Para os cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma vacina contra o zika vírus não chegará ao mercado a tempo para lidar com o atual surto da doença no Brasil e na América Latina.
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Com essa conclusão alarmante, a OMS fechou nesta quarta-feira três dias de trabalho com cientistas de todo o mundo sobre como dar uma resposta à crise. Três áreas de trabalho foram escolhidas para concentrar os esforços: criar testes para diagnosticar dengue, zika e chikungunya, desenvolver novos métodos de combater o mosquito e pesquisar uma vacina que tenha as mulheres como foco.
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Mas, para os cientistas no evento, fica claro que a comunidade internacional está longe de obter respostas.
“Especialistas em controle de vetores têm declarado claramente que intervenções clássicas — como o spray de inseticida — não têm tido nenhum impacto significativo no combate à transmissão de dengue e o mesmo deve ocorrer com o zika”, disse a OMS em comunicado oficial.
Fracasso dos inseticidas
— Isso é uma informação importante, pois precisamos investir em instrumentos que funcionem — apontou Marie Paule Kieny, vice-diretora da OMS.
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Para ela, os inseticidas não barraram a dengue.
— Precisamos avaliar se esse método tem real impacto e, no longo prazo, se deve ser continuado — afirmou.
Segundo a OMS, novos métodos precisam ser desenvolvidos. Entre os candidatos está a redução de mosquitos por meio do uso de bactérias que infectem a população dos insetos, a exemplo dos testes feitos com a Wolbachia no Brasil — que começam a dar resultados positivos. Outra metodologia examinada é a irradiação dos mosquitos.
— Estratégias que tornam os mosquitos geneticamente inférteis podem ter mais chances de funcionar — disse Marie. — Na semana que vem, faremos uma nova reunião de emergência na OMS para examinar isso.
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Para a entidade, o fracasso do “fumacê” apenas escancara o fato de que novos produtos precisam ser elaborados com urgência. Hoje, 60 companhias têm se lançado em uma corrida por soluções para o zika vírus. No total, 31 instrumentos de diagnóstico estão sendo pesquisados, além de 18 vacinas diferentes, 8 produtos de terapia e 10 instrumentos para o controle do vetor.
Jorge Kalil, presidente do Instituto Butantã de São Paulo, que também participou das reuniões da OMS, é outro a admitir que “o controle (do vetor) fracassou”.
— Tudo o que foi feito aparentemente não funcionou. Talvez tenhamos de adotar outras estratégias — disse.
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Tarde demais
Quanto a vacinas, os especialistas convocados pela OMS apontam que, ainda que seu desenvolvimento seja uma prioridade, ela não ficará pronta para ser usada no atual surto.
— É possível que imunizantes venham tarde demais para o atual surto latino-americano — admitiu Marie Paule.
A meta inicial é criar um produto que tenha como prioridade imunizar as mulheres, por causa do impacto que o zika vírus pode ter em grávidas. Kalil estima que, na melhor das hipóteses, a primeira vacina chegaria ao mercado em três anos. Para atingir isso, sua estratégia é de partir de um vírus inativado:
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— Acho que é uma previsão otimista. Uma vacina pode levar 15 anos para sair.
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*Estadão Conteúdo