A tainha chegou às redes sociais. Nos últimos anos, pescadores têm criado perfis para mostrar como funciona a tradicional safra da tainha em Santa Catarina. Nesta temporada, já são centenas de vídeos feito com drones, lives diárias dos lanços de praia e dezenas de grupos no WhatsApp.

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O perfil mais famoso é o @pescadatainha, administrado por Carlos Eduardo Bernardo, de 35 anos. Filho e neto de pescadores, ele começou em 2015 a publicar imagens da pesca artesanal na região da Praia Brava e da Ponta das Canas, no Norte da Ilha de Santa Catarina.

O projeto cresceu e, em 2016, ele começou a juntar vídeos da pesca em todo o Estado no perfil do Instagram. Hoje, Carlos faz uma média de 15 postagens no feed por dia, além de stories e lives direto dos lanços na praia. O perfil soma 94 mil seguidores.

— Sempre houve uma dificuldade de trazer o jovem para a pesca. Hoje, graças às redes sociais, muitos jovens estão indo por si só para participar da pesca — diz o pescador.

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Ele explica que tudo se originou em grupos no WhatsApp — mais famoso deles, que até hoje existe, é o Zap Zap da Tainha. Nesses grupos, os pescadores vão atualizando sobre os lanços nos diferentes pontos do litoral catarinense. Esse material alimenta as postagens no Instagram, TikTok e Facebook.

— Agora muita coisa mudou. A gente teve que se profissionalizar, aprender alguns macetes, conhecer as redes sociais e entender o que o público quer. Temos que trabalhar um modo didático de mostrar a pesca para quem está de fora, e isso aí fez a gente se moldar — explica o pescador.

O Rancho do Saragaço da Barra da Lagoa, um dos mais tradicionais de Florianópolis, chegou recentemente à marca de 5 mil seguidores no Instagram. O grupo começou a publicar imagens da pesca em 2022, por iniciativa de Otávio Nildo, de 32 anos.

— Eu queria mostrar um pouco da nossa cultura. Muita gente ainda não conhece, de outros estados e da nova geração. E também queria valorizar esse trabalho. Tem gente que vive disso aqui, tira sustento daqui — diz ele, que concilia a administração do perfil com o trabalho de policial militar.

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Drone para filmar e ajudar na pesca

No Instagram, os vídeos gravados com drone são os que mais fazem sucesso. As imagens de cima mostram não apenas os cardumes no mar, mas a atividade de pesca como um todo, como os pescadores remando em canoas contra as ondas, ou puxando juntos uma rede com milhares de peixes.

— Esses vídeos mostram a arte da pesca — resume o pescador Luiz Henrique da Silva, de 35 anos, que administra o perfil @garopadroni, com imagens da pesca de Garopaba.

Os drones também podem cumprir outra função: a de vigiar a chegada dos cardumes. Alguns ranchos adquirem os aparelhos para monitorar a movimentações dos peixes no mar, em apoio à função do vigia. No caso de Luiz, o uso do drone em Garopaba vem encontrando resistência entre os pescadores mais tradicionais.

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— Os mais antigos acham que vão perder o posto deles. Acham que se dá pra ver o peixe com o drone, para que vamos precisar de um vigia? Mas isso não tem nada a ver. A tecnologia tá aí para auxiliar o vigia. É o vigia que fala com todo mundo, é ele que coordena quando é pra canoa sair — reflete Luiz.

Em muitos ranchos, o drone serve como ferramenta para o vigia. Carlos Bernardo explica que, mesmo com a tecnologia, a maior parte do trabalho segue do jeito “raiz”:

— O drone é um equipamento caro, a bateria dura pouco, o sal danifica a máquina… tem lugares, que a tecnologia existe, sim, inclusive com rádio e celular. Mas 90% dos pescadores não usam e seguem do modo artesanal.

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No Rancho do Saragaço, o vigia possui um drone. O aparelho, no entanto, serve mais para registrar os lanços do que para substituir a vigia.

— A pesca é muito dinâmica. O drone tem um foco, ele fica ali procurando aquele pedaço de peixe na água. Mas o vigia já tem um olhar mais aberto. Ele vê todo o mar. Nada substitui o ser-humano às vezes — reflete Otávio.

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