Em outubro de 2014, a cidade de Joinville deu 66,25% de seus votos para Aécio Neves (PSDB) na disputa do segundo turno contra a Dilma Rousseff (PT). Principal liderança política da cidade na época, o senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) não se engajou, mas deu sinais de simpatia pela vitória do tucano. Morreria em maio do ano seguinte. Seu velório lotou o Centreventos Cau Hansen. Dilma Rousseff levou seus principais ministros e ainda deu carona aos senadores no avião presidencial. Frente a uma plateia composta em sua maior parte por eleitores do adversário, um dos redutos mais antipetistas do Estado que talvez seja o mais antipetista do país, Dilma discursou em homenagem ao peemedebista. Foi aplaudida por três vezes e não se ouviu o eco de um único gesto mal-educado em direção à mulher que veio representar um abraço do país a uma cidade em luto.
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Lembrar de Dilma, do velório de Luiz Henrique e da forma como ela foi recebida pelos joinvilenses em 2015 é uma forma de explicitar o estranhamento em relação à decisão do presidente Michel Temer (PMDB) de esconder-se no aeroporto Serafim Bertasso enquanto a multidão homenageia na Arena Condá as vítimas de uma tragédia tão incomparável, tão inacreditável e que comoveu o mundo inteiro. Se é mesmo por medo de ser vaiado, o presidente deixa claro que não entendeu a dimensão do desastre, a dimensão da dor das famílias e do povo catarinense e chapecoense, não entendeu a onda de solidariedade e empatia que se alastrou de Medellín na quarta-feira. Se não mudar de ideia de última hora e desistir mesmo de representar o abraço do país a um povo em luto, deixa claro não estar mesmo à altura do cargo que o destino colocou em seu colo.