Um gesto na última quinta-feira simbolizou a quase ausência de oposição partidária ao governador Raimundo Colombo (PSD) na Assembleia Legislativa. Os três vereadores que formam a bancada do PSOL na Câmara de Florianópolis atravessaram os 950 metros que separaram os legislativos municipal e estadual para protocolar um pedido de impeachment do pessedista.
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Os psolistas Afrânio Boppré, Markito e Renato Geske alegam que as delações dos ex-executivos da Odebrecht Ambiental narrando supostas doações em caixa 2 vinculadas ao interesse no leilão da Casan são suficientes para motivar a abertura de uma comissão especial para julgar o afastamento de Colombo. Na prática, é apenas um gesto simbólico, uma forma de chamar atenção para o partido que tenta ocupar o espaço gerado pelo desgaste do PT junto ao eleitorado — inclusive o de esquerda.
Não existe vácuo na política, diz o clichê. Na primeira sessão após a divulgação do conteúdo das delações, nenhum deputado estadual foi à tribuna falar sobre o assunto. Nem os cinco petistas que são o rosto mais evidente da oposição a Colombo no parlamento estadual. A cautela é justificada pelas delações que colocam em xeque a cúpula nacional do partido — Lula à frente. Além disso, os delatores Fernando Reis Cunha e Paulo Welzel também citam suposto caixa 2 para uma integrante da bancada estadual do partido, Ana Paula Lima.
Sem integrantes na Assembleia, o PSOL viu a brecha e ocupou o espaço. O pedido deve ganhar o arquivo pelas mãos do presidente Silvio Dreveck (PP), sem maiores consequências. É mesmo frágil e precipitado abrir um processo de impeachment baseado em delações que ainda serão analisadas para possível abertura de inquérito. O pedido é legítimo apenas dentro do contexto situação-oposição a que a Assembleia se desacostumou desde que Colombo chegou ao Centro Administrativo.
No final do ano passado, aportou no parlamento estadual um pedido de impeachment muito mais robusto, assinado por dezenas de sindicatos e baseado na apuração de suposto crime de responsabilidade de Colombo na operação que destinou como doações ao Fundo Social cerca de R$ 1 milhão em impostos a serem pagos pela Celesc. O movimento gerou prejuízo a poderes e municípios e foi objeto de um projeto de lei para tentar regularizar a manobra.
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Na época, o pedido foi arquivado. Naquela vez, os parlamentares da oposição formal também foram tímidos e discretos sobre o assunto, deixando o protagonismo para as entidades sindicais. Nem uma singela tentativa de coletar assinaturas para CPI aconteceu, assim como agora. Às voltas com a necessidade de contrapor os delatores da Odebrecht e sepultar a questão judicial no Superior Tribunal de Justiça, Colombo tem em Santa Catarina a oposição que pediu a Deus.