Enganou-se quem achou que a presença de Ricardo Lewandowski no comando do julgamento do impeachment faria de Renan Calheiros (PMDB-AL) um coadjuvante de luxo na Casa que comanda com incrível desenvoltura. A articulação de última madrugada para livrar Dilma Rousseff da perda dos direitos políticos pegou de surpresa a tropa de choque do governo de Michel Temer e os senadores do PSDB. Romero Jucá (PMDB-RR) e Cassio Cunha Lima (PSDB-PB), por exemplo, deixaram o plenário após as votações tentando entender que dimensão poderia ganhar a estranha anistia prévia à ex-presidente petista.
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Enquanto as especulações devem ganhar corpo nas próximas semanas – rebelião na base, acordão para preservação na Operação Lava-Jato etc. -, certo mesmo é que Renan deu mais uma demonstração de força diante de Temer. O presidente da República perdeu a alcunha de interino, mas ainda depende demais de um Congresso que não controla.
Guiness
No relatório final do julgamento do impeachment, Lewandowski apresentou estatísticas do longo processo. Ao todo, são 27,4 mil páginas, distribuídas em 27 volumes. O presidente do STF arbitrou 18 questões de ordem solicitadas por parlamentares. Dilma Rousseff foi interrogada às 11h35min, tempo em que respondeu às perguntas de
48 senadores.
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Collor não aceita
Era visível a inconformidade do senador Fernando Collor (PTC-AL) com a votação em separado da perda dos direitos políticos de Dilma Rousseff. Primeiro presidente a sofrer impeachment, em 1992, ele lembrou que renunciou ao cargo na expectativa de extinguir o julgamento e manter o direito de disputar eleições, mas que o Senado ignorou a medida. Collor tentou, sem sucesso, ser candidato à presidência em 1998 e à prefeitura de São Paulo em 2000. Só voltou à cena em 2003, senador por Alagoas no mesmo ano em que Lula (PT) chegou à presidência.
Na ponta da língua
Chamou atenção o quanto Ricardo Lewandowski tinha na ponta da língua todos os argumentos regimentais para garantir a votação em separado da perda dos direitos políticos de Dilma Rousseff. Ressaltou diversas vezes que não tomaria a decisão com base em argumentos constitucionais porque, como ministro do Supremo Tribunal Federal, não poderia antecipar um futuro voto sobre o tema naquela corte. Veio estudado.
Momento delicado
Ainda repercutia ontem nas redes sociais a gafe do senador catarinense Dário Berger (PMDB), que ao discursar em favor do impeachment confundiu-se e quase disse “relações sexuais” em vez de “relações sociais”. O trecho do vídeo ganhou a internet e houve quem recomendasse ao peemedebista o velho conselho da hoje colega Marta Suplicy (PMDB-SP) aos passageiros na época das longas filas em aeroportos causadas pelo apagão aéreo, em 2007: “relaxa e goza”