A primeira vacina eficaz contra o Ebola, vírus que deixou mais de 11 mil mortos na África ocidental desde dezembro de 2013, está a partir de agora “ao alcance das mãos” segundo a OMS, tendo em vista os resultados preliminares promissores do primeiro teste realizado na Guiné.

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Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial de Saúde, vê na vacina “um avanço muito promissor”. “Uma vacina eficaz será uma arma suplementar muito importante na luta” contra o Ebola, ressaltou Chan em comunicado.

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Testada na Guiné em mais de 4 mil pessoas, a vacina VSV-ZEBOV – desenvolvida pela Agência de Saúde Pública do Canadá, cuja licença é detida pelos laboratórios americanos NewLink Genetics e Merck – se mostrou 100% eficaz, segundo estudo publicado nesta sexta-feira na revista médica britânica The Lancet.

Estes resultados suscitaram reações muito favoráveis entre os especialistas, mas também nos países atingidos pela epidemia.

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– É uma grande novidade e o acontecimento médico mais promissor até hoje na luta em curso para parar o Ebola – comentou o virologista britânico Benjamin Neumann.

Um porta-voz do governo de Serra Leoa declarou que qualquer vacina eficaz “é bem-vinda caso seja aprovada pela OMS”.

– Esta novidade iluminou meu dia – comemorou Julian Williams, farmacêutico de Freetown, capital do país.

Iniciada no sul da Guiné, a epidemia atual de Ebola na África ocidental é a mais grave desde a identificação do vírus na África central em 1976, com 27.748 casos registrados. Mais de 99% das vítimas se concentram nos três países (Guiné, Serra Leoa e Libéria), onde a doença desorganizou os sistemas de saúde, devastou as economias e afugentou os investidores.

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Apesar da lentidão para agir, a comunidade internacional acabou por se mobilizar massivamente desde o último outono para tentar encontrar tratamentos e vacinas até hoje inexistentes.

A vacina VSV-ZEBOV pode assim ser testada na Guiné em tempo recorde – menos de um ano, quando normalmente é necessário quase 10 anos para que uma vacina chegue a este estágio de desenvolvimento, ressaltam diversos especialistas.

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“Chega de Ebola”

Com o título “Chega de Ebola”, o estudo, iniciado em 23 de março, foi realizado graças a uma importante cooperação internacional envolvendo a OMS, assim como especialistas da Noruega, França, Suíça, Estados Unidos, Reino Unido e Guiné.

O teste envolveu mais de 7 mil pessoas que tiveram contato com pacientes infectados: 4.123 pessoas sorteadas receberam a vacina imediatamente, enquanto 3.528 outras receberam a vacina 21 dias depois. No primeiro grupo, nenhum caso de Ebola foi detectado ao longo de 10 dias após a inoculação, enquanto no segundo grupo 16 apresentaram os sintomas.

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Diante destes resultados, os realizadores dos testes autorizaram todas as pessoas com risco de receber a vacina imediatamente, explicou a OMS. Após esta fase, o teste deve ser realizado entre adolescentes de 13 a 17 anos e eventualmente indivíduos de 6 a 12 anos, segundo a Organização.

“Até agora, a vacina parece muito eficaz em todas as pessoas vacinadas”, mas “será necessário dispor de dados mais conclusivos para saber se é possível conferir uma ‘imunidade coletiva’ a populações inteiras”, reconheceu a OMS.

A vacinação coletiva não está prevista com fins de prevenção, como é o caso para a poliomielite ou a rubéola, segundo a Merck.

O laboratório explicou que uma vez obtidas as autorizações sobre o mercado, produzirá e estocará doses de vacina suficientes para futuras epidemias de Ebola.

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Outras vacinas estão sendo desenvolvidas atualmente, algumas em estágio bastante avançado. É especialmente o caso da “ChAd3”, desenvolvida pela farmacêutica britânica GSK (GlaxoSmithKline) com o instituto americano de alergias e doenças infecciosas (Niaid). A vacina está sendo testada na Libéria desde fevereiro.

Prova dos progressos constatados na luta contra a doença, o secretario-geral da ONU, Ban ki-Moon, dissolveu nesta sexta-feira a Missão da ONU pela ação de urgência contra o Ebola (MINUAUCE) e decidiu passar o controle completo da epidemia para a OMS.

Levando em conta as lições do passado, a OMS reconheceu que foi muito lenta ao reagir e apresentou um plano de reformas em seis pontos destinados a reforçar sua capacidade de resposta em caso de alerta sanitário.

* AFP