Lançado pela primeira vez em 2013, o Fundo de Apoio aos Municípios (Fundam) foi peça fundamental para a reeleição em primeiro turno do governador Raimundo Colombo (PSD) no ano seguinte. A sacada de utilizar parte dos recursos captados junto ao governo federal para distribuir aos municípios deu alívio a prefeitos de todos os cantos do Estado, inclusive de partidos que não estariam com o pessedista na eleição.
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No ano seguinte, o então adversário Paulo Bauer (PSDB) chegou a reclamar nos bastidores de prefeitos tucanos que não pediram votos para sua candidatura – gratos ao gesto de Colombo de repartir com quase todos os 295 municípios cerca de R$ 600 milhões dos R$ 9 bilhões conquistados junto ao Planalto para o Pacto por Santa Catarina.
Este ano, Colombo anunciou a segunda edição do projeto, prevendo R$ 700 milhões desta vez. Dentro desse contexto, a semana que passou deveria ser de festa. Na terça-feira, em Brasília, o governador conseguiu a aprovação na Secretaria do Tesouro Nacional, no Ministério da Fazenda. Ontem, no Rio de Janeiro, foi a vez de participar de uma reunião no BNDES para formatação da nova edição do programa – que deve ter gerenciamento e controle novamente realizados por uma equipe do BRDE.
É a Lava-Jato que impede que clima seja de festa como planejado. Foi depois da reunião de terça-feira no Tesouro Nacional que Colombo concedeu a primeira entrevista sobre as citações dos delatores da Odebrecht e sobre a petição encaminhada por Edson Fachin ao Superior Tribunal de Justiça para que analise se investiga o catarinense. Embora se apegue à agenda de governo, será difícil para Colombo livrar-se dos questionamentos sobre o que aconteceu ou não aconteceu na relação com a empreiteira e as supostas doações em caixa dois que teria pedido entre 2010 e 2014.
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Dentro de projeto de renunciar em abril de 2018 para concorrer ao Senado, Colombo havia desenhado que seu último ano no governo não teria sobressaltos. A agenda de reformas estava razoavelmente completa com as mudanças na previdência dos servidores e no plano de carreira dos professores, além de alguns cortes na máquina do Estado. Mais que isso, que ficasse para o sucessor. Era o momento de inaugurar obras do Pacto, distribuir entre prefeitos os recursos do novo Fundam e se despedir do cargo como um governante realizador – uma espécie de Celso Ramos contemporâneo. A partir daí, mirar voos nacionais.
Por si, as delações não dão fim à jornada que começou a ser desenhada lá atrás, em 2006, quando o então prefeito de Lages ousou renunciar para concorrer a governador e acabou no Senado pelas mãos de Luiz Henrique (PMDB). O caminho ficou turbulento e vai exigir do pessedista um tipo de habilidade política que ainda não havia precisado demonstrar: resiliência.