Olhar desconfiado, agitação, balanço com a cabeça. De imediato, a recusa em aceitar encaminhamento social e muito menos para alguma clínica. Assim reagiam os moradores de rua abordados pela força-tarefa capitaneada pelo Ministério Público de SC, na manhã desta-feira, sob o viaduto da cracolândia entre Florianópolis e São José, nos bairros Monte Cristo e Campinas. Houve um grande aparato com policiais civis, militares e rodoviários federais, além da Guarda Municipal. As autoridades justificaram a necessidade de segurança das próprias equipes da assistência social, pois o lugar apresenta índices de criminalidade.
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O vai e vem dos usuários era constante. Um grupo de dez pessoas sentou no canteiro da calçada enquanto acontecia a abordagem.
— Cada um tem a sua hora, a minha ainda não chegou — disse um homem de 37 anos de Foz do Iguaçu, no Paraná.
Policiais abriram o cadastro dele no sistema e mostraram a sua foto da época. O homem quase não se reconheceu.
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— É o seu irmão? — perguntou a ele o delegado Wanderlei Redondo.
— É — respondeu ele em tom de brincadeira, admitindo em seguida que não consegue largar a rua e a droga.
Uma mulher de 32 anos, de Curitiba, que também recusou ser acolhida para sair dali, contou às equipes que usa crack desde a adolescência. Portadora de HIV, admitiu que havia fumado a pedra há poucos instantes e que nunca conseguiu ficar um dia sem usar.
— Demônio, vocês são o demônio — gritava outra moradora de rua visivelmente alterada e nervosa ao cruzar rapidamente entre as equipes e relutar a abordagem.
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“Não será nada forçado”, diz promotor
Coordenador da abordagem de rua, o promotor Daniel Paladino acompanhou a ação. Aos jornalistas, Paladino disse que não descarta no futuro pedir a internação compulsória judicial, mas que neste momento os encaminhamentos seriam com o consentimento dos usuários.
Florianópolis dispõe de vagas ociosas para internação, uma realidade diferente de anos anteriores em que dificilmente o poder público dizia ter espaço para os encaminhamentos. Segundo a secretária da Assistência Social, Katherine Schreiner, há 90 vagas à disposição em comunidades terapêuticas.
Comércios clandestinos no entorno
Uma outra frente do grupo atingiu comércios clandestinos de reciclagem no entorno, a grande maioria aberto de forma clandestina. Os responsáveis ganharam 30 dias para apresentar a documentação exigida pela prefeitura. Depois, correm o risco de interdição e retirada dos materiais.
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Concretar os espaços embaixo do viaduto para impedir a aglomeração dos moradores de rua e o consumo de crack também será uma medida futura, antecipou o promotor Paladino. Esse trabalho ficará a cargo do DNIT.
Um dos atendidos nesta ter;a-feira afirmou que morava há oito anos no vão repleto de sujeira e insetos. Ele estava com as mãos machucadas.
Saúde não participou da ação
Equipes da Secretaria de Saúde das prefeituras de Florianópolis e São José não participaram da força-tarefa desta terça-feira. Ninguém entre os colegas servidores municipais presentes soube dizer à reportagem o motivo da ausência. Também não havia nenhuma ambulância entre os veículos das equipes que foram ao viaduto.
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