Uma das maiores empresas do Brasil descortina suas relações com a classe política colocando todo o sistema eleitoral em xeque e, em meio a esse turbilhão, um dos delatores cita doações milionárias para campanha do governador Raimundo Colombo (PSD) em troca de facilidades em uma futura privatização da Casan. Como um roteiro adaptado, a delação premiada do frigorífico JBS implica novamente o político catarinense em um caso que muito se assemelha às narrativas do ex-executivos da Odebrecht divulgadas em abril.

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Confirmadas ambas as delações, talvez o catarinense acabe descobrindo que a atividade-fim da Casan não é distribuir água e tratar esgoto, mas sim servir de combustível para financiamento eleitoral. Claro que há diferenças substanciais nas narrativas da Odebrecht e da JBS. Primeiro, era de domínio público o interesse da empreiteira na privatização ou, pelo menos, na venda de parte das ações da estatal catarinense. Para a JBS, trataria-se de um novo ramo a ser explorado pela gigantes das carnes através de uma subsidiária.

No caso da Odebrecht, os ex-executivos Fernando Reis e Paulo Welzel falavam em doações continuadas entre 2010 e 2014 — sempre nas sombras do caixa 2. A JBS teria entrado na história apenas na campanha da reeleição, quando encarou a exposição de ser a maior financiadora de campanhas eleitorais do país e reservou um naco generoso desse dinheiro para Santa Catarina. JBS e Seara, ambas do Grupo J&F, despejaram quase R$ 10 milhões em campanhas no Estado — a maior parte desses recursos nos cofres do PSD, R$ 8 milhões. Pela delação de Ricardo Saud, da JBS, outros R$ 2 milhões teriam sido pagos em dinheiro vivo.

Também há diferença na forma como Colombo rebateu as acusações. Desta vez, ele trocou as frias e curtas notas oficiais e a repetida frase de que não vendeu a Casan por um vídeo em que se defende de forma mais enfática. Neste caso, não se trata de negar o recebimento dos recursos — a maior parte deles está na prestação de contas do PSD e do próprio Colombo — mas, sim, de rejeitar os termos não-republicanos das falas do novo delator.

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Embora no Centro Administrativo a avaliação seja de que o novo caso é mais frágil, politicamente é mais um abalo sobre o projeto do governador e do PSD. O álibi continua sendo o mesmo de sempre: não ter levado adiante a operação de venda de ações da Casan, um fato concreto. O risco é entrar para o folclore político como alguém que vendeu duas vezes a mesma empresa e não entregou.