Há pouco mais de um ano, Dilma Rousseff (PT) sofreu uma espécie de impeachment preventivo. Embora condenáveis, as pedaladas fiscais praticadas no segundo mandato apareciam como uma justificativa frágil que era solidificada pelas crises política e econômica e também pela expectativa de que a Operação Lava-Jato acabaria trazendo mais elementos para endossar aquela cassação.
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Esse, claro, era o sentimento de muitos que se vestiram de verde-amarelo para pedir o afastamento da presidente petista naqueles domingos que hoje parecem tão distantes. O que pensava a classe política, especialmente a que foi guindada ao poder pelas mãos de Michel Temer (PMDB), tornou-se público no claro diálogo do senador Romero Jucá (PMDB-AP) com o delator Sérgio Machado – aquela sobre “colocar o Michel” para “estancar a sangria” em um “acordo nacional” com “Supremo, com tudo”.
É irônico que poucos dias depois de seu primeiro aniversário no poder, Temer sofra um abalo político que tem tudo para arrancá-lo da cadeira presidencial. As revelações do jornal O Globo sobre a delação do empresário Joesley Batista, da JBS, têm o poder de dar fim à qualquer fiapo de legitimidade que ainda pudesse ter o peemedebista para manter-se no cargo. Se tudo for confirmado, há gravações, filmagens, dinheiro de propina mapeado, uma autorização clara para que o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) recebesse uma mesada da empresa para manter-se calado em sua cela em Curitiba.
Outra ironia: foi Cunha quem deflagrou e comandou a primeira etapa do processo de impeachment de Dilma, é por sua ligação com Cunha que Temer perde de vez as condições de governar. O ex-parlamentar peemedebista que ousou deixar as sombras para criar uma espécie de República do Baixo Clero mostrou-se tóxico como inimigo e como aliado.
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Neste primeiro capítulo da delação, o senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB) também sai fulminado com o suposto pedido de R$ 2 milhões para bancar advogados. Temer e o tucano teriam sido flagrados entre março e abril deste ano, mostrando temor algum em relação à Lava-Jato, mostrando que não aprenderam nada.
Há um ano, boa parte da classe política acreditou que estancava a sangria com um impeachment. Agora estão todos sujos pelo mesmo sangue.