É curioso como a política catarinense mantém em sua correlação de forças a rivalidade que resultou da artificial divisão partidária entre Arena e MDB na época do Regime Militar. Talvez seja o Estado em que isso esteja mais preservado. Mesmo que hoje o governo estadual esteja nas mãos do PSD de Raimundo Colombo, foi na lógica que opõe os atuais PP e PMDB que se realizaram as disputas eleitorais que levaram a esse resultado.

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Outra coisa curiosa na política catarinense e especialmente em relação a esses dois partidos é a falta de prestígio junto a suas respectivas cúpulas nacionais. Entretanto, em tempos de Lava-Jato, delações da Odebrecht e descrédito da classe política, esse descolamento pode até ser positivo.

Na última terça-feira, os peemedebistas comemoraram de forma discreta no saguão da Assembleia Legislativa o aniversário de 51 anos da legenda. Promovida pela bancada estadual, a pequena festa teve um bolo e alguns discursos, além da presença dos deputados estaduais, dos ex-governadores Paulo Afonso e Casildo Maldaner e do vice-governador Eduardo Pinho Moreira. Coube a ele apresentar o que os peemedebistas esperam ser a vacina à vinculação com desgastado e impopular governo do presidente Michel Temer (PMDB) e aos inquéritos que investigam a cúpula nacional do partido – Renan Calheiros, Romero Jucá, Eliseu Padilha, etc.

— O PMDB de SC é o PMDB que no dia 1º de fevereiro de 2015, através do Luiz Henrique, disputou a presidência do Senado porque queria dar exemplo para o Brasil. Toda vez que nos questionam o que acontece em nível nacional, nós dizemos: O PMDB de SC é aquele que enfrentou essa situação — disse Moreira.

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Herdeiro da Arena do regime militar, do PDS da reabertura democrática e de seguidas mudanças de sigla, o PP vive um caso parecido no Estado. Em nível nacional, a cúpula pepista foi a primeira atingida pelas revelações da Lava-Jato – incluindo aí o ex-deputado federal catarinense João Pizzolatti, hoje no ostracismo político e às voltas com a Justiça. A operação atingiu em cheio os planos de Pizzolatti de conquistar o comando do partido em Santa Catarina. Internamente, ele sempre foi adversário do ex-governador e deputado federal Esperidião Amin, hoje presidente estadual do partido.

Embora haja uma citação de suposta doação da Odebrecht para Angela Amin na campanha ao governo em 2010, Esperidião tem um salvo-conduto pessoal nas delações. O doleiro Alberto Yousseff disse ter certeza de que ele não era um dos beneficiados pelo suposto esquema de corrupção que irrigava parlamentares pepistas com dinheiro da Petrobrás. Os Amin, com Angela entre 2007 e 2010, e Esperidião a partir de então, estavam na Câmara dos Deputados no auge do esquema pepista e acabaram politicamente salvos pela distância da tóxica cúpula nacional.

É mesmo curioso como os velhos antagonistas da política catarinense vão se escudar agora em discursos tão semelhantes.

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