O Brasil pós-impeachment trouxe uma consequência prática para a campanha eleitoral deste ano. As históricas divisões internas da esquerda estão explícitas em disputas internas nas principais cidades, apontando muitas vezes para um confronto que mira mais herdar a fatia do eleitorado acostumada a votar no PT do que em realmente conquistar as prefeituras.
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Esse fenômeno é perceptível em São Paulo e Rio de Janeiro, mas também se manifesta nas principais cidades de Santa Catarina. Em Florianópolis, Elson Pereira (PSOL) e Angela Albino (PCdoB, coligada com PT) às vezes parecem disputar uma eleição à parte. Nela importa mostrar-se mais de esquerda, menos contaminado por alianças, mais anti-Temer. O chumbo trocado mira muito pouco em Gean Loureiro (PMDB) e Angela Amin (PP), à frente nas pesquisas e favoritos ao segundo turno.
Em Joinville a situação muda um pouco de figura pela dificuldade histórica de renovação de lideranças de esquerda na cidade. O ex-prefeito Carlito Merss (PT) é candidato pela sétima vez e aglutina, em tese, os votos do campo enfraquecido na cidade e distante de Udo Döhler (PMDB), Marco Tebaldi (PSDB) e Darci de Matos (PSD), os ponteiros nas pesquisas. Mesmo assim, sofre críticas pelo PSOL de Ivan Rocha. O petista não esquece a oposição que recebeu do vereador Adilson Mariano (ex-PT, hoje PSOL) e da Esquerda Marxista, hoje abrigada no ninho psolista. Em entrevista, chegou a chamar o grupo de “os quebra-ônibus”, gerando revolta entre em antigos aliados. Na cidade, o PCdoB nem participa dessa disputa, está aliado ao prefeito peemedebista Udo Döhler.
Em Blumenau, os comunistas também esconderam a foice e o martelo. Quem escuta o radialista Arnaldo Zimmermann (PCdoB) vai ouvir falar em parcerias com a iniciativa privada e outros temas que eram riscados do caderninho em outros tempos. Com Décio e Ana Paula Lima fora do páreo, o PT apresenta no professor Valmor Schiochet uma candidatura que lembra os primórdios do partido – não por radicalismo, mas pelo discurso da participação e pelo tom de esquerda intelectual.
As caneladas voltam em Chapecó, onde o processo de composição de alianças afastou o PT de Luciane Carminatti e o PCdoB de Cesar Valduga, ambos deputados estaduais. Os petistas acusam dos comunistas de terem preferido uma aliança com o PMDB, que indicou o vice Valduga. A troca de farpas beneficia o prefeito Luciano Buligon (PSB), candidato à reeleição.O fenômeno indica um movimento de deslocamento dos partidos periféricos ao PT. A tendência é que se aprofunde após as eleições municipais. Até porque um dos maiores talentos da esquerda é guardar rancor.
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