No vaivém da Rua XV de Novembro, no Centro de Blumenau, as máscaras já não predominam, mas ainda se fazem presente mesmo sem exigência ao ar livre. A situação reflete bem a divisão de opiniões entre as pessoas sobre o momento ideal para dispensar o item também em ambientes fechados. Isso porque existe a expectativa de que sábado (12) o governo do Estado emita decreto tornando o uso facultativo, como adiantou a colunista Dagmara Spautz.
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Mas será o fim das máscaras no dia a dia?
Para Alfredo Lessa, de 80 anos, a resposta é sim, pelo menos para ele. O idoso diz que nunca foi a favor da obrigatoriedade e só usa o item onde é expressamente exigido. Se conseguir entrar num comércio sem, o senhor diz que arrisca porque já tomou três doses da vacina contra a Covid-19. Ele conta isso à reportagem do Santa enquanto compra uma Trimania de Ilmgarht Ender, de 67 anos.
Nascida em Rio do Sul e ex-moradora de Indaial – duas cidades que liberaram por conta própria o uso facultativo da máscara contrariando regra estadual – a vendedora lamenta não estar em um dos municípios atualmente. Assim como o cliente, nunca fez questão de usar a máscara, mas mesmo assim usa até na rua – onde não é mais necessário desde novembro do ano passado. O motivo, segundo ela, é respeito pelo próximo.
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Mesmo assim, diz que é chegada a hora de dispensar o uso e justifica:
— Liberou baile, liberou bar. Todo mundo fica sem nesses lugares. Então tira logo de uma vez.
Mas tem quem discorde de Ilmgarht. Acácio Garcia, de 58 anos, estava sentando na Rua XV de Novembro quando a equipe de reportagem se aproximou e de imediato ele colocou a máscara. O morador conta não se sentir seguro ao ficar em locais com outras pessoas sem proteção e acredita não ter sido infectado pelo coronavírus até hoje por causa da máscara e do álcool gel. Ele não tem nos planos baixar a guarda mesmo que o governo autorize.
— Mesmo no ônibus eu vou continuar usando — afirma.
Outro que não pensa em relaxar as medidas de cuidado é Paulo Roberto, 30. Ele sentiu na pele os efeitos da Covid-19, também enfrentou uma pneumonia, e diz que esse não é o momento ideal para tornar facultativo o uso da máscara. A fala dele ocorre um dia após a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmar uma nova variante que combina as cepas Ômicron e Delta.
— Não é o momento, precisa esperar até que cesse um pouco mais. Eu estou sempre com a máscara e vou avaliar quando tirar ou não — garante.

É o momento de liberação total?
Mesmo sem aval do governo estadual, ao menos 19 cidades de Santa Catarina já dispensaram a obrigatoriedade do uso de máscara contra a Covid-19 em locais fechados. Destas, seis são do Vale do Itajaí. Blumenau segue o decreto do Estado e mantém a obrigatoriedade.
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O infectologista José Amaral Elias vê com preocupação essa possível liberação. Na linha de frente do combate à pandemia no Hospital Oase, referência para casos de Covid-19 no Médio Vale do Itajaí, ele diz que a queda no número de casos graves da doença e o avanço da vacinação dão ao Estado um panorama favorável para tornar o uso de máscara facultativo.
Mas o especialista lembra que o aparente cenário de calmaria já foi visto em outros momentos e subitamente o quadro piorou levando milhares de pessoas às unidades de saúde. Se mostra preocupado também com a baixa cobertura vacinal de crianças, que refletiu no aumento de internações pediátricas no início deste ano.
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— O que nos deixa preocupados é que tivemos um quadro quase semelhante a esse de agora vivido em dezembro, e em seguida teve a entrada da Ômicron que mudou tudo rapidamente. Eu esperaria um pouco mais, ainda tenho restrições quanto a liberar em ambientes fechados — afirma Elias.
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Outro aspecto a ser observado é o recente anúncio da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre uma nova variante que combina as cepas Ômicron e Delta. A primeira é considera mais transmissível. A segunda, mais agressiva. De acordo com a diretora da entidade, Maria Van Kerkhove, ainda não há evidências de que a Deltacron, como vem sendo chamada informalmente, seja mais grave do que a Delta ou a Ômicron separadamente.
Neste cenário de oscilação, segundo o médico, é possível que a comunidade precisa enfrentar momentos de liberação e de restrição, conforme a evolução da doença.