que já solicitaram autorização para fase 1. Essas vacinas provavelmente demorarão mais tempo para amadurecer e ser autorizadas para utilização — diz Souza.
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Em contrapartida, o pesquisador enfatizou a importância do desenvolvimento de novos imunizantes, já que a durabilidade de resposta das doses atualmente aplicadas no Brasil ainda é pouco conhecida e sofre influência do número crescente de variantes do vírus.
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Outro diferencial da vacina que está sendo desenvolvida pela UFPR são suas características multifuncionais. Como apontaram os cientistas, a tecnologia estudada pode ser recombinada para combater outras doenças no futuro, como dengue e zika. O reitor da instituição, Ricardo Marcelo Fonseca, enalteceu o papel dos pesquisadores e alertou para os cortes constantes de verbas de pesquisas em universidades brasileiras.
— A ciência tem nos dado as condições para a saúde e às vezes até mesmo para a sobrevivência. Os que militam contra a ciência, nesse momento de pandemia, são os militantes da morte.
*Por Katna Baran.