Na quinta-feira vai completar um ano que o nome do governador Raimundo Colombo (PSD) passou a ser vinculado à Odebrecht no âmbito da Operação Lava-Jato. Foi no 23 de março do ano passado que vazaram as listas de um ex-dirigente da empresa com os nomes de mais de 200 políticos que teriam recebido recursos da empresa em caixa um ou dois para suas campanhas eleitorais. Na quinta-feira faz um ano que Colombo ganhou o apelido ¿Ovo¿, como era citado nas planilhas do sofisticado e debochado Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht.
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“A pessoa mais interessada em esclarecer sou eu”, diz Colombo
Na manhã de sexta-feira, Colombo chamou a imprensa para o Centro Administrativo sabendo que teria que falar sobre a informação da Rádio CBN de que seu nome está em outra lista: a do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com os pedidos de investigação da elite política do país no Supremo Tribunal Federal. No caso do catarinense, um pedido para que o caso seja remetido ao Superior Tribunal de Justiça — a quem cabe levar adiante ou não os casos envolvendo governadores.
Colombo diz que há um ano sofre sem saber do que pode ser acusado. Esse enredo não é original. Em O Processo, escritor checo Franz Kafka, narra a história de Josef K. e seu calvário para se defender de uma acusação que desconhece. Na versão Lava-Jato, o governador e os catarinenses estão a cada dia mais próximos de saber.
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No conteúdo, a fala de Colombo não difere das diversas notas oficiais lançadas pelo Centro Administrativo toda vez que o caso teve alguma novidade ou nas breves entrevistas em que o próprio governador comentou o caso. Em resumo, a Odebrecht não tem ou teve contratos com Santa Catarina na gestão do pessedista. O que mudou na manhã de ontem foi o tom. Colombo fez um desabafo – em alguns momentos até emocionado.
Fez um histórico sobre a vontade e a desistência de vender 49% das ações da Casan, entre 2011 e 2012. Era o interesse declarado da Odebrecht em comprar a companhia catarinense de água e esgoto que poderia caracterizar uma negociação – recursos para a campanha eleitoral de 2010 em troca da privatização. Não ter consumado a transação é o álibi de Colombo. Ele chegou a jurar que ¿não houve nenhum negócio, nenhuma troca¿.
Pela primeira vez, também, o governador abriu uma brecha para futuramente admitir ter recebido recursos da empreiteira em caixa dois. Perguntado diretamente se havia a possibilidade de que os tais R$ 2,8 milhões que aparecem nas listas vazadas da empreiteira serem doações não-contabilizadas, Colombo disse não saber, que precisava averiguar. Disse também que se houver algo errado, vai responder por isso. Em Brasília, Rodrigo Janot está enfatizando que o simples caixa dois é crime eleitoral e diferenciando dos casos de propina, corrupção. Essa parece ser justamente a linha da pré-defesa de Raimundo C.
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