A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Barra Velha, no Norte de Santa Catarina, é mais uma vez alvo de polêmica. Desta vez, uma menina de oito anos foi picada “acidentalmente” por uma agulha enquanto atravessava o corredor da unidade. A profissional, não identificada, segurava duas agulhas.

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Foi para a mesma UPA que Sofia Pereira, de 4 anos, foi levada três vezes com febre alta e fortes sintomas de dengue em março deste ano. Na terceira busca por socorro, a menina teve uma parada cardíaca e não resistiu. A mãe da pequena acusa a unidade de negligência.

Picada “acidental” com agulha

Segundo informações apuradas pelo g1SC, a menina de oito anos passava por um corredor, de mãos dadas com a mãe, quando sentiu a picada da agulha. Uma profissional da sala de medicação, segurando duas seringas, teria esbarrado na criança. Ela precisou receber um coquetel de medicamentos e fazer testes de doenças sexualmente transmissíveis após o caso, tratado pela prefeitura de Barra Velha como um “acidente”.

— Ela virou na hora que eu estava passando com minha filha. E, quando ela virou, não sei se ela se desequilibrou, eu sei que ela enfiou a agulha no ombro da minha filha. Ela falou ‘desculpa’, porque foi muito rápido e voltou pra sala de enfermagem — narra a mãe.

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A menina acompanhava a mãe, que estava na UPA para fazer um exame na noite de quarta-feira (17). O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) informou ao g1SC, nesta sexta-feira (19), que instaurou uma notícia de fato para apurar o caso. O órgão solicitou informações e providências à secretaria de Saúde do município, e o procedimento corre em sigilo.

A mãe acredita que a seringa era usada. Esta informação não foi confirmada pela prefeitura. Um boletim de ocorrência foi registrado e a filha dela já passou pelo exame de corpo delito.

— Eu estou aqui só rezando, pedindo para Deus que não aconteça nada com minha filha. Rezando e pedindo para Deus que passem logo esses dias, porque não é fácil para mim. Só de olhar para esse remédio dói em mim.

Ainda na unidade, a menina fez testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites. Todos deram resultados negativos. Ela também recebeu prescrição de um coquetel de medicamentos preventivos, que serão administrados por 28 dias.

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Veja fotos do laudo e do ferimento causado

O que diz a prefeitura

Em nota enviada à reportagem do NSC Total pela assessoria de comunicação, a prefeitura informou que “houve um acidente envolvendo uma menor de idade e um material perfurante no pronto atendimento, na quarta-feira (17). A paciente foi atendida e submetida ao protocolo determinado pelo Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, sendo prestado todo o atendimento necessário a menor e a família”.

Relembre o caso Sofia

A pequena Sofia teve os primeiros sintomas no dia 27 de março e foi levada à UPA da cidade onde morava com a família. Mesmo tendo recebido a pulseira de prioridade no atendimento, a unidade estava cheia de pacientes e a família demorou para receber a assistência. 

Foi a mãe quem pediu à enfermeira o termômetro para medir a temperatura da filha, que tinha 39,9ºC de febre. Neste momento, Sofia foi atendida e banhada com compressas de água gelada. A febre baixou cerca de sete horas após a chegada delas na unidade. Medicada, ela foi liberada. 

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Os médicos indicaram um teste de dengue. Porém, o exame não seria feito na hora. Era necessário aguardar que o serviço de saúde entrasse em contato. Dois dias depois, os sintomas pioraram. Sem condições financeiras para realizar o teste particular, a família contou com a ajuda de uma amiga da igreja, que se prontificou a levar Sofia na farmácia e fazer um teste rápido da dengue.

— Deu positivo muito forte, não deu nem segundos e já deu positivo — disse Ana Maria, mãe de Sofia, em meio às lágrimas. No local, a farmacêutica deu suplementos e vitaminas para Sofia. A mãe conta que, nos primeiros dias, o corpo da filha aceitou a medicação, mas depois, já não faziam mais efeito.

Com inchaço nos olhos, rosto e barriga, a pequena foi novamente levada à UPA, no dia 29. Lá, sem exames, o médico disse à Ana Maria, mãe da menina, que Sofia tinha gastroenterite bacteriana.

— Esse médico não pediu exame, não receitou remédio na veia, nada. Deu remédio comprimido, pomada — contou.

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De quinta para sexta-feira, a pequena começou a passar mal novamente. A amiga da família foi quem ajudou Ana a levar Sofia pela terceira vez à unidade. Lá, a menina já teve uma parada cardíaca e foi levada com urgência para o hospital em Jaraguá do Sul.

— O médico de Jaraguá falou que se ele [médico da UPA] tivesse pedido exame para ver que tipo de dengue ela estava, podia ter salvado ela. Fui para casa confiando nele.

Em Jaraguá do Sul, Sofia ficou internada durante o fim de semana. Ela permaneceu na Unidade de Tratamento Intensiva (UTI), teve registro de sangue no pulmão e, por conta da gravidade do quadro, teve duas paradas cardíacas e a morte confirmada no domingo, dia 31 de março.

Em 2 de abril, o então secretário de Saúde de Barra Velha, Rogério Pinheiro foi exonerado. O MPSC informou que iria investigar as denúncias de possíveis negligências no atendimento médico prestado à Sofia.

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A 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Barra Velha solicitou que a secretaria de Saúde da cidade enviasse cópias de toda documentação referente aos atendimentos prestados à criança com nome e cargo dos profissionais responsáveis pelos atendimentos.

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