Os minguados 1.153 que garantiram a vitória de Gean Loureiro (PMDB) sobre Angela Amin (PP) têm um peso muito maior do que o de garantir que o peemedebista assumirá a prefeitura de Florianópolis no dia 1º de janeiro de 2017. Eles podem ter confirmado a candidatura do PMDB ao governo do Estado e a reconstrução da tríplice aliança nas eleições de 2018.
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Até a última parcial de apuração, o cenário era outro. Tida primeiro como impossível, depois como improvável, a vitória de Angela Amin parecia quase certa. Nessa altura, Blumenau e Joinville já haviam reeleito Napoleão Bernardes (PSDB) e Udo Döhler (PMDB), compondo um cenário de equilíbrio entre as principais forças políticas do Estado. A aliança entre o PP de Esperidião Amin e o PSD de Gelson Merisio estava conquistando com a Capital uma importante trincheira para o projeto de ambos – tirar o PSD e o governador Raimundo Colombo da órbita do PMDB e, assim, construir um novo projeto estadual. O equilíbrio dessas forças era garantido pela manutenção de Joinville em mãos peemedebistas e com o PSDB entrando com força no jogo sucessório ao consolidar Blumenau como a cereja do bolo que foi o crescimento do partido no primeiro turno.
As urnas dos bairros Tapera e Ingleses, no Sul e no Norte da Ilha, traíram o desenho que pepistas e pessedistas já comemoravam. A vitória veio nas últimas urnas, de dois bairros distantes do Centro e onde o PMDB, e especialmente o senador e ex-prefeito Dário Berger, são muito fortes. A vantagem nas duas regiões segurou a onda Angela, que transformou 27 pontos de diferença nas pesquisas nos tais 1.153 votos de vantagem de Gean.
Com esses votos, PSD e PP saem derrotados do jogo do segundo turno. O PMDB levou as duas maiores cidades do Estado e soube usar até sua falta de expressão em Blumenau como dividendo político. Quando Angela e Gean disputavam o apoio do PSDB, ambos ofereceram o cargo de vice-prefeito e aquelas vantagens ocasionais que a proximidade do poder oferece em termos de cargos e espaços políticos. O desempate foi o gesto peemedebista de apoiar Napoleão mesmo sem presença na chapa, além do endosso a Roberto Amaral (PSDB) em Lages. O PP não quis conversar sobre apoiar Marco Tebaldi (PSDB) em Joinville, lançando o outsider Doutor Xuxo (PP) – que além de ser um fiasco nas urnas, ainda chegou a dizer que, se pudesse, concorreria sem filiação partidária.
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As vitórias em Joinville e Florianópolis fortalecem o PMDB, que já era o partido com o maior número de prefeituras e agora recupera força nas maiores cidades do Estado. Seus três pré-candidatos ao governo em 2018 têm o que comemorar. Mauro Mariani (PMDB), presidente estadual do partido, tem um aliado em sua base no Norte do Estado – embora o próprio Udo, pelo resultado, fique credenciado a sonhos mais altos. O vice-governador Eduardo Pinho Moreira cresce também, porque sempre foi o grande fiador político de Gean Loureiro dentro do partido. Dário Berger foi escondido pelo prefeito eleito durante toda a campanha, mas demonstrou que mantém a popularidade intocada nas regiões que deram a vitória ao partido na Capital.
No PSD, os principais líderes saem chamuscados. Gelson Merisio colocou de pé a articulação que antagonizou pessedistas e peemedebistas nos principais colégios eleitorais. Era preciso, no entanto, mostrar a força dessa nova configuração política vencendo em Joinville ou Florianópolis. O deputado federal e secretário estadual João Paulo Kleinübing (PSD) não conseguiu emplacar, mais uma vez, o aliado Jean Kuhlmann (PSD). Há críticas em setores pessedistas que o grupo blumenauense se fechou à ajuda externa e de que errou ao aceitar reduzir pela metade o tempo de propaganda quando estava em nítida desvantagem. Por fim, o governador Raimundo Colombo também herda o desgaste de ter trazido para si a disputa de Joinville. Além de apresentar-se como fiador de Darci de Matos (PSD), colocou-se na linha de frente quando Udo transformou a disputa em um confronto entre prefeitura e governo do Estado. Segundo o eleitor de Joinville, o Centro Administrativo perdeu e vai ter que trabalhar para mostrar que é ajuda e não entrave à cidade. Isso, ao mesmo tempo em que cicatrizam as feridas das eleições.
Tucanos e pepistas saem como aliados preferenciais nas disputas estaduais, embora o PSDB tenha resultados que o credenciam a sonhar mais alto. A vitória tranquila de Napoleão o credencia a disputar com o senador Paulo Bauer o papel de pré-candidato ao governo. No PP, a recuperação de Angela Amin na reta final faz com que ela sobreviva politicamente à derrota. Dessa forma, Esperidião Amin mostra que ainda tem força para compor uma vaga majoritária. No fim, o casal conseguiu fazer o improvável nesta eleição, mas ele não foi suficiente.
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