Nos últimos dias, o Congresso Nacional voltou a tentar engendrar na surdina o parto de um novo modelo político-eleitoral para o país. Sem pai, sem mãe, reapareceu a ideia de mudar o sistema de eleição parlamentar para o de listas fechadas – em que o eleito vota em um partido e este aponta os eleitos a partir uma relação apresentada previamente.
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Com a classe política desgastada pela Lava-Jato e as doações empresariais proibidas pelo Supremo Tribunal Federal, a lista fechada com financiamento público passou a ser a esperança de quem teme pela perda de mandatos e consequentes foros privilegiados em 2018. Nas listas, em tese, os atuais donos de mandato teriam prioridade.
Reforma política virou uma expressão vazia nas últimas décadas porque todos são a favor, mas nenhuma proposta consegue produzir mínimos consensos. Nem mesmo a óbvia proibição das coligações nas eleições parlamentares conseguiu ser aprovada até hoje. O atual momento é ainda pior, porque nenhuma mudança no sistema de votação patrocinada por um Congresso amedrontado escaparia da pecha de que foi feita pensando em autopreservação.
Durante a semana, no entanto, a ideia ganhou tamanha dimensão que na Assembleia Legislativa já tinha deputado avaliando cenários de 2018 com a lista fechada – especialmente os que pretendem concorrer a deputado federal. A reação contrária expressada nas redes sociais e até por nomes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deve sepultar a ideia nos próximos dias. Há alguns anos, quando a defesa da lista fechada era feita quase que exclusivamente pelo PT, a ideia foi bombardeada pelos adversários como uma tentativa de cassar do eleitor o direito de escolha e uma bolivarização do sistema político. Agora, com os petistas afastados do poder, a ideia ressurge como salvação da lavoura. É tarde, a pecha pegou.
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Em 1993, a maior parte da classe política apoiava a adoção do parlamentarismo no plebiscito determinado pela Constituição para aquele ano. As urnas massacraram a mudança. A campanha do presidencialismo carimbou no modelo adversário a ideia de que ele tirava do eleitor o direito de eleger o presidente. O slogan era genial: ¿diretas sempre¿, paródia do histórico ¿diretas já¿ dos anos finais da ditadura. Fica o exemplo: nem o consenso entre lideranças e partidos vai parir um novo modelo político se ele não puder ser assimilado pelo eleitor.