Acordar ainda de madrugada, se arrumar, tomar café e sair para esperar o ônibus. Rotina comum de mais um dia de trabalho para Rodrigo Eduardo Araújo, 32 anos, não fossem os desafios que ele enfrenta para se deslocar em Joinville. Por causa de uma paralisia cerebral que afetou a musculatura da perna, o operador de uma central de monitoramento é cadeirante e precisa fazer uso do serviço Transporte Eficiente na cidade.
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Mas Rodrigo tem tido muitos problemas para embarcar nos veículos e chegar ao serviço. Morador do bairro Jardim Paraíso, ele classifica o serviço como negligente por esquecer de pegá-lo nos locais e horários pré-agendados.
– No dia 3 de maio, um domingo, eu deveria trabalhar das 5 horas às 13h30, mas o transporte não veio me buscar. Essa não foi a primeira vez. Nos dias 10 e 13 de maio, o ônibus também atrasou e eu perdi o dia de trabalho e a fisioterapia – relata.
Usuário do Transporte Eficiente desde o ano 2000 – quando o sistema foi implantado em Joinville -, Rodrigo se revolta por causa dos constantes atrasos.
– Acho um absurdo o que fazem com os deficientes físicos. Não passo por isso sozinho. Estou reclamando de um direito que tenho. Já entrei em contato com a empresa pelo número 156 e também pelo Disk 100, mas nada foi feito para organizar esse sistema – desabafa.
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A empresa Transtusa, responsável pelo serviço de transporte eficiente em Joinville, tem uma frota de 12 micro-ônibus adaptados para atender aos portadores de deficiência. Em média, são realizados, diariamente, cerca de 350 atendimentos a pessoas com mobilidade reduzida, que utilizam o serviço para se deslocar para clínicas médicas, hospitais, escolas, faculdades e entidades de assistência social, além de empresas.
Os veículos adaptados contam com elevador, têm corredores maiores e locais específicos para acomodar as cadeiras de rodas. Atualmente, a empresa mantém 31 funcionários para realizar esse serviço. Eles recebem treinamento especial para o atendimento exclusivo do transporte eficiente.
Contraponto
Em nota, a Transtusa explicou que os problemas ocorridos com Rodrigo referentes aos dias 3 e 10 de maio, em que o ônibus não foi buscá-lo e também se atrasou, ocorreram devido a uma falha operacional que impediu o atendimento do passageiro. A empresa reforça, porém, que o problema já foi resolvido. Em relação ao dia 13, a Transtusa informou que o veículo chegou 36 minutos depois do horário por causa de um congestionamento do trânsito.
Comde revisa decreto de acessibilidade
Sérgio Luiz da Silva, agente administrativo do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comde), explica que todos os meses há uma reunião do grupo que coordena o transporte e a mobilidade urbana da cidade. Representantes da Seinfra, do Comde, voluntários e conselheiros discutem a eficiência do sistema.
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– Já encaminhamos uma série de denúncias para a Seinfra referentes ao transporte eficiente. Ao Ministério Público, um dos pedidos que fizemos, mas que por enquanto não obtivemos resposta, é a instalação de uma central de atendimento (0800) para os deficientes fazerem o agendamento de transporte. Hoje, temos o sistema de agendamento único que está em funcionamento na Passebus, mas recebemos muitas reclamações referentes às dificuldades para o atendimento – detalha.
De acordo com Emiliano Monich Nascimento, vice-presidente do Comde e representante da Seinfra no conselho, o trabalho, hoje, está concentrado na revisão do decreto de acessibilidade, que possibilitou a criação do Transporte Eficiente na cidade.
– Estamos revendo o decreto de 2000, pois naquela época, tínhamos uma realidade completamente diferente de hoje. Atualmente, temos uma frota 88% adaptada, mas precisamos ainda resolver algumas questões.
Uma reunião com a Secretaria da Saúde avaliou a possibilidade de a secretaria emitir um laudo de funcionalidade para realizar o transporte somente para quem precisa.
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– Estamos tentando coibir o acesso de pessoas que têm mobilidade reduzida e deixar o transporte para aqueles que possuem um alto grau de comprometimento – explica.
Nascimento ressalta que uma vez por mês são feitas vistorias nos ônibus e que, em casos de irregularidade ou problemas com o transporte, são aplicadas punições à empresa. Ele destaca que outra cobrança do Comde é para que o sistema de telefonia seja mais eficiente, uma vez que há muitas reclamações referente à questão.
*Esta matéria foi escrita por Rodrigo Guilherme Pereira e faz parte dos estudos de estágio em “AN”, onde atua desde julho de 2014. Rodrigo cursa a 7ª fase de jornalismo do Bom Jesus Ielusc.
Como funciona
– Para agendar o Transporte Eficiente, os usuários devem telefonar 24 horas antes do compromisso.
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– Horário de operação: das 4h30 às 23h30, inclusive aos sábados e domingos.
– O agendamento pode ser feito das 8 horas às 16h30 em dias úteis.
– Telefones para agendamento: (47) 3431-1303 e (47) 3431-1321.