É em meio às lavouras, como se fosse uma erva daninha, que surgem os mitos sobre o uso da tecnologia. Interpretados como verdade, podem barrar investimentos e congelar a produtividade. E dificultam a prática de um conceito que parece simples: é preciso gerenciar as propriedades levando em consideração o fato de não serem iguais.
Continua depois da publicidade
– As lavouras não são uniformes e precisamos conhecer essas diferenças para gerenciar o manejo, como saber quanto de insumo colocar em uma área ou outra – observa o professor do departamento de engenharia de biossistemas da Universidade de São Paulo (USP) José Molin.
Por meio da análise do solo, a prática diminui o desperdício de insumos e tem objetivo de aumentar a produtividade de maneira sustentável, garante o pesquisador. Visão compartilhada pelo chefe da divisão técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS), João Augusto Telles. Ele afirma que a agricultura de precisão vive hoje o que o plantio direto experimentou na década de 1970, antes de ser aceito quase unanimemente entre produtores.
Trabalhando com agricultura de precisão desde 2006, o produtor Paulo Lieshout, 47 anos, vê na prática o futuro do setor. Com 570 hectares em Santo Antônio do Planalto, no norte do Estado, pretende aumentar em, no mínimo, 13% a produtividade da soja nesta safra.
– Sofremos muito com o clima no último ciclo e, mesmo assim, conseguimos colher 53 sacas por hectare, com custo controlado e sem desperdício de insumo, com ajuda da agricultura de precisão.
Continua depois da publicidade
A média alcançada pelo produtor ultrapassou a estadual, de 25,9 sacas por hectare, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento. Para adequar ainda mais a propriedade à agricultura de precisão, Lieshout oferece transporte e alimentação para que os dois funcionários frequentem um curso do Senar-RS, em Não-Me-Toque, a cerca de 30 quilômetros do município.
– Aprendemos a domar a tecnologia, lidar com o GPS e o piloto automático, por exemplo. Ajuda muito no nosso trabalho – comenta o funcionário Dilamar Martins da Silva, 40 anos.
MITOS NA LAVOURA
Especialistas apontam quatro ideias que atrapalham a aplicação precisa da tecnologia:
1 – É só para grandes áreas
Muitos produtores acham que agricultura de precisão é algo sofisticado, viável apenas para grandes áreas. Ideia equivocada, segundo o pesquisador da Embrapa Instrumentação Ricardo Inamasu. Qualquer produtor, com muitos ou poucos hectares, pode adotar a prática. O que muda são os investimentos, adequados para cada realidade, sempre garantindo rentabilidade à cultura.
2 – Exige máquinas de última geração
Ter o último lançamento de uma marca conhecida não é essencial para a prática da agricultura de precisão, que pode ser adotada até com a mais antiga das plantadeiras. Segundo João Augusto Telles, chefe da divisão técnica do Senar-RS, há no mercado diferentes tipos de equipamentos que podem ser instalados nas máquinas agrícolas para ajudar a gerenciar o manejo.
Continua depois da publicidade
3 – Usar mais insumo garante maior produtividade
O excesso de insumos não garante a maior produtividade das lavouras, segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Molin. Na mesma lavoura, há áreas que precisam receber mais adubo do que outras, por exemplo. A busca pelo equilíbrio dos insumos no campo é um dos objetivos da agricultura de precisão. Por meio da análise do solo, é possível evitar desperdícios e saber qual área necessita receber maior quantidade de componentes.
4 – Implantar sistemas de irrigação é caro
Comentário comum entre os pequenos produtores é o de que implementar sistemas de irrigação é muito caro e viável apenas em grandes propriedades. Especialista no tema, o chefe do escritório da Emater em Não-Me-Toque, Leandro Nicolacopolus Soares, aponta uma alternativa econômica e eficiente para produtores com até 10 hectares: irrigação a partir de microaçudes. Segundo o técnico, em áreas de até quatro hectares, é possível implantar o sistema com cerca de R$ 16 mil.