Vem aí um grande acordo nacional. Não é aquele famoso acordo do senador Romero Jucá (PMDB-RR), supostamente com Supremo, com tudo. É um acordo da elite da classe política para delimitar (onde está) o que é mais ou menos tolerável no oceano de doações irregulares da Odebrecht que irrigaram campanhas eleitorais Brasil afora nas últimas décadas.

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Líderes de diversos políticos participaram na noite de segunda-feira de uma festa em homenagem ao jornalista Ricardo Noblat. Presente, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) bradava que era preciso “salvar a política” e diferenciar “quem ganhou dinheiro da Petrobras” de quem “ganhou cem pratas para se eleger”. Em resumo, o que seria propina no esquema investigado pela Operação Lava-Jato e o que seria o velho caixa dois de campanha eleitoral tão entranhado nos costumes da política brasileira. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) já havia apresentado a tese em artigo, semana passada.

Em Santa Catarina, o discurso será semelhante. Na edição de ontem da Folha de S. Paulo, uma pequena nota da coluna Painel diz que o Superior Tribunal de Justiça está preparado para receber os casos de quatro governadores na segunda lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot: Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Fernando Pimentel (PT-MG), Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) e o catarinense Raimundo Colombo (PSD). A dimensão política dos três primeiros é capaz de ofuscar o pessedista, mas o estrago político é, mesmo assim, incalculável.

A rigor, a nota publicada pela Folha traz uma especulação já vocalizada em todos os círculos de poder. Há quase um ano vazaram as planilhas da Odebrecht com nomes e codinomes de políticos que teriam recebido recursos da empreiteira. Nela, Colombo é citado como “ovo” e como suposto destinatário de R$ 2,5 milhões. Desde então, o espectro da lista da empreiteira acompanha a política catarinense. A resposta padrão do governador e da assessoria do governo sobre o tema é de que a Odebrecht não realizou obras ou teve contratos em Santa Catarina em todo o período de governo do pessedista.

É o embrião da mesma tese lançada por FHC e endossada por Aécio. Sem contrapartida em obras ou contratos posteriores, as doações irregulares da Odebrecht não configurariam propina. Nos bastidores, essa argumentação já é utilizada por lideranças pessedistas. Resta saber se a tese vai colar junto ao eleitorado. Enquanto não se souber exatamente do que Colombo pode ser acusado, é difícil prever o tamanho do estrago.

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