Nos anos 1950, a taxa de morte de recém-nascidos era alta no país. Sem UTI neonatal, a situação era dramática para bebês prematuros. Aos sete meses, quando os pulmões ainda não estão formados, sobreviver era um milagre. Foi o caso de Jesus Jayr Fernandes. Hoje, aos 66 anos, ele reconhece que a vida dele não teve apenas um milagre. Foram dois.

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Obeso e hipertenso, ele contraiu o coronavírus e passou 42 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Maternidade Teresa Ramos, em Lages. Desse total, 29 dias intubado. Deixou a UTI, recuperou-se no setor clínico e agora está em casa com a família.

É coisa de Deus. Fiquei com 70% dos pulmões comprometidos. Em casa, todos tiveram Covid-19: minha esposa, meus três filhos e a sogra de 86 anos. Mas estamos todos bem – conta ele.

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Jesus faz fisioterapia para tratar uma neuropatia nas extremidades da mão e da perna direita, que ficaram um pouco adormecidas. Apesar de não ter sequelas graves, ainda existem limitações até que a rotina do funcionário do presídio regional possa ser retomada. Ele tem que evitar algo que tanto gosta, o chimarrão. A traqueostomia provocou uma lesão na garganta e o local segue sensível. Outro hábito também precisou ser deixado de lado, o churrasco com costela gorda.

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– Preciso controlar o peso. Estou dando preferência para carnes magras, frutas e legumes. Já se foram 20 quilos – comemora ele.

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No final de outubro, Jesus sentiu vontade de agradecer a equipe técnica do hospital. Mas quis incluir o pessoal da conservação e da limpeza. Com a ajuda da esposa, Magda, 60 anos, ele gravou um vídeo que emocionou os funcionários:

– É o mínimo que eu posso fazer. Fui tratado com muito respeito, fosse na hora do banho, na troca da fralda, na arrumação da cama, na medicação – relembra.

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“São heróis e verdadeiros anjos”, diz Jesus sobre os profissionais da saúde

Com o agradecimento, explica, pretendeu estimular os profissionais a continuarem a cuidar dos adoecidos pela Covid-19:

– Estes trabalhadores, os quais muitas vezes são heróis e verdadeiros anjos, são pessoas que possuem famílias e problemas. Além disso, acometidos pela mesma pandemia, retornam para as suas atividades depois da quarentena.

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De fé espírita, Jesus acredita que a pandemia deva ser usada para uma reflexão.

– Faço uma convocação a todos que tiveram passagem por hospitais: usem as mídias sociais para fazer um agradecimento. Mesmo se não houve sucesso com o familiar ou amigo, pense que não foi por falta de cuidados, mas por existir um momento para tudo nesta vida.

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Tal qual como ocorreu há 66 anos, quando estourou a bolsa d’água que o envolvia no útero da mãe. Horas depois, enquanto ela seguia internada no hospital, o bebê “desenganado” foi levado para casa. Na crença de que “vá que houvesse um milagre” um tio improvisou o batismo de Jesus.

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– Tenho esta responsabilidade no nome – diz.

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Há um ano, Jesus enfrentou a perda da única filha mulher. Ela fazia tratamento por problemas renais, mas uma bactéria abreviou a vida aos 35 anos.

– Ela nos deixou um netinho. O nosso xodó tem sete anos e já está pensando no Vovô Natal – brinca.

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