Nem sempre é fácil encontrar exemplos tão claros de incompatibilidade entre a vida real e o mundo da política como na última terça-feira no plenário da Assembleia Legislativa. Já foram feitos, inclusive neste espaço, todos os prognósticos de que a falta de projetos polêmicos ou estruturais fará com que o ano parlamentar seja tedioso. Talvez por isso esteja tão difícil manter o plenário cheio.

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A breve pauta de votação de terça-feira trazia alguns vetos do governador Raimundo Colombo (PSD) a projetos aprovados pelo parlamento. O primeiro deles proibia escolas particulares de cobrar valores adicionais nas matrículas de alunos com deficiência — visual, auditiva, mental ou física, surdez, transtorno do espectro autista, entre outras síndromes. O governo estadual alegou que a proposta era inconstitucional porque temas de educação são da alçada dos parlamentares federais e que já existe uma lei nacional proibindo a prática. Os defensores do projeto do deputado Antonio Aguiar (PMDB) entendiam que o assunto podia sim tratado na Assembleia, por envolver a proteção aos direitos das pessoas e não educação em si. Apresentados os argumentos, o veto de Colombo seria votado. Foi aí que o entediado mundo político colidiu com a vida real.

Para derrubar um veto do governo são necessários os votos de 21 dos 40 deputados estaduais. Naquele momento da discussão, 21 era o número exato de parlamentares em plenário. Como o líder do governo, Darci de Matos (PSD), já anunciara a posição pela rejeição da proposta, era claro que a votação seria inútil. Houve apelos ao presidente Silvio Dreveck (PP) para que adiasse a análise dos vetos para um momento em que realmente haveria chance de derrubá-los. O pepista argumentou que não dava para protelar indefinidamente as propostas. O deputado Fernando Coruja (PMDB) foi o mais veemente na crítica àquela situação que levava os parlamentares presentes a votar sabendo que era impossível outro resultado que não a manutenção do veto.

— Por trás de projetos como este existem pessoas. Não podemos transformar isto em um ato de circo — disse na tribuna.

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Durante esta discussão, quatro deputados apareceram, formando um quorum de 25 parlamentares. A maioria deles, 15 insuficientes parlamentares, foi a favor da derrubada da decisão de Colombo. O espetáculo chegava ao fim. Nos corredores do Legislativo continuaram as conversas sobre as eleições de 2018, sobre financiamento de campanhas, listas abertas ou fechadas e a palpitante disputa entre duas chapas pelo comando do sindicato dos servidores da Assembleia. Segundo a listagem oficial, apenas quatro deputados faltaram à sessão de terça-feira.