Quando menina, Urda Alice Klueger escrevia escondido e tinha o sonho de publicar um livro. Aos 69 anos, já produziu 25 obras. A primeira delas, “Verde Vale” ganhou, inclusive, uma versão em braile e a crônica “Por causa do Papai Noel” foi adaptada para curta-metragem, que recebeu prêmios e foi exibido em mais de 40 festivais, três deles internacionais. Tornou-se imortal ao entrar para a Academia Catarinense de Letras, em 1992.

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Atualmente, está produzindo mais dois livros e, com o isolamento social devido à Covid-19, escreve o Diário da Pandemia, publicado no perfil dela em uma rede social. Desde 2016, vive na Enseada do Brito, em Palhoça, na Grande Florianópolis, na companhia dos cães e gatos de estimação, dedicada à literatura e à horta, além de participar de instituições como a União Brasileira de Escritores e eventos diversos.

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Nas recordações, conta que aos três anos já imaginava longas histórias. Alfabetizada, passou a ler compulsivamente. Mas escrever, além de cartas, não era uma prática incentivada e tinha a sensação de fazer algo errado, por isso, escondia-se com os cadernos. Aos 16 anos, o pai adoeceu e precisou conciliar estudo e trabalho, para ajudar a mãe no restaurante da família. Seguiu em outros empregos, por mais tempo como bancária, e o sonho da literatura foi adiado.

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A estreia em “Verde Vale” ocorreu em 1979, aos 26 anos. O livro, que está na 14ª edição, é um romance histórico sobre as esperanças, alegrias e amarguras dos imigrantes alemães e descendentes que viviam no Vale do Itajaí. Como sequência, lançou “No tempo das tangerinas” (1983), que resgata a resistência dos colonizadores às angústias da Segunda Guerra Mundial. 

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Ficou conhecida como a autora de livros sobre alemães na região de Blumenau, cidade onde nasceu. Entretanto, o conjunto da obra dela é diversificado e inclui romances históricos com outras temáticas, além de relatos de viagem, o infanto-juvenil “A vitória de Vitória” (1998) e mais de 700 crônicas publicadas nos jornais de Santa Catarina e em sites do Brasil e de outros países.

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Escritora (de verde, à esquerda) entrou para a Academia Catarinense de Letras, em 1992 (Foto: FOTOS Douglas Santos, Academia Catarinense de Letras, Reprodução)

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“Por causa do Papai Noel”, que inspirou a cineasta Mara Salla a produzir o premiado curta-metragem em 2006, narra um fato verídico ocorrido com a escritora na infância. Andava de bicicleta, quando se virou para ver o Papai Noel e caiu em um ribeirão. Passou quase dois meses em repouso, recuperando-se dos ferimentos, mas aproveitou para ler muito e viveu grandes aventuras por meio dos personagens. O texto faz parte do livro “Crônicas de Natal e histórias da minha avó” (2001). Urda encantava-se com os relatos da avó paterna, que imigrou com a família da Lituânia para Santa Catarina. Contava à neta lembranças da terra natal, como o inverno rigoroso com muita neve, os trenós, entre outras.

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Quando se aposentou, resgatou outros sonhos de menina: estudar história e trabalhar com arqueologia. Matriculou-se na graduação e no mestrado em História e ainda fez doutorado em Geografia. Durante 10 anos, pesquisou sobre o povo pré-histórico sambaquiano e, por um ano, semanalmente, acampou em sítios arqueológicos no Litoral catarinense. Este encantamento pelo resgate da história pode ser conferido em dois livros que escreveu: “O povo das conchas” (2004), adotado como paradidático por escolas, e “Sambaqui” (2008).

*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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